> >
Com ampla pesquisa, livro resgata 40 discos clássicos da música capixaba

Com ampla pesquisa, livro resgata 40 discos clássicos da música capixaba

Lançamento de "Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo", de José Roberto Santos Neves, acontece nesta terça-feira (5), em Vila Velha

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 17:58

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
A obra do pianista Gilberto Garcia, que, na década de 1960, chegou a se apresentar com Maysa e Maria Bethânia, será resgatada no livro
A obra do pianista Gilberto Garcia, que, na década de 1960, chegou a se apresentar com Maysa e Maria Bethânia, será resgatada no livro "Os Sons da Memória". (Livro Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

Dos acordes de Maurício de Oliveira, aos dedilhados de Hélio Mendes, passando pelo carisma de Maria Cibeli (a Rainha do Rádio Capixaba), sem esquecer a imponência da geração anos 1980, encabeçada por Carlos Bona, Carlos Papel e Lula D’Vitória, a força popular de Manimal e Casaca, nos anos 1990, chegando até a criatividade da geração pós-2000, com os músicos Fabiano AraújoSaulo Simonassi

Além do talento inquestionável das "feras" citadas, os artistas, entre outros nomes de igual importância no cenário local, são os protagonistas do livro "Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo", assinado pelo crítico musical, jornalista, produtor cultural e escritor José Roberto Santos Neves.

O lançamento da publicação acontece nesta terça-feira (5), a partir das 19h, no Auditório do Titanic, em Vila Velha.  Com participação musical de Carlos Bona e Elaine Vieira, o evento também terá transmissão pelo canal do YouTube da Editora Cândida.

Com seu peculiar esmero e precisão, José Roberto, como o título da obra sugere, elenca 40 álbuns essenciais para a indústria fonográfica do Espírito Santo. A seleção de discos compreende LPs e CDs lançados desde a década de 1950 até os dias atuais, criando um mosaico de fotos, relatos, entrevistas e registros históricos que servem para resgatar (e preservar) nomes como o de Carlos Cruz, Raul Sampaio, Trio Caiçara, Aprígio Lyrio, Afonso Abreu, Ester Mazzi e Sérgio Benevenuto, entre tantos outros pioneiros da cena cultural.

"Tentei selecionar obras relevantes entre vários estilos, como samba canção, bolero, música regional, choro, pop-rock, jazz, instrumental e hip hop. Minha preocupação foi lançar luz sobre nomes que podem correr o risco de cair em esquecimento. Hoje, muito desse material é de difícil acesso, alguns estão fora de catálogo e ainda em qualidade analógica. É uma parte essencial da nossa música que não pode se perder", acredita Santos Neves, que, em três anos de trabalho, teve como base de pesquisa o acervo de discos de vinil do pai, João Luiz dos Santos Neves, seu próprio catálogo de CDs e LPs, um material conseguido em sebos e documentos disponíveis no Arquivo Público Estadual.

"Resgato a obra de nomes como Gilberto Garcia, um pianista da década de 1960 que chegou a se apresentar ao lado de Maysa e Maria Bethânia, mas que só lançou um CD em 1995; um disco lançado em 1954 pelo Trio Caiçara, um dos conjuntos vocais mais antigos do Estado; além do raro 'Rainha do Rádio', LP lançado em 1988 por Maria Cibeli, que, longe da rivalidade entre Marlene e Emilinha Borba, era a única Rainha do Rádio Capixaba", enumera José Roberto.

Obra literária resgata o trabalho fonográfico da Rainha do Rádio do Espírito Santo, Maria Cibeli
Obra literária resgata o trabalho fonográfico da Rainha do Rádio do Espírito Santo, Maria Cibeli. (Livro Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo)

Entre estimadas obras-primas da discografia capixaba, algumas contam com destaque histórico. Como exemplo, temos o clássico "Brasil: Música na História - 50 Peças Progressivas para Piano", do maestro Carlos Cruz e executado ao piano por Manolo Cabral, lançado em 1985, ou mesmo "Tributo A Zumbi - De Preto Pra Preto", obra de Renegrado Jorge que chegou ao mercado em 1997 trazendo nomes importantes do hip hop capixaba, como Suspeitos na Mira e Negritude Ativa, um disco que teve uma forte repercussão social na época.

"O mercado local viveu de ciclos. Nos anos 1980, por exemplo, o Departamento Estadual de Cultura, sob gerência de Glecy Coutinho, implementou o projeto 'Série Fonográfica', que contou com organização de Afonso Abreu. Muito da música de 1950 e 1960 foi resgatada por conta disso", elogia o jornalista, citando também como destaques a democratização, com a chegada dos CD e a implementação de leis de incentivo cultural, como a Rubem Braga, nos anos 1990, e os programas regionais difundidos pela Rádio Espírito Santo a partir dos anos 1940, em que nomes como Hélio Mendes e Maurício de Oliveira começaram a se destacar. 

IMPRENSA

"Os Sons da Memória" ainda conta com resgates jornalísticos essenciais para conhecermos a história fonográfica do ES, ao usar obras como "Música Popular Capixaba", do jornalista Osmar Silva (que atuou em "A Gazeta" e "A Tribuna"), e "Carnaval - Cem Anos”, de Anselmo Gonçalves, como base de pesquisa.

"Osmar foi o primeiro jornalista capixaba a catalogar apresentações na noite local, em 1970, no Teatro Carlos Gomes. Em sua obra, chegou a documentar registros musicais na imprensa no final do século XIX. O material deu origem a um livro póstumo, publicado pelo Governo do Estado em 1986. 'Carnaval', por sua vez, é um livro ainda mais raro. Fora de circulação, foi lançado em 1985, para resgatar os 100 anos da folia capixaba, trazendo até o primeiro registro carnavalesco no Espírito Santo, feito pelo jornal Cachoeirano, de Cachoeiro de Itapemirim. São obras que merecem uma reedição", aponta.

Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo
Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo. (Daniella Spadeto)

Preocupado com o futuro - e com a história da música local -,   José Roberto Santos Neves defende a digitalização desse material fonográfico raro, além da criação de uma espécie de Museu da Imagem e do Som em Vitória. "Poderia ser aberto um espaço no Palácio Sônia Cabral, um local onde o público conheceria fotos históricas, instrumentos antigos, ouviria discos e teria acesso a revistas, jornais e cartazes que ressaltam a nossa riqueza e diversidade musical".

O jornalista ainda ressalta que a vindoura Midiateca Capixaba, espaço na web que contará com parte da produção cultural do Estado digitalizada, a ser lançado pela Secult/ES, poderia absorver parte da produção musical capixaba de difícil acesso.

"Esbarraríamos em algumas questões, como direitos autorais, por exemplo, mas muito desse material foi concebido com o apoio das leis de incentivo cultural. Tivemos discos produzidos pela Ufes e até pela Codesa  (Companhia Docas do Espírito Santo). Acredito que, para o Governo do ES, seria mais fácil ter o acesso às famílias de alguns artistas e conseguir essa liberação".

"Os Sons da Memória - Uma Leitura Crítica de 40 Discos que marcaram época na Música do Espírito Santo"

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais