O ator Babu Santana já tinha construído uma carreira sólida de mais de 20 anos no cinema, mas a participação no "Big Brother Brasil" o fez conquistar algo que não tinha conseguido até então -popularidade.
Apesar de ter ficado em quarto lugar na competição, em nenhum momento na entrevista a seguir ele exibe qualquer amargura, preferindo listar vitórias que este ano tão atípico trouxe para sua vida profissional e pessoal.
Babu celebra a lente de aumento que o "BBB" jogou sobre ele, fala sobre sua relação com a "galera da internet" e os novos públicos que alcançou e se diz satisfeito que a discussão sobre racismo provocada pelo programa tenha sido, a seu ver, aprofundada.
É engraçado. Eu entrei por cachê e por uma diversão. Nunca me enxerguei muito no perfil do "Big Brother". Mas aceitei o convite e quis me divertir um pouco.
Fazia tanto tempo que eu não parava para pensar em coisas minhas, coisas particulares. E há muito tempo eu não me divertia. O "BBB" me permitia brincar, fazer provas, dançar. Depois comecei a ver a questão da convivência humana. Pensei que eu não teria tanta paciência, que eu tive, para aceitar o outro e me colocar.
Toda a particularidade que essa edição teve, de as pessoas também estarem quarentenadas, o mais legal foi a gente não ter essa noção de como iam reverberar as nossas ações naturais do dia a dia, nossas opiniões. Quando eu saí, vi grandes autores usando coisas que eu falei na casa.
Eu fiquei muito feliz, porque conquistei as pessoas pelo que eu sou. E ao mesmo tempo é assustador, porque agora tudo o que você fala é uma opinião. Mesmo eu não ganhando o prêmio, conquistei algo que eu nunca tinha conseguido em 40 anos de vida e 20 anos de carreira, que é chamar atenção.
Meu trabalho já existia antes do "Big Brother". Foi uma lente de aumento que me serviu muito bem para me apresentar para a popularidade.
Principalmente a galera da internet, que é onde eu tinha menos intimidade e estou começando a aprender a ter agora. Com as redes sociais, eu tenho vários conselheiros, que ficam desesperados comigo. Porque acho que a notoriedade vem também com a espontaneidade.
É claro que eu tenho um filtro, tem que ir tateando, porque hoje tem 7 milhões de pessoas numa rede social tentando acompanhar meu raciocínio e querendo interagir.
Eu estava fazendo uma brincadeira com a minha família e tinha 70 mil pessoas vendo, meu Deus! Um post em poucos minutos tem 500 comentários. Mas a gente vai se acostumando, porque sempre foi o meu desejo a vida toda. Poder ligar para fulano e ver se está afim de fazer um feat [uma participação em música], o autor da novela ligando.
É cansativo, né? A gente para estar presente para as câmeras tem que fazer muita coisa. Os amigos que ficaram lá em casa e me ajudaram durante o "BBB" continuam aqui. Fazer live é bem trabalhoso, mas tem sido gratificante.
Quando eu saí da casa, falei: "Meu Deus, como é que faz show? Como é que faz peça? Como aproveita isso tudo?". A gente achou essa forma, sempre dentro das normas de segurança. O "Quintal do Paizão" precisou de quase uma semana e meia. Hoje estou lidando com cabo como ninguém. Me tirou da zona de conforto.
Em 20 anos de carreira artística, eu tinha feito muito pouca publicidade. Hoje eu entrei nesse ramo, é um ponto muito positivo.
Ainda vivo as emoções de estar nos braços da minha torcida. Eu fico espantado com o tanto de criança que aderiu. Era um público para que eu achava que não tinha perfil.
E consegui um emprego. Essa semana a gente conversa sobre os projetos na empresa, na Globo. Lá está parado, então a gente está vendo como vai conseguir trabalhar com segurança, fazer uma coisa de qualidade. Mas essa conversa começa agora.
Estou tentando aproveitar essa popularidade da forma mais positiva. Tem os pontos negativos, que deixo para a galera mais fera administrar, mas também acho que tudo é válido.
Falo que eu quero críticas, quero pessoas que eu não concordo. Dentro de algum argumento, posso encontrar um crescimento. Que bom que isso veio agora na maturidade, que eu consigo entender e ficar tranquilo com as críticas duras.
Eu brinco com meus filhos que meu smartphone era a televisão. Aquele aparelhinho que você pega e vicia, se informa, se diverte. Sempre fui noveleiro.
No "Big Brother", sempre gostei desse aspecto psicológico. O efeito do confinamento é uma coisa muito complicada. Nas festas, você vê a gradação etílica das pessoas. Eu tinha muita curiosidade.
E foi engraçado, porque tinha desde a minha figura, alguém que entrou ali como franco-atirador, lobo solitário, e pessoas como a Manu, o Pyong, que tinham toda uma estrutura pensada. Tinha todo um contraste. E na verdade quem ganhou foi uma inscrita [Thelma], que é tão popular quanto nós hoje em dia. Todos esses ingredientes contribuíram para uma edição diferente.
Eu tinha muito medo de ter uma discussão rasa sobre o assunto. Lembro de falar para a Thelminha que quero me pôr na posição de referência, não de militância.
Por exemplo, o preconceito racial e social é uma realidade. Até hoje, melhorando de vida. Não é só porque a vida vai melhorando que os assuntos vão me abandonando. O que aconteceu na casa foi só eu expurgando o que sempre expurguei a minha vida inteira.
Eu estava indo num caminho, já tinha conseguido me manter com dificuldade fora da favela. Meu pai mora lá ainda, então não é que eu não me preocupe. Todas essas tônicas, eu achei muito legal que se gerou uma conversa profunda aqui fora.
Hoje eu estou podendo participar, sentir o impacto de falar uma coisa e soar de um outro jeito, acho que os debates vão se aprofundando assim também. À moda da internet, com extremismos ou não, a gente está começando a aprofundar coisas que a gente foi soltando lá na casa.
Hoje eu tento não me tornar raso nos assuntos. Por isso falo mais de pretitude, questões sociais, que são coisas que me envolvem. Aí eu posso ser mais profundo, dentro de um ponto de vista, não que seja uma verdade.
Por isso essa edição teve essa força toda. As pessoas estavam com tempo, que geralmente não têm, e a gente estava expondo coisas, e elas foram debatidas. Foi um ponto alto do programa.
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