> >
Crítica:'Infiltrado na Klan' é urgente e improvável

Crítica:"Infiltrado na Klan" é urgente e improvável

Filme de Spike Lee conta a improvável história real de Ron Stallworth, que se infiltrou na Ku Klux Klan

Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 23:57

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Filme "Infiltrado na Klan". (Universal Pictures/Divulgação)

Um negro com carteirinha de membro da Ku Klux Klan parece enredo de piada – o grupo Porta dos Fundos inclusive “brinca” com isso no vídeo devidamente intitulado “KKK”, publicado em 2013. E se eu te contasse que um detetive negro se infiltrou na corporação durante os anos 1970, em plena luta pelos direitos civis, e chegou a trocar ideias com David Duke, o líder da Klan, você acreditaria? “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, traz justamente a história de Ron Stallworth, o primeiro detetive negro do Colorado e o sujeito que se infiltrou na KKK.

No filme, Ron é vivido por John David Washington (filho do ator Denzel Washington) e, bem... como o nome e a premissa entregam, se infiltra na Ku Klux Klan. É claro que a chegada de um negro com um cabelo black power na organização não é simples; enquanto Ron mantinha contato telefônico com membros e até com o líder David Duke, era Flip (Adam Driver) quem ia aos encontros presenciais e às reuniões.

Para escrever o roteiro, Spike Lee se baseou no livro do próprio Stallworth. O diretor, porém, acrescentou personagens e situações para conferir mais urgência ao filme, como todo o arco do ataque terrorista. A escolha confere ao longa um ar de suspense policial, mas diminui um pouco sua força como registro histórico – para a narrativa, porém, funciona bem, com o protagonista infiltrado tanto nos movimentos pelos direitos civis quanto na Klan.

RETORNO À FORMA

O diretor ganhou notoriedade por filmes como “Faça a Coisa Certa” (1989) e “Malcolm X” (1992), todos mergulhados na cultura negra, mas sua trajetória nunca foi das mais regulares. Alternando altos e baixos na carreira, Lee chegou a fazer filmes “sob encomenda” como o bom “O Plano Perfeito” (2006) e o péssimo remake de “Oldboy” (2013). “Infiltrado na Klan” é o retorno de Spike Lee à antiga forma.

Social e politicamente relevante, o filme mostra a importância de resistir a todo e qualquer discurso de supremacia racial. O link entre passado e futuro se faz principalmente na figura de David Duke (Topher Grace), o líder da KKK. Enquanto seus “soldados” promovem o ódio e a violência como solução, Duke adapta a segregação racial a um discurso populista, o que, como o filme ressalta, o torna ainda mais perigoso.

O filme é direto ao mostrar essa realidade quando confronta seus acontecimentos com cenas das manifestações de supremacistas brancos e neonazistas em Charlottesville, em 2017, que acabaram com dezenas de feridos e uma morta, a ativista Heather Heyer, de 32 anos.

“Infiltrado na Klan” é um bom filme, mas não é perfeito – tem problemas de ritmo no terceiro ato (tudo é apressado), no desenvolvimento de alguns personagens e na artificialidade de algumas situações. Apesar disso, a impressão final é a de um soco no estômago, um alerta de que se opor a discursos segregacionistas é uma obrigação. David Duke pode ter sido feito de bobo por Ron Stallworth, mas sua voz continua encontrando eco mundo afora.

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais