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De olho nos fãs de k-pop, editoras apostam em safra de livros asiáticos no Brasil

De olho nos fãs de k-pop, editoras apostam em safra de livros asiáticos no Brasil

Ao menos 26 títulos escritos ou protagonizados por orientais, a maioria deles juvenis, serão lançados entre 2021 e 2022

Publicado em 5 de junho de 2021 às 10:26

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Obra da série 'Gueixas' do artista Gabriel Ribeiro, também conhecido como Gabs
Obra da série 'Gueixas' do artista Gabriel Ribeiro, também conhecido como Gabs. (Gabriel Ribeiro/Reprodução)

Em meio ao sucesso do k-pop e ao crescimento de movimentos contra a xenofobia, editoras brasileiras preparam para 2021 e 2022 uma safra de livros de autores e personagens de origem asiática.

A reportagem levantou 26 títulos, a maioria juvenil, com tramas que vão desde histórias sobre bastidores do k-pop - gênero musical sul-coreano que faz sucesso com grupos de meninas e boy bands como o BTS - até narrativas sobre preconceito contra asiáticos.

É o caso de "This Place is Still Beautiful", da estreante chinesa Xixi Tian, que ainda não foi lançado nem nos Estados Unidos, onde a autora vive, mas já foi comprado pela Rocco, que se interessou pelo livro ao vê-lo ser disputado num leilão.

A história acompanha duas irmãs sino-americanas que veem os muros de casa pichados com ofensas contra asiáticos, trama que não é distante do preconceito enfrentado pela autora, que se mudou para os EUA com um ano de idade.

Obra da série 'Transborde' do artista Gabriel Ribeiro, também conhecido como Gabs
Obra da série 'Transborde' do artista Gabriel Ribeiro, também conhecido como Gabs. (Gabriel Ribeiro/Reprodução)

A Record, por sua vez, lançará no fim de junho "Problemas de Gente Rica", o último da trilogia de comédia Asiáticos Podres de Ricos, que vendeu 18.414 cópias após uma adaptação cinematográfica que faturou U$ 238,5 milhões.

A Seguinte, selo juvenil da Companhia das Letras, terá três livros, entre eles "Super Fake Love Song", de David Yoon, coreano radicado nos EUA, sobre um jovem que finge fazer parte de uma banda de sucesso para impressionar uma garota.

O selo juvenil da Globo Livros, por sua vez, aposta em "K-pop Confidencial", lançado em março, já com continuação programada para 2022, simultaneamente à publicação original em inglês.

A narrativa acompanha uma jovem que quebra o estereótipo da coreana estudiosa ao ser aprovada num programa de trainees numa das maiores produtoras de k-pop do mundo.

O livro fez sucesso suficiente para que a editora comprasse outros quatro títulos neste escopo. Todos são juvenis, por serem uma aposta comercial mais certeira, segundo o diretor da Globo Livros, Mauro Palermo.

"Os jovens, de 14 a 29 anos, estão lendo mais ficção do que adultos. Eles consomem romances num ritmo alucinante, então é mais fácil experimentar e criar modismos neste grupo", diz.

Mauro Palermo é diretor da Globo Livros
Mauro Palermo é diretor da Globo Livros. (Instagram/@palermo.mauro)

A observação de Palermo é confirmada pelos dados da pesquisa "Retratos da leitura no Brasil", do Instituto Pró-Livro, cuja última edição foi realizada entre 2019 e 2020 com 8.076 entrevistados em 208 municípios de todo o país.

O estudo aponta que a faixa etária que mais lê é a dos adolescentes de 11 a 13 anos, que possui 81 milhões de leitores, seguida pelos de 14 a 17, que são 67 milhões. O número cai progressivamente nas faixas subsequentes.

A aposta em livros com personagens de origem asiática acompanha o movimento do mercado internacional. A maioria deles já chega ao Brasil após ter ocupado listas de mais vendidos.

A compra dos títulos raramente é feita de editoras asiáticas, mas de agentes literários norte-americanos ou europeus conhecidos, o que também impacta na produção da edição brasileira.

A maioria destes livros é escrita em inglês por asiáticos radicados nos EUA, mas, mesmo os que não são, costumam ser traduzidos de edições norte-americanas, já que traduzir de línguas asiáticas custa até o dobro, devido à falta de tradutores.

"A gente tem dificuldade de conseguir um livro de um editor asiático. Sairia mais barato, porque a última coisa que este editor espera é o contato do Brasil, mas a tradução fica mais cara. Sai quase elas por elas, mas é mais difícil", diz Palermo.

A Intrínseca também aposta numa série de k-pop, mas vai além. Um de seus destaques é a série infantil "It's Okay to Not Be Okay", da sul-coreana Jo Yong, que deu origem a um seriado, exibido no Brasil pela Netflix.

Com quatro volumes, a série vendeu 45 mil exemplares no Brasil, o único país a traduzi-la. O sucesso pode evidenciar por que os editores preferem apostar nos leitores mais jovens. São estes livros, também, que podem ser comercializados ao governo para distribuição em escolas.

"Se não há espaço para esses títulos, precisamos construí-lo. Se os leitores nem sabem da existência dessas obras, como poderiam se interessar por elas?", questiona a editora de juvenis da Intrínseca, Talitha Perissé. "Precisamos sair da bolha. É a principal forma de desconstruir visões preconceituosas."

Além da coleção infantil, a Intrínseca lançará "The Legend of the Condor Heroes", uma trilogia de fantasia sobre artes marciais escrita pelo chinês Jin Yong, e publicou recentemente "Pachinko", voltado a adultos, que vai virar uma série da Apple+.

Com o boca a boca na internet, o romance, sobre dificuldades enfrentadas por imigrantes, vendeu 9.000 cópias —número mais alto do que a tiragem média de um livro impresso no Brasil, de 3.000 exemplares. Para Lucas Telles, que editou “Pachinko”, o sucesso está atrelado ao interesse do público por diversidade.

"Os leitores têm curiosidade de explorar realidades diferentes e querem que esses relatos venham de escritores que estão imersos nessas culturas, não aceitam mais narrativas que tratam desses lugares de forma genérica", diz o editor.

O que para algumas editoras é tendência, porém, para a Estação Liberdade, criada em 1989 e batizada em homenagem ao bairro paulistano, é o fio condutor de todo o catálogo, que já soma 65 títulos só de autores japoneses, todos para adultos.

O plano é lançar dez livros do Extremo Oriente nos próximos meses, traduzidos das línguas originais, como "Dente-de-leão" e "Um abraço", de Yasunari Kawabata, o primeiro japonês a ganhar um Prêmio Nobel de Literatura, em 1968.

Diferentemente das outras editoras, que estão focadas na Coréia do Sul, no Japão e na China, a Estação quer agora explorar outros países asiáticos, como a Índia, segundo seu diretor editorial, Angel Bojadsen.

"Traduções de livros em inglês todo mundo faz. Vamos por outro caminho. A gente tem leitores que vão sempre às feiras nos perguntar o que temos de novo de japoneses, por exemplo, o que mostra que há uma demanda de mercado", diz.

26 LIVROS ASIÁTICOS QUE ATERRISSAM NO BRASIL EM BREVE

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