> >
Crítica: 'Absorvendo o Tabu' vai além do pudor acerca da menstruação

Crítica: "Absorvendo o Tabu" vai além do pudor acerca da menstruação

Disponível na Netflix, documentário ganhador do Oscar traz reflexão sobre patriarcado e feminismo na Índia

Publicado em 26 de março de 2019 às 23:11

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Documentário "Absorvendo o Tabu". (Netflix/Divulgação)

Há documentários que ampliam nosso olhar sobre um determinado assunto. Uns narram histórias que tocam, comovem. Outros nos dizem o que já sabemos. Alguns nos dão um “tapa” e apresentam realidades difíceis de acreditar que existem: “Absorvendo o Tabu” (“Period. End of Sentence.”) se encaixa bem aí.

Disponível na Netflix, o filme indiano escrito e dirigido por Rayka Zehtabchi venceu como Melhor Documentário de Curta-metragem no Oscar deste ano. Na cerimônia de entrega do prêmio, Rayka, uma americana descendente de iranianos, declarou: “Não acredito que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar.” Isso mesmo. “Absorvendo o Tabu” é um documentário sobre menstruação.

Mas não é só sobre isso. O curta faz um recorte de uma realidade indiana que assusta: por lá, as “regras” são mais que um tabu. Além de ser um assunto quase que proibido dentro de uma sociedade patriarcal, a menstruação é vista como algo pecaminoso, que suja e amaldiçoa as mulheres. Muitas não sabem o que realmente significa – quem dirá os homens.

Muitas meninas no país desistem de estudar quando menstruam pela primeira vez. Elas sentem vergonha, se sentem humilhadas. Para piorar o cenário, grande parte não sabe o que é um absorvente: usam-se panos, muitas vezes sujos, que podem gerar graves problemas de saúde. Algo que vemos em novelas de época, mas que é realidade para muitas mulheres em pleno 2019. Beira o surreal, mesmo para o mundo machista em que nós, brasileiras, estamos inseridas.

REFLEXÃO

O olhar de Rayka Zehtabchi é delicado. Através dele, conhecemos várias personagens de Deli, uma comunidade rural na Índia. As adolescentes que não têm ideia do que está acontecendo com seu próprio corpo; as mulheres mais velhas que nunca tiveram contato com um absorvente e relatam o que usam na falta de um produto higiênico adequado; os homens, que quando mais novos riem e fazem escárnio do assunto e, mais velhos, permanecem em silêncio e não conseguem pronunciar as palavras “menstruação” e “absorvente”; e mulheres que, mesmo sem saber nada sobre o feminismo, levantam a bandeira ao estudarem para sair dali e conquistarem sua independência. “As mulheres podem tudo”, diz uma delas, sem saber a grandiosidade de suas palavras.

Documentário "Absorvendo o Tabu". (Netflix/Divulgação)

No decorrer do filme, Deli implementa uma máquina de absorventes biodegradáveis. A partir daí, as indianas da comunidade não só conhecem o produto e começam a utilizá-lo, mas também passam a produzi-lo. O nome da marca escolhido? Fly – voar, em inglês.

Para essas mulheres, produzir e vender esses absorventes significa isso mesmo: voar. Uma chance única de ganhar dinheiro e, quem sabe, terem independência financeira. Em certo momento, uma delas afirma: “Eu ganhei respeito do meu marido desde que comecei a ter ganhos ao invés de ficar em casa. É gostoso ter o respeito dele”.

Portanto, “Absorvendo o Tabu” é muito mais do que um filme sobre menstruação. São cerca de 26 minutos de uma reflexão profunda sobre patriarcado, feminismo e sobre a importância de olhar para além dos nossos “mundos”. Um documentário necessário e que mereceu o Oscar.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais