> >
Flores, ovos e tradição: conheça a Páscoa dos Pomeranos no ES

Flores, ovos e tradição: conheça a Páscoa dos Pomeranos no ES

Conhecidos pela manutenção das tradições, inclusive guardando uma língua própria, os pomeranos são também cristãos. É possível afirmar que a Semana Santa entre eles traz diversas peculiaridades

Publicado em 26 de março de 2021 às 19:46- Atualizado há 4 anos

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Cultura pomerana no ES
Os ovos arroxeados devem ser encontrados pelas crianças descendentes de pomeranos. (Secretaria de Cultura e Turismo e Gerencia de Comunicação de Santa Maria de Jetibá)

Oriundos de uma região que hoje pertence à Polônia, no continente europeu, o povo pomerano compôs a colonização do Espírito Santo. Conhecidos pela manutenção das tradições, inclusive guardando uma língua própria, os pomeranos são também cristãos. É possível afirmar que a Semana Santa entre eles traz diversas peculiaridades.

Uma coisa é certa entre todos os cristãos: o momento da Páscoa simboliza a crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ao resgatar as tradições pomeranas, em especial dos que vivem na região das montanhas capixabas, observam-se experiências únicas como um caminho de pétalas de flores nas entradas das casas e ovos de galinha delicadamente pintados à mão.

Domingo de Ramos

Para dar início ao período da Semana Santa, já neste domingo (28) acontece o chamado "Domingo de Ramos". Para os descendentes pomeranos, a tradição é fazer um caminho de pétalas de flores e folhagens no quintal das casas, até a porta principal. Para eles, o caminho é chamado de "Palmsündagsweeg".

Cultura pomerana no ES
No domingo de Ramos é feito caminho de flores. (Secretaria de Cultura e Turismo e Gerencia de Comunicação de Santa Maria de Jetibá)

Celebra-se a data entre o povo pomerano e descendentes de modo a evidenciar que Jesus é bem-vindo em cada lar. Segundo Eliana Litke, coordenadora de projetos da Secretaria de Cultura e Turismo de Santa Maria de Jetibá, geralmente as pétalas usadas nos caminhos são das flores do jardim de casa e das quaresmeiras que florescem nesta época do ano.

Para Gisila Boening Flegler, de 55 anos, que é descendente de pomeranos, por parte de pai e mãe e falante da língua materna,  a data é muito emocionante. "Sempre lembro meus pais contando a história de Jesus Cristo entrando em Jerusalém, montado em um burrinho, tradicional história do Domingo de Ramos. Eu e meus irmãos ficávamos muito atentos ao que eles contavam", contou.

Quinta-feira Santa

Na Quinta-feira Santa, que neste ano cairá no dia 1 de abril, as tradições pomeranas contam com dois momentos principais: o de abertura do tanque de peixe, ou "Fischedijk", e com a preparação dos alimentos, que consistem, em especial, em tortas de palmito ou de repolho, "Palmit-urer Kopkooltort".

Cultura pomerana no ES
A gastronomia de Páscoa entre os pomeranos conta com torta de palmito ou de repolho. (Secretaria de Cultura e Turismo e Gerencia de Comunicação de Santa Maria de Jetibá)

De acordo com a Secretaria de Cultura e Turismo de Santa Maria de Jetibá, entre as famílias pomeranas é comum ter, nas propriedades, um pequeno açude para a produção de peixes, que são consumidos na Sexta-feira Santa, conforme tradição cristã. Então, na Quinta-feira Santa as famílias já se reúnem e fazem a abertura do açude para recolher os peixes, em um momento de integração e descontração para toda a família.

Em relação ao que vai a mesa, as famílias pomeranas dedicam-se aos preparativos e ao início da Festa da Páscoa, fazendo biscoitos, pão de trigo e a tradicional torta de palmito ou de repolho.

Sexta-feira Santa

Dia de degustação! A Sexta-feira Santa é o dia de provar a torta. "Mas o silêncio é o que predomina, já que a data guarda o luto pela crucificação e morte do Filho de Deus", explica a secretaria. A sexta é também o dia, como para os brasileiros cristãos, em que não se consomem carnes, apenas peixe.

Cultura pomerana no ES
A gastronomia de Páscoa entre os pomeranos conta com torta de palmito ou de repolho. (Secretaria de Cultura e Turismo e Gerencia de Comunicação de Santa Maria de Jetibá)

Sábado de Aleluia

O sábado é bastante especial, principalmente para as crianças. É neste dia que é feita a preparação do ninho, ou "Oosternest". Tradicionalmente os pequenos pomeranos corriam na mata procurando flores e folhas para fazer os ninhos enfeitados, que eram preparados dentro de um prato ou em um canto da casa, onde o coelho pudesse presenteá-las com os ovos da Páscoa.

Cultura pomerana no ES
Os tradicionais ovos coloridos de Páscoa. (Secretaria de Cultura e Turismo e Gerencia de Comunicação de Santa Maria de Jetibá)

Como acontece nos dias atuais, as crianças recebem ovos de galinhas cozidos e pintados. Neste dia, as crianças ficam acordadas até tarde para tentar ver o coelho trazer os ovos.

Sobre o dia, a descendente de pomeranos Gisila Boening Flegler conta que ficam lindas lembranças de infância. "Recordo da mamãe nos animando a ajudar a terminar as tarefas da casa para podermos confeccionar os ninhos. Durante a madrugada, ela levantava para cozinhar os ovos para depois espalhar nos ninhos que os oito filhos haviam enfeitado com flores colhidas no jardim da casa", relembrou.

Além das tortas de palmito ou repolho, segundo Gisila, também é tradicional nas mesas de café da manhã da Páscoa pomerana o "bolo ladrão", que é composto por massa normal de biscoito, porém com um detalhe com goiabada derretida e massa enrolada.

Para ela, que é empreendedora do Agroturismo, é necessário manter todas estas tradições. "Pois, se não for assim, a história de um povo acaba. E nós, pomeranos, fazemos isso muito bem", concluiu.

Domingo de Páscoa

O Domingo de Páscoa é marcado por grande alegria. Nele são pintados e encontrados os ovos, ou, como chamam os pomeranos, "Oosterëger Fijnen". De acordo com informações da Secretaria de Cultura e Turismo de Santa Maria de Jetibá, quando foi colonizada a chamada "Terra Fria" ou "Kulland", os imigrantes pomeranos trouxeram da Europa o costume de presentear as crianças com ovos cozidos e coloridos na manhã da Páscoa.

Para pintar os ovos, o povo tradicional pomerano encontrou nos trópicos uma planta nativa denominada "oosterknuren" ou "oostergras", em português conhecida como marupari, marupá ou tiriricão, cujo bulbo passou a ser usado para tingir os ovos. O processo consiste em separar os bulbos da folhagem, cortá-los em pedaços e colocá-los em água fervente. Posteriormente, são mergulhados os ovos ou somente as cascas, deixando-os cozinhar. A coloração natural adquirida é um tom semelhante ao roxo, característico da Páscoa.

Para as crianças é festa! O domingo é dia de encontrar os tão esperados ovos da Páscoa. Em tempos mais antigos eram ovos de galinha cozidos e pintados que predominavam, sendo os ovos de chocolate uma introdução mais recente. Os ovos são colocados nos ninhos no início da madrugada do intitulado "Domingo longo", já que as crianças ficam acordadas por mais tempo para ver o famoso e bondoso coelho.

Também no domingo, outro costume entre os pomeranos, desde a Idade Média, é, logo pela manhã, fazer a brincadeira do "stüpen", que consiste em acordar bem cedo os jovens, respingando água neles com um galhinho de murta empapado.

CURIOSIDADE: "A ÁGUA DA PÁSCOA"

Chamada pelos pomeranos de "oosterwåter", a água da páscoa é um costume que visa trazer beleza e saúde para a família. A água deve ser coletada em uma fonte antes do nascer do sol, por jarro ou balde carregado na mão direita, em total silêncio. Com a mesma mão na água do riacho deve-se então proferir: "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

No caminho de casa, deve-se novamente dizer o nome da Santíssima Trindade, por três vezes durante todo o ritual. Chegando em casa, a água, considerada sagrada, deve ser envasada em garrafas. Esta água deve ser então conservada e pode ser usada para males que possam afetar as pessoas da casa.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais