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Da periferia à David Guetta: DJ Carola quebra paradigmas na cena eletrônica

Da periferia à David Guetta: DJ Carola quebra paradigmas na cena eletrônica

Na busca pelo seu lugar ao sol no mundo da música eletrônica, DJ e produtora Carola consegue apoio do DJ número 1 do mundo

Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 16:46

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A DJ e produtora Carola
A DJ e produtora Carola. (Thiago Durann/Divulgação)

A DJ e produtora Carola, nascida em Porto Alegre, está cada vez mais conquistando seu espaço no cenário da música eletrônica brasileira. A gaúcha de 26 anos, que desde o início de sua carreira foi desmotivada a seguir seus sonhos no mundo da música, atualmente tem o orgulho de dizer que já tocou para uma multidão no Estádio do Maracanã e, recentemente, caiu nas graças de David Guetta.

Carola lançou a track "FKGO" ao lado do DJ e produtor Kohen e o single chamou atenção do DJ número 1 do mundo, segundo a revista "DJ Mag". O DJ inseriu a música no radioshow "David Guetta - The Podcast", que produz semanalmente.

O podcast traz um set de quase uma hora com comentários de Guetta sobre os artistas inseridos no setlist, em sua maioria descobertos e que passaram pelo gosto elaborado do francês. Carola entrou no programa de outubro deste ano.

Em entrevista ao Divirta-se, Carola contou um pouco mais sobre a produção da track ao lado do seu amigo e mentor Gustavo Kohen, sobre a importância de ser uma das mulheres pretas inseridas neste mercado, as dificuldades que enfrentou para chegar até aqui, e seus objetivos a serem conquistados.

A mensagem de "FKGO" é sobre não se apegar a rótulos e fazer o que temos vontade. Como surgiu a ideia, ao lado de Kohen, dessa collab com uma mensagem tão importante?

  • O Gustavo foi meio que meu professor de produção musical ao longo desses últimos três anos. Durante vários meses e finais de semana específicos a gente se reunia pra ele me ensinar e em uma dessas reuniões eu cheguei com a ideia de uma música que sempre tocava nos meus sets e bombava muito na pista, uma track do Liu. A gente se aprofundou tanto nessa ideia, que conseguimos chegar em um resultado muito massa e muito rápido, em uma noite criamos a música "FKGO". Essa música está pronta desde agosto de 2019, a gente não esperava lançar ela. Na verdade, já tínhamos desistido de fazer o lançamento por entender que o mercado aqui no Brasil estava apostando em outras linhas, e que talvez o som não fosse enquadrar, mas ela foi feita justamente para "estourar" lá fora, e não aqui, conseguimos perceber isso com o resultado do suportes que conquistamos, os maiores DJs da cena eletrônica mundial estão tocando a música.

  • Acho que esse lance de não se apegar a rótulos acaba refletindo bastante isso, são dois artistas que têm ideias bem diferentes dentro do estúdio, fazendo uma música completamente distinta do que estão habituados a fazer e conquistando a galera que tem um hype internacional gigantesco.

Como é ter o suporte do DJ consagrado recentemente o nº 1 do mundo, David Guetta?

  • Se há três meses alguém me dissesse que isso poderia acontecer, eu falaria que a pessoa estava louca. Então, está sendo bem surreal e gratificante, porque jamais imaginei que com o som que eu fazia - uma pegada bem brasileira -, ter suporte de artistas internacionais tão cedo. Então, além de uma surpresa muita grande, é uma realização pessoal e profissional muito grande, nunca imaginei que pudesse ver os nomes que moldaram meu caráter musical, que estiveram presentes durante a minha adolescência e vida adulta, apoiando a track. Ter o suporte do Guetta, que é hoje o nosso número 1 do mundo, é uma parada surreal.

Você já se apresentou no Estádio do Maracanã, como foi a experiência de comandar uma multidão?

  • Toquei no Estádio do Maracanã em 2015, inclusive foi a estreia do projeto Carola. Eu já vinha de uma carreira como DJ e tocava EDM, quando senti a necessidade de trocar de estilo, criei o projeto Carola e calhou de a primeira gig de estreia do projeto ser lá no Maracanã, e foi muito louco. A gente conhece a história do estádio e poder se apresentar lá foi muito massa, é uma das coisas que até hoje que não caiu a ficha que aconteceu, sabe? Fazer show para um público com mais de 10 ou 15 mil pessoas é sempre muito marcante, e esse com certeza foi um dia especial.

A DJ e produtora Carola
A DJ e produtora Carola. (Thiago Durann/Divulgação)

A importância de uma mulher preta realizando seus sonhos e crescendo Brasil afora é enorme para meninas que tenham o mesmo sonho. Pode nos contar um pouco mais sobre o início de sua carreira?

  • Isso é uma coisa que é muito louca pra mim ainda. Vejo as pessoas se referirem a mim como se eu estivesse em conjunto com outras meninas liderando um movimento dentro do Brasil, e são coisas que eu ainda não consigo assimilar artisticamente. Eu sempre fui muito desacreditada no início da minha carreira, as pessoas - inclusive próximas à mim - sempre faziam questão de me lembrar que eu jamais conseguiria conquistar metade das coisas que eu conquistei e sigo conquistando. E eu ainda estou no início, acredito que estamos conseguindo fazer um trabalho bem massa e com certeza vou conseguir crescer muito ainda. Mas no início foi muito duro, eu não tinha apoio, não tinha dinheiro, não tinha absolutamente nada, só tinha vontade de fazer as coisas acontecerem. Eu olho para trás e penso, "apesar de tudo, consegui fazer um puta trampo", e estou colhendo o resultado dessas coisas hoje em dia.

  • Inclusive, algumas das pessoas que tentaram me desacreditar no início, até hoje quando entram em contato comigo, inclusive amigas minhas, sempre se desculpam por não terem acreditado no início. A galera não acreditou e aconteceu, está acontecendo, e ainda vai acontecer muita coisa boa. Para todo artista o início é sempre duro, pra mim foi bastante, mas não me arrependo nem um pouco. Isso fez com que eu lutasse cada vez mais pelos meus sonhos, afinal, nunca tive nada de mão beijada, sempre tive que correr atrás das minhas coisas, e sou grata por tudo, até as más experiências.

O que você pretende explorar com a notoriedade que você vem conquistando?

  • Espero que eu consiga crescer e me consolidar como uma das maiores artistas do Brasil, acredito que eu tenha potencial suficiente para isso, além de todo o esforço que eu faço… Há bastante tempo que não construo mais as coisas relacionadas à minha carreira sozinha, eu tenho uma equipe muito legal comigo atualmente, que acredita muito em mim e se esforça para que as coisas de fato aconteçam e que sejam assertivas e da maneira certa.

  • Quero construir uma carreira muito foda dentro do Brasil, mas também almejo futuramente ter uma carreira internacional, acredito que esse vá ser o caminho. Não sei dizer exatamente quais serão os passos que serão trilhados para poder conquistar esses objetivos, mas são os principais, quero ser considerada uma das maiores artistas do cenário nacional e, posteriormente, conseguir construir uma carreira fora.

Que mensagem você quer transmitir ao mundo?

  • É algo bem pessoal. Tive que lutar muito porque as pessoas não viam em mim o estereótipo artístico aceito aqui no Brasil. Então, quando um cara tinha que lançar uma música "meia boca" pra ter algum tipo de sucesso, eu tinha que estar lá dando o meu melhor e fazer uma lançamento foda e expressivo pra conseguir reconhecimento, e agora quero poder abrir portas pra galera. Quando eu comecei não tinham muitas referências de mulheres no mercado e muito menos pretas, então eu quero que as pessoas olhem pro meu projeto e se sintam representadas, porque todo mundo é capaz de conquistar o que eu estou conquistando.

A DJ e produtora Carola
A DJ e produtora Carola. (Thiago Durann/Divulgação)

Como acredita que será a indústria da música eletrônica assim que tudo voltar aos seus conformes, pós-pandemia?

  • Acredito que vamos ter uma grande mudança no cenário, acho que muitos artistas que eram consagrados não vão voltar com a mesma força, e acredito que isso se deva ao fato de que antes de tudo somos seres humanos. Todo mundo passou por alguns perrengues ao longo desse ano e acredito que não tenham sido todas as pessoas que conseguiram se manter com a cabeça sã, e isso acaba refletindo no nosso trabalho. Muitos artistas que estavam em alta acabaram dando uma estacionada e outros até cogitaram desistir, alguns de fato desistiram, então acredito que em relação aos artistas, vamos ter uma mudança do cenário com muita gente nova entrando e muitos artistas consagrados saindo de cena. Em relação aos eventos, eu espero que as coisas voltem com mais força, mas não consigo fazer uma projeção muito certeira tendo em vista que a gente não sabe nem quando vai voltar… Acho que quando voltarem as coisas, algumas das pessoas ainda vão ter medo de frequentar festivais, festas e tal, com grande público. Mas espero que com o tempo pelo menos tudo volte a ser como era.

*Com informações de Rodolfo Reis

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