O Rei Leão (1994) é um daqueles clássicos geracionais que marcaram a vida de crianças e adolescentes na época de seu lançamento e até mesmo muito depois, naquela famosa fita VHS verde que tanto ocupou os videocassetes familiares por anos. A trama shakespeariana que envolve Simba, Mufasa, Scar, Timão, Pumba e vários outros personagens foi a primeira animação da Disney criada a partir de uma história original e lançou canções que até hoje habitam o imaginário popular como a vencedora do Oscar Can You Feel de Love Tonight, de Elton John, e Hakuna Matata, que no Brasil virou Hatuna Matata devido à sonoridade de uma certa sílaba.
Um clássico atemporal e intocável... Bem, pelo menos era. A internet foi à loucura com a divulgação do trailer do live action de O Rei Leão em 2018. Com qualidade de animação impressionante e comandado pelo bom Jon Favreau, que já havia feito algo parecido com Mogli O Menino Lobo, o filme logo se tornou um dos mais esperados de 2019, sucesso garantido na temporada de verão dos EUA.
Com pré-estreia na quarta-feira (17) em sessões à meia-noite, e estreia em circuito comercial no dia seguinte, o novo O Rei Leão é um filme difícil de ser analisado. A história continua funcionando bem, mas as comparações com o filme original são inevitáveis e, de certa forma, cruéis.
REALISMO
Visualmente o filme é um espetáculo. Criados com animação em 3D, os animais são incrivelmente te reais e o grande destaque do filme. Mas o maior atrativo do filme também se torna seu calcanhar de Aquiles.
Há uma diferença grande no carisma dos personagens, mas a culpa não é dos excelentes atores que emprestam as vozes ao novo filme (Donald Glover, James Earl Jones, Seth Rogen, entre outros) a sensação de ver, por exemplo, um suricate e um javali em diálogos divertidos e cantorias é no mínimo diferente. Sem expressões humanas ou os exageros faciais da animação em 2D, o novo Rei Leão às vezes parece um documentário da Net Geo uma matéria especial do Fantástico com animais falantes.
Essa característica afeta a construção dos personagens como o vilão Scar. Enquanto no filme original os movimentos e os olhares do personagem davam a ele shakespearianos contornos perigosos e traiçoeiros, no filme de Jon Favreau ele parece apenas um leão cansado. A pergunta que fica é: como dar personalidade ao visual de um animal real?
A tecnologia resulta na perda de charme dos animais, mas o cenário construído digitalmente impressiona. O filme transporta o espectador para as savanas africanas e suas cores como se o público estivesse dentro de um documentário.
A fidelidade do diretor não se dá somente ao mundo real, mas também ao filme original. Ao invés de fazer uso de licenças poéticas e adaptar o texto a um novo tempo, Jon Favreau se atém ao roteiro do filme de 94 algumas cenas são recriadas quadro a quadro, mas outras ganham versões extendidas para ocupar os 30 minutos adicionais que o novo filme possui.
MAS E AÍ?
Como a Disney deve ter imaginado, o público que deve lotar as salas de cinema mundo afora deve ser formado por adultos em busca de nostalgia e que provavelmente tentarão empurrar o filme goela abaixo de seus filhos. A tecnologia é de cair o queixo, mas cobra seu preço e o visual realista do filme pode afastar e até assustar algumas crianças. A história, é claro, continua boa e emocionante, mas a simplicidade e a ingenuidade do original fazem falta.
Mesmo com todas as críticas feitas ao filme, vale ressaltar que O Rei Leão passa longe de ser um ruim, ele apenas não consegue se igualar ao clássico original.
NOTA: 6,5
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta