Toda jornada precisa de um fim e a Marvel entendeu isso. "Vingadores: Ultimato" é o fim da jornada iniciada no primeiro "Homem de Ferro", lá em 2008, quando a empresa apostou todas suas fichas em um filme de um herói "B" e não tinha a menor ideia do que fazer caso o filme não desse certo.
É difícil comentar o filme dos irmãos Joe e Anthony Russo como apenas um filme. A clássica pergunta de "posso ver esse filme sem ter assistido aos outros" agora ganha uma outra resposta: por que alguém iria fazer isso? "Ultimato" é mais do que "Guerra Infinita" parte 2... Ele poderia ser o quarto filme de Thor, Homem de Ferro ou Capitão América. Também poderia até ser um filme da Viúva Negra ou do Gavião Arqueiro Na verdade é tudo isso, o que é impressionante.
Sem detalhes reveladores ou spoilers, o filme tem início pouco depois do fim de "Guerra Infinita" (na verdade a relação mais próxima é com a cena pós-crédito de "Capitã Marvel"), com os heróis sobreviventes tentando lidar com as perdas do estalo de dedos de Thanos.
RITMO ACELERADO
O primeiro ato surpreendentemente anda rápido, amarrando pontas soltas de outros filmes, explicando vários questionamentos dos fãs e, de certa forma, fazendo a roda girar e até botando um ponto final em tudo. É justamente nesse momento que a Marvel nos lembra de suas origens, as histórias em quadrinhos. Como se fosse uma nova edição que acaba de chegar às bancas, o segundo ato do filme leva o espectador para uma nova aventura, ou algo do tipo.
O ritmo diminui, o tom se altera e algumas coisas parecem estar fora do lugar. No cinema, o público vai à loucura a cada prêmio que recebe por sua fidelidade ao longo dos anos, a cada referência que o sujeito acha que só ele pegou (mesmo que a sala inteira esteja reagindo à cena). Porque é isso que "Ultimato" é: uma recompensa da Marvel para quem está com ela desde o início da tal jornada.
O mérito do filme é conhecer seu público, entender que pode tomar alguns desvios sem ser julgado por isso. Assim, o segundo ato quase cansa - é legal rever alguns cenários, mas algumas escolhas narrativas parecem equivocadas e outras apenas não alcançam seu potencial.
"Ultimato" também é uma homenagem ao grupo original dos Vingadores, aqueles que salvaram Nova York lá em 2012 - não foi à toa, afinal, que nenhum deles virou pó. Apesar disso, o roteiro dá espaço para outros personagens como os queridos Homem-Formiga e Rocket Racoon mas também - e principalmente - a Nebula. A filha de Thanos, que nunca teve tanto destaque, tem papel fundamental na trama.
Quando o segundo ato parece se arrastar demais, o terceiro chuta a porta. A conclusão é, com perdão da banalizada palavra, épica. A essa altura o público já entendeu que tudo pode acontecer ali e, portanto, existe uma preocupação real com cada um dos heróis em cena. É o momento das lágrimas, de emoção ou não. É também o momento em que a sala de cinema se transforma em uma arquibancada, em uma experiência rara e que não me lembro de ter vivido.
"Vingadores: Ultimato" parece ter sido feito por fãs, mas sem parecer uma fanfic (alô, "Game of Thrones"!). O filme peca em alguns inevitáveis excessos de computação gráfica, em um humor às vezes deslocado e, talvez, ao quase apostar na nostalgia. Alguns personagens surgem apenas para dar um "alô", mas ainda assim o sorriso é inevitável.
O quarto "Vingadores" é um filme sobre amor, luto, culpa, vínculos, amizade e escolhas. É sobre colocar um ponto final em histórias e abrir caminho para outras. O filme dos irmãos Russo não é perfeito - como obra, tem problemas na narrativa e no tom -, mas cinema não é sobre perfeição, é sentimento, é experiência, é a magia de conversar com o público e fazê-lo se sentir especial. Cada perda e cada conquista em tela parece ter sido feita sob encomenda para cada um de nós, do outro lado.
Ao fim, a sensação de saciedade ao término da sessão não diz respeito ao filme em si, mas a todos os anos dedicados a acompanhar e discutir o Universo Cinematográfico Marvel. É, sim, o fim de uma era, mas não tenha dúvidas: a Marvel tem outra era nas mangas.
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