É cada vez mais raro encontrar diretores autorais. A escassez é motivada pelo medo da indústria em arriscar, um receio surgido juntamente com a aurora dos blockbusters e a extinção dos filmes de médio orçamento nos quais nomes como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese se criaram. Hoje, o custo de produção de um grande lançamento é alto demais para que os estúdios assumam o risco de um fracasso.
Felizmente, os autores não estão totalmente extintos. Diretores como Denis Villeneuve, de Blade Runner 2049 (2017) e Sicário (2015), Ryan Coogler, de Creed (2015) e Pantera Negra (2018), não se destacam à toa. Eles são alguns dos novos nomes que optam por contar histórias do seu jeito particular, com assinatura. Outro bom nome dessa safra, ainda não tão conhecido, é o galês Gareth Evans, diretor do recém-lançado O Apóstolo, disponível na Netflix.
Evans caiu nas graças do grande público quando lançou Operação Invasão, um dos melhores longa de ação da década. No filme, o diretor mostrou sua habilidade de controlar narrativa, contar história e comandar excelentes cenas de ação, provando ser um cineasta que merecia maior atenção. Com o novo filme, estrelado por Dan Stevens (Legion), um dos atores mais promissores de Hollywood, Evans vai além e prova ser também um ótimo manipulador de tensão.
O Apóstolo conta a história de Thomas Richardson (Dan Stevens), um sujeito que busca sua irmã em uma comunidade governada por um estranho culto religioso uma sinopse intencionalmente vaga para um filme melhor apreciado às cegas.
O FILME
A direção chama atenção pela forma como trabalha a história sempre à base de contrastes: o dia e a noite; uma locação claustrofóbica contrapondo uma cena que ostenta uma paisagem em um ângulo aberto; e até o ambiente putrefato da vila se opondo à exuberância e à vitalidade da floresta que a cerca. Evans sempre busca um ângulo diferente para montar seus quadros, com muita câmera na mão e movimentação que segue a ação presente em tela. O diretor também imprime muita energia e tensão à narrativa, impedindo que o filme se torne cansativo em nenhum momento de suas mais de duas horas de duração.
A trilha sonora ajuda na criação da tal tensão; muito diversificada, ela nunca perde a coesão. Sempre com uma pegada pagã, a trilha vai de pianos em notas altas a momentos à capela.
O Apóstolo é um filme diferente. Traz alguns flashbacks expositivos e um problema de foco no segundo ato, mas nada que comprometa. Além de boas atuações, possui uma mensagem sobre o poder alienador da religião institucionalizada e seus líderes. Vale ressaltar que é um longa extremamente violento, o que pode incomodar. Ainda assim, para quem já está cansado da mesmice e de filmes sem conteúdo, é uma opção a ser apreciada.
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