Conhecido por sua inteligência, senso crítico e por seu amor às artes, especialmente a música e a literatura, Carlos Lindenberg Filho, o Cariê, sempre mostrou franqueza, humanidade e paixão em cada entrevista concedida, livro escrito ou crônica publicada. Atributos de quem, com a sabedoria do passar dos anos, descobriu que a simplicidade é a melhor forma de viver a vida.
Morto nesta terça-feira (6), aos 85 anos, por conta de problemas relacionados a uma pneumonia, o presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta nos deixou algumas frases de impacto, sejam relacionados à política, à cultura ou mesmo ao jornalismo, sua grande paixão.
Boêmio e apaixonado pela música, Cariê falou sobre o seu "caso de amor" com a Bossa Nova na crônica "Ou Para Desmistificar", publicada no livro "Vitória de Todos os Ritmos" (2000), que reúne textos de diversos artistas e pensadores sobre a música e a Capital capixaba.
"Talvez o fato de ter participado ativamente como ouvinte assíduo e atento observador do movimento da Bossa Nova, e me tornado conhecido de seus papas e papisas, tenha também concorrido para essa história", ressaltou, com a intimidade que lhe era permitida.
No mesmo texto, o escritor, sempre usando de muita franqueza (uma de suas características mais marcantes), expressou uma polêmica opinião sobre "uns certos rapazes" de Liverpool.
Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho era autor de obras que versavam sobre o cotidiano. Sua literatura expressava alguns sentimentos muito particulares. Demonstrou, por exemplo, todo o amor pelo Rio de Janeiro - onde tinha uma relação íntima com vários artistas -, em obras como "Memórias Cariocas ou Outras Memórias".
O lado crítico, que revelava um arguto observador da sociedade (e da democracia) brasileira, também foi um dos traços marcantes de sua personalidade. Na crônica "Liberdade, Imprensa e Censura", publicada no livro "Eu e a Sorte" (2001), Cariê traçou um painel reflexivo sobre o "poder" do jornalismo como instrumento social.
Na mesma obra, também expressou preocupação sobre a ética da profissão.
O presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta também ficou conhecido por textos analíticos - principalmente sobre as áreas de política e de economia - escritos para a coluna "Opinão", publicadas pelo jornal "A Gazeta".
Na crônica "Não se pode Praticar o Mal, sem Fazer o Bem", publicada em 23 de outubro de 2015, época em que o Brasil se preparava para o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Cariê expressava sua preocupação com a falta de novas lideranças políticas no país.
"O Brasil ainda não conseguiu estimular e criar lideranças de peso, tipo candidatos a futuros estadistas parar enovar os raros existentes já com validade vencida."
Sobre a (sempre) frágil democracia tupiniquim, o autor escreveu a crônica "Restabelecer Limites da Democracia Brasileira", publicada em A Gazeta, em 9 de junho de 2014.
Com "Quem nasceu primeiro?", crônica publicada em A Gazeta, em 19 de novembro de 2014, Carlos trazia um texto que evocava questões éticas e morais relacionadas à propina. Em foco, os escândalos da Petrobrás na década passada, fatos que levaram à construção da operação Laja Jato.
"Tenho convicção de que não devo mais arriscar qualquer opinião que possa comprometer o meu passado. Contudo, estou certo de que posso reivindicar, plenamente, o consagrado direito de levantar a dúvida", dizia, ao questionar quem iniciou a prática corrente da propina: o corruptor ou o corrupto?
Cariê também fez questão de escrever (várias vezes) sobre como a ditadura militar influenciou no processo de construção da notícia no país. "Tinha o quadro cheio das censuras que nos mandavam. Então, o pessoal ia lá olhar o que estava censurado. E assim ficou claro para todo mundo que nós estávamos sendo censurados. Até o dom Hélder Câmara entrou na parte dos censurados", confessou, em entrevista publicada para o jornal A Gazeta, em 01 de setembro de 2013.
Viciado (no bom sentido, é claro!) pela profissão de jornalista, Carlos sempre entendeu as mudanças necessárias no processo de transformação da notícia. Ao ser questionado sobre o poder da internet e das redes sociais disseminados na sociedade, em entrevista publicada em A Gazeta, em 9 de setembro de 2016, foi objetivo: "Contra a inteligência e contra a modernidade da ciência, é impossível você lutar", enfatizou.
Sobre deixar um legado em relação à profissão de jornalista, em entrevista publicada em "A Gazeta", em 9 de setembro de 2016, Cariê, como sempre, foi discreto.
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