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Como publicar um livro? Escritores relatam de que modo lançaram suas obras

Como publicar um livro? Escritores relatam de que modo lançaram suas obras

De editoras grandes à autopublicação, confira algumas formas de levar sua obra ao público

Publicado em 13 de março de 2021 às 15:00- Atualizado há 4 anos

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Qual é a melhor forma de publicar o seu livro? Entenda as possibilidades.
=Qual é a melhor forma de publicar o seu livro? Entenda as possibilidades. (Montagem Canva)

"Ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro...". Quem nunca ouviu essas metas que pautam a vida de algumas pessoas no mundo? A última frase é um sonho de muita gente, que empaca num ponto: mesmo escrevendo a obra, essa galera não sabe como publicá-la.

O Divirta-se foi atrás de alguns escritores cujos livros já circulam nas prateleiras do mercado. Eles mostraram que existem algumas opções de publicação, que vão desde a grande editora até a autopublicação. Cada um desses modos de lançamento funciona de forma diferenciada. Assim, mostramos abaixo mais detalhes.

EDITORAS GRANDES

Começamos pela maneira amplamente conhecida de publicação, as editoras grandes. Empresas como Rocco, Intrínseca, Autêntica, Companhia das Letras e outras são editoras que trabalham da maneira tradicional de lançar livros. Em seu sistema, os originais são recebidos e passam por uma curadoria para serem selecionados. Poucas obras são escolhidas, isso porque essas editoras arcam com todo o custo da produção de uma obra, da edição à divulgação, portanto, trabalham tendo em vista o lucro que aquele livro irá gerar, a partir de uma pesquisa de mercado. Além disso, cada editora grande apresenta o seu nicho, que é composto por gênero em que se destaca, o que é levado em consideração na hora da seleção de uma obra.

O escritor carioca radicado no Espírito Santo Câe Guimarães ganhou o “Prêmio Sesc de Literatura”, em 2020. Tendo sido o vencedor na categoria romance, ele teve a oportunidade de publicar a obra “Encontro Você no Oitavo Round” pela editora Record, uma das de maior destaque nacional. Para o autor, que relata já ter lançado obras de diversas formas anteriormente, como em editoras independentes e através de editais de cultura, a experiência foi positiva.

“Todo o processo foi muito cuidadoso, muito carinhoso da parte deles. Desde os primeiros momentos, das provas de revisão, nós fizemos quatro ou cinco revisões até ter certeza de que estava muito bem revisado”, pontua Guimarães, detalhando que o cuidado das pequenas editoras é o mesmo, no entanto, as grandes oferecem estrutura maior.

Escritor Caê Guimarães
Escritor Caê Guimarães. (Acervo pessoal)

“É uma porta de que se abre, né? Levando em consideração os baixos índices de leitura no Brasil de hoje, a crise econômica que atinge tanto o bolso do leitor quanto as próprias editoras, que estão muito cuidadosas em investir em autores novos”, acrescenta Caê sobre ter sido publicado em uma editora grande, embora frise que não deixaria de publicar por outros meios, caso não tivesse essa oportunidade que surgiu com o Prêmio Sesc. 

Nesse modelo de publicação, para o autor que é selecionado pela editora o lucro é uma porcentagem das vendas do livro, que será definida em contrato. Além disso, no acordo é firmado por quanto tempo a empresa terá direito à reedição da obra.

Para os interessados em publicar em uma editora grande, é necessário ficar atento à abertura de período de envio de originais, que, a depender da empresa, pode ser via e-mail ou através de entrega presencial. Algumas delas recebem títulos para avaliação durante todo o ano, mas, como a quantidade recebida tende a ser grande, costumam demorar para dar um retorno aos autores.

EDITORAS INDEPENDENTES

Já em uma editora independente, o modelo de negócio é flutuante, como explica o dono da Cousa, Saulo Ribeiro. O também escritor conta que as publicações são feitas tanto no modelo tradicional, aonde a editora arca com todo o custo do livro, quanto de maneira em que o autor custeia parte da produção.

“Os livros que eu sei que eu tenho mercado, que eu sei que vou vender cem exemplares, cento e cinquenta, esses a editora investe e  paga ele inteiro. Os livros que eu tenho pouco giro, que eu sei que vou vender só dez, vinte, trinta exemplares, a gente pede ao autor para fazer uma compra antecipada de alguns exemplares com desconto”, detalha Ribeiro.

As tiragens de obras publicadas desta maneira costumam ser menores em relação às editoras grandes, sendo de cerca de cem exemplares. Esse volume de impressão possibilita economicamente que a empresa possa investir em autores novos, que venham a vender menos que um mais conhecido. No Espírito Santo, existem outras editoras que investem nos escritores locais e novos nas publicações, como é o caso da Maré, a Pedregulho e a Cândida.

Vale destacar que a curadoria dos livros enviados para avaliação da editora independente existe a todo momento. Porém, se uma obra não se encaixa no perfil da mesma, ela não será aprovada para publicação.

“Para mim, editora independente hoje é aquela que você consegue ver no esforço de difusão o suor da editora. Por exemplo, ela busca estar nos eventos com banca, constrói esse tipo de espaço, na banca dela geralmente tem o editor ou editora ali perto, conversando com as pessoas. A relação do editor, da editora, com o leitor, é mais direta, é mais perto”, especifica Saulo.

Aluízio Sueth publicou recentemente a obra “Punho e a Poética no Corpo” junto à Cousa. O livro de poesia foi o primeiro lançado pelo também músico e criminalista. Para o escritor, que teve sua obra selecionada pela editora através de edital aberto em 2019, as editoras independentes têm o ponto positivo de o autor estar bastante presente nas decisões: “As vantagens são que você fica muito próximo da linha de produção, de acompanhar todo o processo e o livro ficar da maneira como você pensou. Tenho outros colegas escritores que já publicaram com editoras maiores e esse processo ficou um pouco comprometido”.

"Eu já tinha muitas coisas guardadas, mas esse foi o primeiro texto que eu achei que tinha potência para ganhar força de virar uma produção literária", conta o autor sobre a que lhe motivou a publicar o texto de 2016.  Hoje o escritor está se dedicando a escrever uma nova obra de poesia. 

Escritor, músico e criminalista Aluízio Sueth
Escritor, músico e criminalista Aluízio Sueth. (Mariana Antônio)

Nesse modelo de publicação, o autor ganhar seu lucro em porcentagem em cima das vendas ou das tiragens das obras. Saulo explica que o valor costuma ser de 10%. Para publicar, o esquema é o mesmo das editoras grandes, os escritores devem ficar atentos aos períodos de envio de originais e buscarem saber com a editora almejada se ela recebe originais o ano inteiro.

AUTOPUBLICAÇÃO

Na publicação sem uma editora grande ou independente, o escritor arca com todas as etapas de produção do livro: edição, diagramação, arte, impressão, divulgação. O autor que escolhe esse tipo de lançamento tem também diferentes opções de como fazer o processo, uma delas é procurar editoras de serviço, nelas sua obra é publicada a partir de um valor pago, que costuma ficar na casa dos quatro dígitos.

Nesse sistema, o seu original não passa por nenhuma avaliação de conteúdo. Portanto, não corre o risco de ser recusado pela editora. Um exemplo de editora de serviço ou comercial é a Labrador.

Os escritores também podem optar por ver cada etapa da produção com uma empresa diferente, ou seja, procurar alguém para editar, outro que faça a diagramação e assim por diante. Dessa forma, o trabalho fica fragmentado, mas o escritor tem a liberdade de procurar preço em diferentes empresas.

Já em um terceiro modo dentro da autopublicação, o interessado pode buscar fazer uma publicação sob demanda, como é o caso de Rodrigo Peçanha, que  lançou a obra "Navegar eu Precisei", em setembro de 2020, através do site Clube de Autores. No processo, o capixaba, natural de Itapemirim,  pagou para que o site disponibilizasse o seu livro para venda, de modo que a cada compra o exemplar é impresso e enviado para o leitor. Todo o esforço de edição, diagramação e arte não é contabilizado nesse negócio e ficou por conta do escritor.

O escritor Rodrigo Marvila Peçanha
O escritor Rodrigo Marvila Peçanha . (Thatiane Mazoco)

“Eu queria fazer uma coisa mais por satisfação pessoal. Eu tinha vontade de contar essa história mesmo, por isso que eu fui por esse caminho”, explica o escritor sobre o motivo de ter escolhido a autopublicação.

Peçanha comenta inclusive que começou a escrever a obra que fala de sua vivência com a pesca juntando relato à poesia no Watppad, aplicativo de publicação virtual gratuita, e as pessoas foram demonstrando interesse pela história de superação.

“Para quem está com vontade de publicar um livro, tirar o sonho do papel mesmo, é uma ótima dica, sem você estar gastando muito”, comenta, revelando que desembolsou cerca de R$ 500 para publicar a obra nesse modo. Em contrapartida, o também professor de ciências explica que um ponto negativo é o custo mais elevado para os leitores adquirirem o livro, sua obra, por exemplo, está saindo à R$ 40,32 impressa e R$ 17,65 em formato e-book, sendo que tem 153 páginas.

No site Clube de Autores, o valor a ser ganho pelo autor por exemplar é escolhido pelo próprio escritor, o que muda o preço final em que a obra será vendida.

EDITAIS DE CULTURA

Diante de todas essas possibilidades de como publicar o seu livro, uma modo de conseguir um valor em dinheiro para lançar de forma autônoma ou através de uma editora independente é participando de editais culturais.

A escritora Fabíola Mazzini, por exemplo, começou publicando suas poesias no Facebook para ser lida, conseguir visibilidade e assim chegar a uma editora que quisesse publicá-la. “Foi muito boa a experiência, pois consegui ter contato com leitoras e leitores de vários lugares, conheci poetas muito bons e ampliei minha formação como leitora de poetas contemporâneos/as”, relata.

Tempos depois, Fabíola se lançou nos editais e, em 2018, teve o projeto da obra “Rotina dos Ossos” aprovado no edital 007/2018 - Seleção e Incentivo à Produção e Difusão de Obras Literárias Inéditas de Autores Residentes no Espírito Santo, da Secretaria de Estado de Cultura (Secult).

“Eu resolvi participar de poucos, por enquanto. Mas quero ampliar minha participação, pois, além de dinheiro, os editais dão visibilidade”, comenta a escritora que está com um livro inédito também submetido a edital.

Assim, os editais são uma maneira de buscar verba e também mostrar seu valor para o mercado editorial, podendo ser um meio de agilizar o processo de se tornar um autor mais conhecido.

Diante de tantas possibilidades de publicação, cabe ao autor avaliar qual desses modos é mais adequado ao seu intuito com a obra. Vale refletir se você quer se tornar um escritor famoso, se quer apesar satisfazer uma vontade pessoal e até mesmo que categoria de empresa deseja incentivar.

Confira os detalhes das obras literárias citadas nessa matéria:

Romance
Livro ganhador do Prêmio Sesc de Literatura na categoria romance "Encontro Você no Oitavo Round". (Editora Record/Divulgação)

Livro de poesias
Obra de estreia de Aluízio Ferreira Sueth. (Editora Cousa/Divulgação)

Livro
Livro de memórias e poesia "Navegar eu Precisei". (Rodrigo Peçanha)

Indicado por Saulo Ribeiro, “Rotina dos Ossos” é o livro de estreia de Fabíola Mazzini
“Rotina dos Ossos” é o livro de estreia de Fabíola Mazzini. (Divulgação livro "Rotina dos Ossos")

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