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Crítica: 'O Doutrinador' leva HQ brasileira para os cinemas

Crítica: "O Doutrinador" leva HQ brasileira para os cinemas

Baseado na HQ de Luciano Cunha, filme traz policial que se transforma em justiceiro para eliminar políticos corrputos

Publicado em 31 de outubro de 2018 às 22:46

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O Doutrinador. (Aline Arruda)

“É claro que ele vai ser mal-interpretado. Eu não tenho dúvidas disso”, respondeu o ator Kiko Pissolato a este que vos escreve quando sentamos para conversar em São Paulo, na última semana (confira a entrevista na página 3), sobre o lançamento de “O Doutrinador”, filme protagonizado por Kiko e que chega hoje aos cinemas.

A certeza do ator não é infundada – o personagem que dá título ao filme é um anti-herói que elimina políticos corruptos. Baseado nas histórias em quadrinho de Luciano Cunha (que também assina o roteiro ao lado de Gabriel Wainer) e dirigido por Gustavo Bonafé (“Legalize Já”), o filme vai, como imagina Kiko, ser material de discussões.

Apesar da tentativa da produção de desconectar o filme da realidade ao situá-lo na fictícia cidade de Santa Cruz e ao mudar o nome e as características dos políticos presentes nos quadrinhos, é impossível dissociá-la do quadro político do Brasil – o personagem provavelmente nem existiria sem a crise política brasileira, uma vez que o próprio Luciano Cunha diz que ele foi criado como um expurgo contra a corrupção.

INFLUÊNCIA

Não é preciso ter tanta referência para sacar que o Doutrinador é uma espécie de Justiceiro brasileiro. No filme, ele é Miguel, um policial de elite que, num momento de fúria e desespero, acaba se tornando o anti-herói. Miguel viu sua filha morrer vítima de uma bala perdida e da falta de atendimento na rede pública. Ele, então, passa a caçar um a um os políticos ligados a um esquema de desvio de verbas da saúde.

“O Doutrinador” é um filme tecnicamente bem feito, com boas sequências de ação que não fariam feio em Hollywood. Vale ressaltar ainda os efeitos práticos, responsabilidade do capixaba Rodrigo Aragão (“Mata Negra”), que, com uma boa dose de exagero e caricatura, acerta o tom e aproxima o filme da mídia de origem do material base, as histórias em quadrinho.

Kiko Pissolato tem porte físico intimidador, o que ajuda muito nas cenas de ação, e encarna bem o personagem. Tainá Medina vive a hacker Nina, uma personagem interessante e que merecia ser mais bem explorada – algo que deve acontecer na série que estreia em março de 2019 no canal Space.

REQUINTE

O problema de “O Doutrinador” está em seu texto, fruto do material original. A violência é um recurso utilizado desde sempre nos quadrinhos, mas o texto dessas obras normalmente apresenta o personagem como problemático – pegue as HQs antigas de Wolverine, Justiceiro e até o Rorschach de “Watchmen”, por exemplo. No filme, o aspecto “justiceiro” é reforçado pela personificação do personagem, uma vez que na história original ele é um desconhecido que se esconde sob a máscara.

O Doutrinador. (Aline Arruda)

A violência no cinema deve levantar questionamentos ao invés de trazer soluções. O distanciamento da realidade é necessário e utilizado por cineastas como Quentin Tarantino, que cria uma estética absurda em seus trabalhos, e em filmes como “John Wick”, que se passa em um universo fantasioso.

É ótimo ver o cinema nacional apostando em obras de gênero e entregando um produto competente. O Doutrinador, como personagem, é um produto pop pronto. O que falta a ele é um maior requinte de seu texto.

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