Uma das referências do país quando o assunto é jazz, Marien Calixte (1935-2017) ganhou uma homenagem a altura de sua importância para a cultura capixaba. Sexta (18) e sábado (19), o Bairro República, em Vitória, recebe a primeira edição do Marien Calixte Jazz Music Festival que, como o nome já adianta, vai reunir artistas, cantores e público em comunhão para louvar o ritmo que consagrou Miles Davis, Sara Vaughan e Billie Holiday.
Marien dedicou mais de 50 anos às artes, seja atuando como jornalista, produtor, radialista, diretor de teatro e poeta. Nossa ideia sempre foi resgatar a paixão que ele tinha pela cultura, relata Daniel Morelo, um dos organizadores do evento.
Morelo também acentua que Calixte ficou conhecido por massificar o jazz como linguagem musical. Ele foi um homem de feitos. Escreveu mais de 20 livros (entre romances, poesias e haikais); teve um dos programas musicais de rádio mais longevos do país, O Som do Jazz; além de ter recebido celebridades em visitas ao Estado, como o papa João Paulo II (1991) e Nelson Mandella (também em 1991), enumera.
Os shows acontecem sexta (18) e sábado (19). Entre as atrações, nomes consagrados como Hermeto Pascoal e revelações, como Jonathan Ferr (que chega ao Estado após uma concorrida apresentação no Rock In Rio), e o grupo Duo Finlândia, que conta com artistas brasileiros e argentinos. O Duo, inclusive, faz um jazz sofisticado, mesclado com ritmos latino-americanos. Como marca registrada, a mistura de violoncielo, acordeão e teclado a sons eletrônicos.
Jonathan Ferr, em bate-papo com A GAZETA, adiantou como será sua apresentação. Vou repetir parte da atração que fiz no Rock in Rio, uma espécie de lançamento do meu primeiro álbum, Trilogia do Amor. Além disso, levarei elementos do Urban Jazz, em que tento misturar jazz ao hip hop, neo soul e música eletrônica, explica.
Daniel Morelo ressalta que o Marien Calixte Jazz Music Festival também vai abrir espaço para a nova cena musical capixaba. Nossa ideia é dar voz a gente que está se destacando. Como exemplo, temos o Tocata Brass, com toda a sua feminilidade instrumental. Vale muito a pena conferir ainda o grupo Batida Diferente, criado a partir de projetos sociais da Serra. Eles vão se apresentar ao lado da violoncelista Joyce Rodrigues, pontua.
Um dos pontos altos da festa será o tributo que Afonso Abreu Trio (com participação do saxofonista Colibri) faz a Marien Calixte. Será uma apresentação especial contendo parte das faixas que o jornalista apresentava em seu O Som do Jazz.
Além disso, a programação contará com apresentações do grupo Malê Dixieland, fazendo intervenções entre os espetáculos.
O festival acontece na data em que o homenageado faria 84 anos. Inicialmente, pensamos em um evento voltado para os artistas locais e tendo como foco a música experimental. Como recebemos mais de 70 inscrições de fora do Estado, resolvemos fazer um projeto mais amplo, contemplando o clássico, com grandes nomes e os novos estilos, com gente que está se lançando, tem talento e merece um espaço, complementa Daniel.
O Marien Calixte Jazz Music Festival, além de música, contará com ações sociais. Haverá um estande com doações para o projeto Gatinhos da Pedra da Cebola, além de acessibilidade para idosos e pessoas com necessidades especiais, que ganharão um setor só delas para curtir a boa música.
A vida de Marien Calixte se mistura à história da cultura e do jornalismo capixaba. Durante mais de cinco décadas, dedicou-se ao rádio, literatura, pintura, música, foi produtor cultural, diretor de teatro, e também foi diretor de redação do Jornal A GAZETA. Publicou dezenas de livros, entre biografias, ficções e haikais.
Nascido em 20 de outubro de 1935, seus primeiros passos como jornalista foram no final da década de 1950. Na década de 1970, promoveu uma vigorosa modernização de A GAZETA, nos moldes do então vanguardista Jornal do Brasil. Também foi redator chefe do histórico jornal "O Diário", um dos veículos mais emblemáticos na luta contra a ditadura.
Também na década de 1950, entrou para o quadro da Rádio Espírito Santo. Apaixonado por música, em 1958 criou o O Som do Jazz, que surgiu como quadro do programa Cinelândia Capixaba e apresentava trilhas sonoras de filmes. Ele comandou a atração até 2011, então na grade da Rádio Universitária.
Exímio escritor, foi pioneiro no Estado no gênero ficção científica, com títulos como Alguma Coisa no Céu (1965), editado em vários países. O pioneirismo lhe valeu a inclusão na coletânea Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica.
Foi autor, entre outras, da biografia O Pescador de Sons, sobre Maurício de Oliveira. Foi, também, um dos pais do modernismo da pintura capixaba, ao lado de nomes como Maurício Salgueiro, Raphael Samú e Carlos Chenier.
Na música, uma de suas maiores contribuições é a realização das dez edições do Vitória Jazz Festival, entre as décadas de 1980 e 1990. O evento trouxe ao Estado ícones como Sarah Vaughan, Dave Brubeck e Astor Piazzolla.
Marien também foi secretário de Turismo de Vitória, Membro do Conselho Estadual de Cultura e presidente da Fundação Cultural (atual Secretaria de Cultura do Estado). Entre suas realizações estão a criação da Biblioteca Pública do Estado e a reforma do Teatro Carlos Gomes.
Calixte morreu em 25 de dezembro de 2013 por complicações referentes ao Mal de Parkinson.
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