Em 1954, Martha Rocha perdeu o Miss Universo para a americana Miriam Stevenson por conta das folclóricas duas polegadas a mais nos quadris. Sessenta anos depois, mais precisamente em 2016, a canadense Siera Bearchell, uma bela e eloquente Miss Plus Size, se destacou no mesmo concurso por suas curvas avantajadas e - mesmo rodeada por mulheres curvilíneas e ditas elegantes - ficou entre as dez semifinalistas da noite. O que mudou? A cabeça da sociedade, que hoje, com as devidas proporções, aceita louvar a mulher como ela é: gordinha, linda, sexy e que aceita o seu corpo sem regras ou amarras.
Quer prova maior? Basta ver todas as fofinhas que fazem sucesso no mundo do entretenimento, seja na TV, no cinema, nas artes e no mundo da moda. A mais relevante delas, talvez, seja Melissa McCarthy. Maior expoente da comédia americana, a atriz conquistou o estrelato na premiada série Mike & Molly (2011) e foi indicada ao Oscar duas vezes, pela comédia Missão Madrinha de Casamento (2011) e pelo drama Poderia Me Perdoar? (2016), na melhor atuação de sua carreira.
A psicóloga Angelita Scardua, especializada em desenvolvimento de adultos na experiência de Felicidade, destaca um estigma que os gordinhos estão conseguindo quebrar aos poucos, personificado no momento atual da carreira de Melissa McCarthy: de que todos necessariamente precisam ser engraçados para fazer sucesso.
A mídia deve parar de insistir em certos padrões estereotipados que a sociedade espera dos gordinhos: que sempre nos façam rir e que muitas mulheres são fogosas e muito sexualizadas, pontua.
SUCESSO
Melissa McCarthy, porém, é só a ponta do iceberg. Da mesma Hollywood, podemos citar fenômenos de popularidade e astros que vêm ganhando milhares de seguidores nas redes sociais, como Chrissy Metz, a Kate Pearson da série This Is Us; Rebel Wilson, que estourou na trilogia "A Escolha Perfeita" (2012-2017) e está fazendo sucesso na Netflix com a comédia Megarromântico (2019); a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 2012, Octavia Spencer; e Danielle Macdonald, que ganhou notoriedade com outro hit do streaming de Ted Sarandos, Dumplin (2018).
Dumplin, aliás, que mostra uma garota (Danielle) vencendo a gordofobia da mãe - uma ex-miss vivida por Jennifer Aniston - ouvindo as canções da diva pop Dolly Parton, é um dos títulos de cabeceira da digital influencer Nathielle Hernandez, cuja bandeira é defender os direitos dos gordinhos contra ataques preconceituosos.
"O filme destaca o que acontece no cotidiano de muitas famílias. Já vi mães tratando um filho melhor do que o outro só porque um é magro e outro é gordo, criando até apelidos pejorativos para diferenciá-los, como 'fofinha', o caso do filme", afirma, dizendo que a visibilidade dos atores plus size só contribui para a aceitação social das pessoas que estão do lado de cá da telinha, ajudando a vencer a gordofobia.
"O sucesso deles quebra paradigmas. Muitos ainda acham que não existe gordo bonito ou gordo saudável. Os astros se aceitam como são e fazem crescer em nós o sentimento de que ser gordo é legal e a aceitação é necessária. Aprendi com o tempo que posso me sentir bonita de biquíni, em uma praia, ao lado do meu marido. Posso e quero ser feliz com o meu corpo, brada.
POR AQUI
No Brasil, a lista de gordinhos que também fazem sucesso na TV e no cinema é bem extensa. A funkeira Jojo Todynho e os atores Fabiana Karla, Cacau Protásio, Tiago Abravanel e a eterna "Jenifer", Mariana Xavier, têm em comum a aceitação do corpo e o desejo de buscar a felicidade plena.
"Eu penso como eles, o que importa é estar bem com você. Os artistas influenciam várias meninas como eu a passar por cima de preconceitos e ataques que sofremos no dia a dia", acredita a modelo plus size Rayane Souza, uma das manequins mais requisitadas de uma marca líder do mercado para gordinhas.
Com 1,57cm e 98kg, Rayane diz que ser uma representante da beleza plus é uma responsabilidade social. Lutamos contra a objetificação do corpo da mulher. Dá para trabalhar no mundo da moda fugindo do padrão loira, corpo sarado e olhos azuis, acredita.
Lógico que, como não vivemos em um mundo ideal, ataques preconceituosos, especialmente nas redes sociais, sempre acontecem. Recentemente, Jojo Todynho postou uma foto de lingerie em seu instagram dando conselhos de automotivação. Ao escrever: "seja ridícula, mas seja feliz", a funkeira recebeu todos os tipos de comentários gordofóbicos.
A psicóloga Angelita Scardua adianta que é preciso estar preparado para qualquer reação contrária, seja na rede ou fora dela. "Ninguém consegue agradar a todos, portanto, para cada reação raivosa é preciso uma ação de maturidade. Lógico que quem se sentir lesado pode procurar apoio jurídico para se defender, mas viver em sociedade é um mecanismo de respeito mútuo. Quem não se adequar, quanto mais na onda conservadora que está assolando a sociedade recentemente, pode se preparar para viver sofrendo, aconselha.
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