Arquivos de órgãos extintos do audiovisual brasileiro, como a Embrafilme, a Empresa Brasileira de Filmes, o Instituto Nacional do Cinema e o Concine, o Conselho Nacional de Cinema. Documentos do arquivo Tempo Glauber, que reúne diários, anotações pessoais e cartazes originais do cineasta baiano Glauber Rocha. Matrizes e cópias de cinejornais, filmes documentais, filmes domésticos e de ficção.
Um primeiro inventário do acervo guardado no depósito da Cinemateca Brasileira na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, potencialmente destruído ou danificado pelo incêndio que atingiu o galpão na última quinta-feira, está no manifesto lançado nesta sexta por ex-funcionários da instituição.
Eles criticam o edital lançado pelo governo Bolsonaro "sem debate, ferramentas de transparência, a participação da população, de pessoas da área de patrimônio cultural e, principalmente, do coletivo dos ex-trabalhadores da instituição".
Segundo o documento, essa "não será a solução", já que o modelo de gestão por organização social se mostrou falho. "É preciso estabilidade e garantia de equipe técnica a longo prazo, oferecendo à instituição um orçamento compatível com os necessários serviços de preservação e difusão do audiovisual brasileiro."
O manifesto, assinado por trabalhadores da Cinemateca Brasileira, denuncia "a ausência de quaisquer trabalhadores de documentação, preservação e difusão" na instituição. "Seguramente, muitas perdas poderiam ter sido evitadas se os trabalhadores estivessem contratados e participando do dia a dia da instituição", escrevem.
O manifesto trata do incêndio como um "crime anunciado" que "culminou na perda irreparável de inúmeras obras e documentos da história do cinema brasileiro". Esse foi o quinto incêndio que acometeu a Cinemateca Brasileira, que há dez anos chegou a ser apontada pela Federação Internacional de Arquivos Fílmicos, a Fiaf, como uma das três melhores do mundo.
De acordo com o manifesto, as instalações da Cinemateca na Vila Leopoldina "são parte fundamental e complementar" da sede da instituição, na Vila Clementino, onde fica armazenada a maior parte do acervo.
No início de agosto, fará um ano que a Cinemateca foi fechada pelo governo federal. No manifesto, os trabalhadores apontam que, na ocasião, a demissão de todo o corpo técnico da instituição não foi acompanhada do acerto de salários e rescisões não pagos pela gestora anterior, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.
De acordo com o texto, desde então, foram contratadas equipes de manutenção predial, bombeiros e limpeza. Esses profissionais, no entanto, "apesar de serem fundamentais para o funcionamento do arquivo de filmes, não são suficientes para suas demandas específicas, como evidenciado neste dia fatídico".
Os trabalhadores apontam que a ausência de equipes técnicas especializadas ao longo de um ano possivelmente já teve consequências irreversíveis para o estado de conservação do maior acervo do cinema brasileiro, para além de enchentes e incêndios. "Certos danos são silenciosos, porém tão trágicos quanto um incêndio, e igualmente irrecuperáveis. Trata-se do tempo de vida dos diversos materiais, diminuindo drasticamente, e da perigosa deterioração dos filmes de nitrato e de acetato."
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