"Eu vou te contar uma história e você tira dela o que achar que deve, tá?", fala Cariê Lindenberg, ao começar a conversa com a reportagem. Em seguida, narra um dos episódios que destrincha em detalhes em "Vou Te Contar", seu novo livro que foi distribuído nesta quarta-feira (11) a amigos e funcionários da Rede Gazeta, em Vitória, e será lançado oficialmente no próximo dia 3 de outubro. Prestes a completar 84 anos - é na próxima sexta (13) -, o presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta quis compilar, em 350 páginas que tem a obra, memórias que possui desde a infância até os momentos atuais, passando pelos (bons) percalços de qualquer adolescente e jovem-adulto boêmio que viveu a era de ouro da arte no Brasil e no mundo: "Já morei em Paris, na França. Uns quatro ou cinco meses, eu acho. Isso está bem descrito no livro, também".
Mas de volta da Europa - isso em alguns segundos, pulando de uma memória para outra - ele não se esquiva de comentar dos feitos na bossa nova, gênero do qual é amante assumido e verdadeiro entusiasta. O fato é que não são muito bem essas histórias mais famosas e conhecidas nas rodas da sociedade que o nosso Cariê quis expor desta vez. Muitas das passagens da publicação são inéditas e narradas do jeito mais peculiar que o autor possui. "Por várias vezes falei: 'Tem que ser assim, senão não sou eu (risos)", faz questão de frisar, sobre a forma como decidiu contar esses casos.
A tal história à que ele se referiu no início desta matéria, aliás, fala da iniciação dele no mundo profissional. "Não que eu não me forçasse a alguma coisa. Mas até os meus 28, 29 anos, eu praticamente vivia de mesada do meu pai. Mas eu não encontrava nada. Fiz cursinho, me tornei bacharel em Direito pela PUC-Rio em 1958 mas jamais pensei em ser advogado. Talvez um assessor jurídico, mas ir brigar em um Tribunal nunca foi do meu feitio", explica. À época, seu pai, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, exercia um de seus dois mandatos como governador do Espírito Santo.
Com o diploma na mão, voltou à Vitória e por pura casualidade, como ele mesmo diz, a vida o levou à Rede Gazeta: "Que foi onde me encontrei e senti o prazer de trabalhar com absoluta clareza". De início, Cariê foi convidado pelo então diretor-presidente da firma, Eugênio Pacheco de Queiroz, a ser diretor comercial do empreendimento. "Mas eu não tinha vocação para vender nada, acredita? Não vendo nem rifa de apoio filantrópico (risos). Então eu sugeri ao Eugênio que convidasse Hélio Dorea, que era o colunista social, e ele foi um grande gestor na ocasião. Foi quem salvou a minha vida", lembra.
Com o sucesso vindo na vida profissional dentro da empresa da família, Cariê decidiu deixar todo o outro de lado - pelo menos por um tempo. Afinal, anos depois ele acabou assumindo a Fazenda Três Marias, de propriedade de sua família, e ao longo do tempo foi aprendendo a se desdobrar em mais de uma função. Mas, naquela ocasião, o empresário montara uma empresa de construção civil com outros quatro amigos.
E foi só questão de tempo para Carlos Lindernberg (este é o pai) dividir a conta da compra da Rede Gazeta com alguns outros colegas do Partido Social Democrático (PSD), sigla da qual foi um dos fundadores. "Papai fez essa 'vaquinha' e, depois, foi comprando dos demais amigos. Tinha que ter aquilo para pegar A Gazeta, que era um jornal porta-voz dos desejos da UDN, que se opunha ao partido ao qual pertencia papai. A Gazeta até 1966, 1967 foi muito vinculado ao partido. Só depois desse período é que nós alcançamos a plena liberdade política e ideológica", comemora.
Além de falar bastante sobre essa aquisição, no livro também está todo o perrengue que foi conseguir fundar a TV Gazeta no Espírito Santo como afiliada da Rede Globo, bem como a dificuldade de se conseguir êxito nas reuniões com os Marinho. "Falo sobre todos esses pormenores de detalhes no livro", reitera.
Se não bastasse escrever e compartilhar com todos as histórias que fazem hoje Cariê ser figura prestigiada por várias personalidades Espírito Santo afora, ele ainda dá a dica para quem vai começar a leitura de "Vou Te Contar": "Você começa pela contra-capa, que tem uma frase que eu gosto muito. Depois vá para o prefácio, escrito pela jornalista Luciana Canuto, que teve seu primeiro emprego na reportagem de Política de A Gazeta. Em seguida é só continuar. São as minhas histórias", finaliza.
SERVIÇO
"Vou te Contar"
Cariê Lindenberg
Ed. do autor. 350 páginas
À venda a partir de outubro, na Amazon.com
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