É um grande clichê dizer que a arte que mais mexe com a gente é aquela que lembra a infância. A grande reviravolta do filme "Ratatouille", da Pixar, por exemplo, acontece quando o temido crítico Ego -psicanalistas vão à loucura- dá uma garfada no prato e se lembra de quando comia a mesma coisa quando era menino.
É exatamente essa a sensação de jogar "Yuki". Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Arvore, o jogo usa realidade virtual -VR, na sigla em inglês- para transportar os jogadores para uma época da infância em que se inventam mundos e aventuras brincando com bonecos.
A história do game é simples. Você é uma criança que, ao tocar no boneco da guardiã espacial Yuki, é transportada para o mundo dela, lutando contra aliens para recuperar o "poder da criatividade" roubado por eles. O jogo mistura os gêneros "roguelike", no qual a morte é permanente e é preciso voltar para o início a cada falha, e "bullet hell" -como o nome sugere, jogos com uma chuva de balas e projéteis na tela, dos quais é preciso desviar enquanto devolve o fogo.
A grande sacada aqui é que, com o VR, o jogador está imerso na ação, tendo muito mais liberdade para realizar movimentos com Yuki e desviar dos ataques inimigos e dos obstáculos do percurso. O modo como você controla a heroína com uma das mãos, movendo o controle exatamente como moveria um boneco voando pelo ar, é excepcional. Com a outra, o jogador controla o parceiro de Yuki, um robô simpático que ajuda a coletar pontos e pode congelar inimigos.
Entre uma morte e outra, Yuki vai acumulando melhorias permanentes, o que significa que cada tentativa é um pouco mais fácil que a anterior. Não que o jogo seja muito difícil -existem alguns trechos mais desafiadores e chefes interessantes, mas que com alguma prática se tornam mais simples de vencer.
O que garante que o jogo não fique repetitivo ou chato, sempre um risco quando se fala de "roguelikes", é a jogabilidade inovadora e a trilha sonora que anima a ação.
Outro ponto forte são os detalhes visuais. Yuki se parece muitíssimo com um boneco de colecionador que você encontraria em lojas especializadas por aí, e o jogo traz a possibilidade de trocar o equipamento que ela usa para voar, cada um com pontos fortes e fracos diferentes.
Os inimigos têm um design um pouco menos criativo, com exceção do primeiro chefe, uma enorme serpente que, com a ajuda do VR, parece gigante e intimidadora. O jogo tem seis fases e três chefes no total, sendo relativamente curto -em pouco mais de uma hora e meia de teste, este repórter conseguiu chegar à quarta fase.
O principal problema do jogo, entretanto, fica fora da tela. A quantidade de pessoas que têm algum tipo de equipamento de realidade virtual ainda é pequeno, mesmo lá fora. De acordo com uma pesquisa de março de 2020 feita pela Entertainment Software Association dos Estados Unidos, 73% dos 169 milhões de gamers naquele país tinham algum console, mas só 29% tinham um equipamento de VR. Aqui no Brasil, com preços por volta de R$ 3.000, é difícil de imaginar que a parcela seja significativa.
O que é uma pena, porque mais pessoas deveriam jogar "Yuki" e se encantar com o modo como o jogo recupera o mundo de possibilidades que é a imaginação da criança.
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