Em tempos de Covid-19, o setor de eventos - um dos mais afetados da cadeia produtiva cultural - precisou se superar (ou seria reinventar?) para continuar mantendo suas atividades. Cerca de um ano e meio após o início da pandemia, porém, vemos uma luz no fim do túnel. A crise sanitária no ES começa a dar sinais de melhora, a ponto do Mapa de Gestão de Risco do Governo Estadual, divulgado semanalmente, conter somente quatro municípios no chamado risco moderado para a doença, nenhum deles pertencentes à Região Metropolitana.
Com a boa perspectiva do quadro pandêmico, o Governo do Estado começou a abrandar as restrições dos eventos culturais. Casas de espetáculos, cerimoniais e restaurantes, por exemplo, podem programar shows, desde que respeitem o limite máximo de até 300 pessoas, mantendo as regras de distanciamento entre as mesas - que é de 2 metros - e a capacidade de ocupação do espaço (50% da ocupação permitida no Alvará do Corpo de Bombeiros). Um "mantra" não pode ser esquecido: a obrigatoriedade do uso de máscaras e de álcool em gel, além da proibição de pistas de dança.
Com esse panorama, espetáculos e eventos começam a retornar à cena cultural do Espírito Santo, mesmo que timidamente, no que podemos chamar de "tempos de retomada". Basta dar uma zapeada nas redes sociais, para ver casas anunciando a volta de apresentações musicais, especialmente nos fins de semana. De acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Evento no Espírito Santo (Abrape-ES), o momento é de contabilizar prejuízos e empreender.
Um dos exemplos é o Spettus Club, de Jacaraípe, na Serra. A casa, que funcionava como cerimonial, está trabalhando em formato de restaurante, como quando abriu as portas há cinco anos. No último fim de semana (sábado, dia 7), deu mais um passo, programando a primeira apresentação musical, um show de pagode com o grupo carioca "Nosso Sentimento".
"Para reabrir, fizemos toda uma adaptação para voltar a funcionar como restaurante, especialmente a cozinha, além de reformular o espaço externo. Ampliamos a área para 2,3 mil metros quadrados e mantivemos o distanciamento das mesas", informou Danilo Dornellas, proprietário do estabelecimento.
Lamentando as perdas causadas pelo fechamento de um ano e três meses, por conta da pandemia, Danilo afirma que reconstrução é a palavra do momento. "Demitimos 30 funcionários e agora tentamos recontratá-los. No aperto da crise, trabalhamos com delivery de bebidas para tentar pagar as contas", relembrou o empresário, animado com a nova fase.
"Sempre mantendo as normas sanitárias do Governo do Estado, estamos montando uma agenda de shows. Inicialmente, trabalharemos com música ao vivo apenas aos sábados", adianta. Na agenda para setembro, apresentações do Imagina Samba e da dupla sertaneja Cacio e Marcos.
Point cult no Centro de Vitória, o Casa de Bamba também está se adaptando para vencer a crise financeira imposta pela Covid-19. Saulo Santos, proprietário do espaço, afirma que a ideia é reestruturar toda a agenda para continuar seguindo com as atividades.
"Apostamos em cantores e bandas menores. Nosso espaço é pequeno e agora, com o distanciamento das mesas, ficará menor. O uso de máscaras é obrigatório para os frequentadores. Ninguém mais pode ficar de pé e álcool em gel está sendo disponibilizado. A casa recebia cerca de 200 pessoas por dia, hoje, são no máximo 70 frequentadores em seis mesas", enumera, adiantando que a tradicional feijoada da Casa de Bamba, que não acontece há cerca de um ano e meio, deve voltar nas próximas semanas.
"Nosso público é consciente em relação à pandemia. Os que voltaram a frequentar a casa, em sua maioria, tomaram as duas doses da vacina. Financeiramente, é a hora de tentar recuperar os prejuízos. Contávamos com 15 funcionários e agora, com apenas dois. Estamos contratando por dias trabalhados. Eu mesmo não tenho salário. Queremos trabalhar para pagar as contas e os empréstimos que fizemos para manter a casa no tempo em que ficamos fechados. Reconstrução é a palavra", adianta.
Diretor regional da Associação Brasileira dos Promotores de Evento no Espírito Santo (Abrape-ES), Pablo Pacheco enfatiza que os estabelecimentos que promovem eventos sociais e culturais estão cumprindo todas as regras exigidas pelo Governo Estadual.
"Tentamos retomar parte do setor desde meados de maio, após o fim da quarentena. Muitas casas tiveram que se readaptar, funcionando no formato de restaurante, em que não há restrição de horário para cidades de risco baixo para a Covid-19. Houve investimento na compra de maquinários, utensílios de cozinha, móveis e a recontratação de funcionários", explica.
Pacheco afirma que o setor está passando por uma espécie de "apagão de mão de obra". "Mais de dez mil empregos foram perdidos e essas pessoas precisaram ir atrás de outras formas de manter o sustento. Falta gente especializada em montagem de som e iluminação, por exemplo. Isso vai dificultar a retomada no período pós-pandemia", adianta.
O dirigente ainda não consegue vislumbrar como será o futuro do setor - que viu fechar mais de mil empresas no Estado durante a crise, segundo dados da Abrape-ES, mas ressalta os caminhos que devem ser seguidos.
"Precisamos de um planejamento concreto de retomada gradual por parte do Governo do Estado. Estamos com a vacinação acelerada e queda no número de casos e de óbitos. Temos a esperança de chegar ao final do terceiro semestre com toda a população adulta vacinada, pelo menos em primeira dose, para que a flexibilização seja maior no quarto trimestre, especialmente no período do réveillon. É interessante investir na obrigatoriedade de vacinação para participar dos eventos, como está acontecendo em alguns países da Europa. Isso vai incentivar o público jovem a se vacinar. Nosso desejo é ter um carnaval mais livre de restrições, para poder reconstruir o setor", complementa.
No setor de eventos, os índices relacionados ao novo coronavírus no Estado são essenciais para ditar o ritmo de reabertura das atividades. Nesta segunda-feira (9), o Painel de Covid-19, atualizado diariamente pela Secretaria Estadual de Saúde, trazia índices satisfatórios e, por que não, esperançosos, ao registrar uma média de 395 casos diários nos últimos 14 dias, uma retração de 37,52% no período, e uma média diária de óbitos de 7,93, nos mesmos 14 dias, também com retração de 20,14% no período.
A vacinação, necessária para a contenção do avanço da doença e a reabertura de eventos sociais e culturais, também está evoluindo. Até segunda (9), o Estado havia vacinado cerca de 51,35% da população com a primeira dose e 23,05% com as duas doses da vacina, o que chamamos imunização completa. Ao todo, o Espírito Santo aplicou 3.023.573 de doses, estando entre os estados do país que mais vacinaram percentualmente.
Com o Mapa de Gestão de Risco trazendo o ES praticamente completo em risco baixo, é importante ressaltar o que está permitido para o setor de eventos, além de shows presenciais.
De acordo com informações da Secretaria Estadual de Turismo, repassadas à reportagem nesta segunda (9), para eventos sociais (casamentos, aniversários e formaturas), por exemplo, é permitido até 600 pessoas, não ultrapassando a capacidade de 50% (cinquenta por cento) de ocupação do local determinada no Alvará de Funcionamento expedido pelo Corpo de Bombeiros. Além disso, o organizador deve exigir a apresentação do comprovante de vacinação e/ou teste de Covid realizado até 48h de antecedência do evento de todos os convidados.
Em entrevista recente ao portal A Gazeta, a secretária de Turismo do Estado, Lenise Loureiro, explicou que os eventos que podem receber até 600 participantes são aqueles encomendados, onde há uma lista de convidados e não os que têm venda livre de ingressos. Essa lista, inclusive, será cobrada para que haja a liberação da festa quando o número de convidados for maior a 300.
Lenise, na mesma entrevista, deixava a crer que as mudanças serviram para apoiar o setor, fortemente impactado pela pandemia do novo coronavírus.
"Eles vêm solicitando a revisão (das regras) no sentido de ter um maior número de presentes. Demos esse passo e dialogamos com eles para aperfeiçoar a ideia, observar se de fato era factível e se todos se comprometeriam em cobrar testagem ou vacina no acesso ao estabelecimento na hora do evento", afirmou na ocasião.
Eventos corporativos também estão permitidos, desde que respeitem as regras de distanciamento, uso de máscara e disponibilidade de higienização das mãos. Boates, por enquanto, ainda estão proibidas de funcionar.
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