Há exatas três décadas, com o "nascimento" de "Madalena do Jucu", Martinho da Vila cantou o amor pela cultura capixaba e, de quebra, divulgou a beleza do nosso congo para o país. A faixa - e toda a força de sua oralidade - serve como ponto de partida para o livro 30 anos da Gravação de Madalena do Jucu: Perspectivas Históricas e Novos Alcances, da jornalista, mestre em Humanidades, Culturas e Artes, além de nora do sambista, Déborah Sathler.
A publicação terá uma festa de lançamento na próxima sexta-feira (20), a partir das 19h, na livraria Trapiche Café, da Editora Cousa. Depois, a turma segue para o bar Casa de Bamba, onde haverá um espetáculo com Tunico da Vila, Amanda Menezes e Bruna Kethily, com um show temático de samba.
A obra, de acordo com Déborah, pode ser vista como uma espécie de resgate de memória da cultura do congo, do povo negro capixaba e da história musical do Brasil, tendo como base os efeitos que o clássico de Martinho da Vila tiveram para o nosso folclore.
"A ideia de escrever o material partiu da necessidade em dar continuidade aos meus estudos em história oral. Realizei escutas humanizadas, por meio de rodas de conversas, com conguistas, mestres e matriarcas da cultura do congo", explica a autora, que é esposa do sambista Tunico da Vila, filho do autor de "Madalena do Jucu".
Sathler afirma que é impossível pesquisar o congo sem se confundir (no bom sentido, é claro) com a história de pessoas que vivem o ritmo. "Entrevistei as famílias Vieira (Tambor de Jacarenema, da Barra do Jucu), Santos (Mestre Honório, da Barra do Jucu) e Sales (Amores da Lua, de Santa Marta, e Panela de Barro, de Goiabeiras), que vêm se dedicando à preservação do patrimônio cultural e acervo em suas próprias residências, que, quase sempre, são as sedes e oficinas de instrumentos das bandas", adianta.
Para a escritora, 30 anos..." pretende alçar perspectivas históricas e novos alcances nos reflexos culturais pós-gravação de "Madalena do Jucu". "Mas creio que o mais importante foi o aparato narrativo que ele forneceu. São facetas humanas-artísticas interessantíssimas e, ao mesmo tempo, alertas sociais graves em nossa cultura genuína. Estamos falando de desejos, sonhos, ideias, indagações, tudo o que envolve comunidades tradicionais e negociações culturais", descreve.
Esse mosaico de vozes acabou desnudando preconceitos arraigados na sociedade sobre o conguista. "Nas pesquisas, confirmei relatos de intolerância com as comunidades musicais do congo. Pode ter certeza que o livro é um marco zero para outros projetos que serão desencadeados", adianta.
A fim de resgatar a cultura de raiz do Espírito Santo para os nossos jovens, 30 anos da Gravação de Madalena do Jucu" teve 1,3 mil exemplares distribuídos para alunos das escolas estaduais e municipais de Vitória e do Ifes, em Cariacica. "Nosso objetivo é estimular a leitura dos estudantes e professores, em cumprimento a lei 10.639 que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira. Somente em algumas escolas da Barra do Jucu, em Vila Velha, e nos bairros Santa Marta e Goiabeiras, em Vitória, encontrei ensino do congo. É uma realidade que precisa ser modificada", aponta.
"Meu sonho como uma 'labutadora da história oral', como disse Martinho da Vila nesse livro, é também ver professores formados para além do saber acadêmico, em que eles possam ter a rica oportunidade da experiência cultural", explana a autora, afirmando que a obra também foi distribuída na Ufes e no Ministério Público do Espírito Santo. "São pontos de núcleos de atuação com o povo negro. É a contribuição que posso dar por tudo o que encontrei e ouvi no campo de pesquisa junto à comunidade do congo capixaba". complementa.
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