Com a aceleração da pandemia do novo coronavírus, em maio, A Gazeta publicou uma matéria relatando as dificuldades pelas quais passavam as companhias de teatro do Espírito Santo. A maioria fazia das tripas coração para não encerrar as atividades definitivamente. Passados sete meses, voltamos a consultá-las para saber como estão enfrentando uma crise que parece não ter prazo para terminar, principalmente após o novo aumento dos números de casos da Covid-19 no Estado.
Mesmo podendo trabalhar - segundo a Portaria Nº 226-R/2020, cinemas, teatros e museus podem funcionar nas cidades classificadas como risco baixo ou moderado, desde que sigam os devidos protocolos sanitários -, muitas companhias não voltaram com espetáculos presenciais por medo do novo coronavírus. Assim, elas sobrevivem graças a ações solidárias e veem nas leis de incentivo cultural - em especial a Aldir Blanc - como uma forma de socorro imediato.
Uma das trupes entrevistas, o Grupo Z, que conta com 23 anos de estrada, ainda está em momento de espera. A equipe, comandada pelo dramaturgo Fernando Marques, forma - ao lado da Repertório Artes Cênicas & Companhia - o conjunto Má Companhia, cuja sede se localiza no centro de Vitória. Hoje, o amplo espaço serve de galpão para depósito de materiais, mais ainda está por bons ventos que tragam de volta as montagens teatrais.
Com o início da pandemia, o Grupo Z teve que suspender seus espetáculos. Não sabíamos quanto tempo duraria a crise sanitária. Como foi se prolongando, começamos a nossa articulação, pensando em outras possibilidades e apostando nos editais de cultura", afirma Marques.
Fernando complementa, dizendo que, em maio, o grupo esteve perto de fechar as portas. "Houve, nesse intervalo, a aprovação da montagem 'Nas Nuvens', que participou dos editais da Funcultura 2019, promovidos pela Secretaria Estadual de Cultura. Com o dinheiro recebido (cerca de R$ 70 mil), conseguimos garantir o aluguel do espaço físico até o final do ano. Para 2021, sua manutenção fica condicionada à aprovação de novos editais.
Fernando Marques informa que, nesta semana, participou de uma reunião com a Secult/ES para decidir como será o formato de apresentação de "Nas Nuvens".
"Ficou acertado que cada grupo ou artista contemplado pelo edital fará uma revisão do projeto, considerando que medidas de segurança mais rígidas são necessárias. Futuramente, haverá reuniões individuais atendendo a cada projeto", adianta.
O Grupo Z espera o resultado dos editais lançados pela Secult relacionados a Lei Aldir Blanc. O conjunto se inscreveu nas categorias Artes Integradas, Cultura Digital e Trajetórias.
"Se formos aprovados, pretendemos lançar um projeto de podcasts relacionados à interpretação de contos da literatura brasileira. Essa interação digital será primordial a partir de agora. Acredito que esse novo formato deve permanecer e se fortalecer no período de pós-pandemia."
Nesse meio tempo, Fernando destaca que a equipe avaliou a utilização das plataformas digitais para continuar com as apresentações. O resultado, porém, não fluiu com a qualidade desejada. Tentamos adaptar espetáculos para streaming, mas não ficamos satisfeitos. Devemos nos preparar mais para a possibilidade dessa nova linguagem, revela.
O diretor elogia a política de editais, mas afirma que não é o suficiente para garantir a promoção da cultura no estado. O ideal seria se o edital fosse uma parte complementar de uma política pública voltada especificamente para a arte e a cultura, defende.
Fernando confessa que, a partir dos editais que começam a ser lançados, a equipe pretende desenvolver novos projetos. Nos últimos meses, a companhia viveu momentos de muita dificuldade, em que contou com a solidariedade de muitas pessoas para se manter viva. A tendência é que a situação financeira se estabilize, caso sejam aprovados pelos novos editais. Estamos discutindo os planos à medida que as coisas vão acontecendo", acrescenta.
A situação do grupo Folgazões não difere das demais companhias teatrais do Estado. Um de seus diretores, Foca Magalhães, afirma que a equipe também precisou de doações no início da pandemia para não fechar as portas. Agora, eles apostam nos nos recursos provenientes das leis de incentivo cultural.
Com o apoio da comunidade, conseguimos levantar uma quantia que nos permitiu garantir quatro meses de despesas, sobretudo no pagamento de impostos, revelou, em tom de alívio, uma vez que a Folgazões possui sede própria. Magalhães, porém, detalha que a inscrição em editais só seria concretizada se o grupo não possuísse impostos atrasados.
O diretor complementa, dizendo que a companhia tem se mantido graças à liberação de verbas de editais de 2019, como o Funcultura, da Secult/ES, que foi recebidas no segundo semestre deste ano. No início do mês, a Folgazões participou do projeto Circuito Banestes de Teatro, apresentando a peça Rubem Braga A Vida em Voz Alta, com transmissão ao vivo pelas redes sociais do Palácio Sônia Cabral.
"Recebemos a primeira parcela do Funcultura, no valor de R$ 35 mil, mas estamos negociando com a Secretaria Estadual de Cultura para saber como será o formato de apresentação do projeto 'Buffalo's Show', selecionado pelo edital. Acredito que a filmagem do espetáculo, disponibilizando o material em uma plataforma digital seria uma saída", planeja, complementando que aguarda o resultado dos editais da Lei Aldir Blanc junto ao Governo do Estado e a Prefeitura de Vitória.
Os dois últimos projetos da companhia foram pensados para o palco, A Lenda do Reino Partido e Buffalo's Show, que teve a turnê interrompida por conta da Covid-19. Com o avanço da pandemia, o grupo planeja estrear, ainda em dezembro, sua nova montagem, Bunker Village, em formato on-line. A peça versa sobre esse momento em que estamos vivendo, especialmente o isolamento, buscando as implicações que a pandemia gerou nas relações sociais, adianta Magalhães.
E o auxílio aos artistas capixabas está chegando, mesmo que a conta-gotas. A Secretaria de Cultura de Vitória divulgou no Diário Oficial desta quinta-feira (10) o resultado o Chamamento Público referente ao edital da Lei Aldir Blanc. Ao todo, 132 propostas foram aprovadas. Os selecionados podem ser conferidos na internet.
Os convocados terão até terça-feira (15) para apresentar a comprovação da abertura da conta bancária, em nome do proponente, destinada exclusivamente para o recebimento do recurso, em instituições financeiras oficiais (Banestes, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). Os dados devem ser enviados ao e-mail: [email protected]. O Chamamento Público é dividido em duas categorias: uma de apresentações em diversas linguagens artísticas e outra para formações artístico-culturais.
Procurada pela reportagem, a Secult/ES informou que os editais relacionados a Lei Aldir Blanc ainda estão em andamento e devem seguir até o dia 17. As categorias contempladas, neste novo chamamento, são: Cultura em Toda Parte (para circulação e difusão de atividades culturais), Memória e Diversidade Cultural (para ações de pesquisa e registro), Livro e Cultura (incentivo à leitura em bibliotecas públicas e comunitárias) e Trilhas da Cultura (para oficinas, cursos e treinamentos em atividades artísticas e culturais).
Estes chamamentos são destinados para Organizações da Sociedade Civil (OSC), e está prevista a verba de R$ 5,4 milhões. Cada edital ficará com inscrições abertas por 15 dias, com prazo de dez dias para as avaliações da comissão julgadora e três para o recurso. As normas e formulários dos editais estão disponíveis na internet e as inscrições podem ser feitas no site do Mapa Cultural.
O resultado da primeira leva de chamamentos, que contemplaram as categorias Artes Integradas; Licenciamento de Obras Audiovisuais (filmes, videoclipes e séries); Trajetórias e Cultura Digital, estão começando a ser divulgados. De acordo com a Secult, Licenciamento de Obras Audiovisuais foi o primeiro a ter a lista divulgada. Mais informações, podem ser conseguidas no site do órgão.
Além do aporte da Aldir Blanc, a Secult/ES lançou sua linha de editais de cultura para 2020. São 26 editais voltados para produção, difusão e fomento da cultura capixaba. Cada chamamento tem um prazo específico de inscrições. As datas, e informações sobre a inscrição, podem ser conferidas no site do órgão.
Os Editais da Cultura são realizados com recursos do Fundo Estadual de Cultura, e tem um aporte total de R$ 10,3 milhões. As linhas de projetos são divididas entre os eixos: Editais Transversais; Audiovisual; Linguagens Artísticas e Memória; e Patrimônio.
(Com participação de Israel Zuqui)
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