A crônica de Marcos Tavares, que narra um episódio que aconteceu no fim dos anos 1960 na Vila Rubim, em Vitória, foi premiada com o segundo lugar em sua categoria no Prêmio Off Flip de Literatura, do evento literário homônimo que acontece anualmente na cidade Paraty, no Rio de Janeiro, em paralelo à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Em 2021, a cerimônia oficial que dará ao escritor capixaba R$ 20 mil, cota de livros do selo Off Flip, bolsa de criação literária e mentoria virtual está marcada para julho. Ele, que também é auditor fiscal da Receita Estadual, terá essa e uma outra obra publicadas em coletânea que será lançada pela feira.
Sobre o episódio que retratou na crônica, Marcos lembra: “É a história de um trabalhador braçal da Vila Rubim de quando eu morava lá. Devia ter entre 11 e 12 anos quando isso aconteceu, já que morei lá até os meus 14. Fui testemunha ocular do que o conto diz e esse assunto ruminava dentro de mim, me angustiava. Até que um dia decidi colocar a história no papel. Eu vivia contando esse caso para as pessoas”.
Em uma página, que é o tamanho limite de crônicas que prevê o concurso, Marcos narrou a morte de "Cu-sujo", apelido que o tal trabalhador tinha até que foi morto a pauladas na manhã de um dia qualquer. Na crônica, o escritor de Vitória lembra que estava jogando futebol quando a notícia do assassinato foi espalhada e ele, como bom curioso, ficou no local do crime até o corpo ser recolhido.
“Eu estava jogando futebol e lembro de a notícia ter chegado. Fomos todos correndo ver e o corpo, que ficou exposto de umas 10h até quase anoitecer. Eu era um futebolista curioso e fiquei lá até o desfecho final, quando tudo foi resolvido. E é o que eu, em suma, descrevo na crônica”, detalha.
E continua: “Tentei imprimir densidade, extensão e fazer um retrato social dentro dessa uma página. Uma certa psicologia da personagem, porque o questionamento maior é: ‘Como um sujeito pode amanhecer, ser surpreendido com pauladas e morrer assim?’. No texto, eu até falo que a Vila Rubim era um lugar de mortes, inclusive de mortes muito emblemáticas”.
Marcos tanto reitera o cotidiano sangrento da periferia de Vitória que diz que tem outros episódios marcados na memória, da mesma natureza, que um dia ainda vão virar conto, livros ou crônicas (ele já tem duas obras do gênero publicadas). “Tem um outro momento em que eu havia acabado de levantar da cadeira do barbeiro e ficamos sabendo da morte de uma figura bastante conhecida da região na época. Isso vai virar uma outra história, um outro conto”, confidencia.
No que adianta o projeto para as futuras obras, entrega até uma surpresa do texto com o qual ganhou o concurso da Off Flip: “A literatura tem que ter esse quê de surpresa, o leitor precisa ser provocado, surpreendido. E essa obra, por ser uma memória minha, é quase narrado em primeira pessoa, mas com caráter informativo tão forte que quem lê só percebe, mesmo, que sou eu contando porque eu assumo: ‘E um era eu’. Quando falo que tinha uma pessoa, um jogador de futebol... Um era eu”.
Marcos conclui que o prêmio é um reconhecimento que fica ainda mais importante por condecorar agentes da literatura. Em julho, o capixaba espera ir ao evento, que deve acontecer de forma presencial em Paraty, no Rio de Janeiro. Até lá, também terá em mãos a coletânea do evento que contemplará sua crônica.
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