Não é exagero dizer que o cineasta Domingos de Oliveira, morto em 2019, aos 82 anos, talvez represente o símbolo máximo do adjetivo "carioquice". Como um bom nativo da Cidade Maravilhosa, era apaixonado por Copacabana, amante de sua boemia (e dos charmosos bares) e, como fazia questão de ressaltar, sempre foi "enfeitiçado" pelo poder de sedução de suas belíssimas mulheres.
Seu primeiro filme, "Todas as Mulheres do Mundo" (1967), estrelado pela "eterna" Leila Diniz (esposa do cineasta na época) e Paulo José, serve de matéria-prima para uma série homônima, de 12 episódios, que estreia nesta quinta (23), na Globoplay. A TV Gazeta (ES) exibe o primeiro capítulo (como uma espécie de pré-estreia), logo após o "Big Brother Brasil 20".
Antes de falar da série, vale a pena contextualizar uma conversa que o autor da matéria teve com o cineasta em 2006, durante o lançamento de uma de suas obras mais controversas, "Carreiras", estrelado por Priscilla Rozenbaum, ex-mulher e uma de suas atrizes-fetiche, presente em vários projetos do realizador.
"Às vezes, me sinto como um cronista do Rio. Em meus projetos, adoro discutir os problemas sentimentais, os encantos e os desencantos amorosos dos moradores da cidade, especialmente as mulheres. Acredito que seja meio obcecado (no bom sentido) por isso", brincou, na época.
A frase, que poderia transformar Domingos de Oliveira em uma espécie de Jean-Claude Brisseau (cineasta francês conhecido por filmes que objetificavam as mulheres, como "Coisas Secretas", de 2002) brasileiro, soa como antítese.
"Todas as Mulheres do Mundo" - o filme e a série - não passam nem perto de um eventual conceito de objetificação feminina. A principal obra de Oliveira ressalta um homem que demonstrava ter conhecimento sobre as relações humanas, especialmente pelos desejos mais secretos do chamado sexo frágil.
Domingos de Oliveira chegou a participar do projeto da Globoplay, auxiliando na modernização da história para os dias atuais e ajudando os roteiristas Jorge Furtado e Janaína Fischer na criação de novos personagens.
Trocamos muitas figurinhas sobre esse projeto. Em alguns episódios, há trechos originais e poesias inéditas dele, confessa Jorge Furtado, em entrevista ao "Divirta-se". Sete textos originais do dramaturgo foram usados como referência: Todas as Mulheres do Mundo; Amores; Separações; Os Inseparáveis; A Primeira Valsa; BR 716; e Largando o Escritório.
Contando uma história em cada episódio, a trama desvenda os dilemas de várias mulheres, suas "desintoxicações amorosas" e diferentes formas de amar. Elas compartilham o encanto de viver um amor (à primeira vista) pelo mesmo homem: Paulo (Emílio Dantas), apaixonado pela liberdade, pela poesia e (lógico) pelas mulheres.
Ele tem uma obsessão: a paixão mal resolvida por Maria Alice (Sophie Charlotte). Ainda no elenco da série, nomes de peso, como Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres, Fábio Assunção, Maria Ribeiro, Felipe Camargo e Maeve Jinkings.
"Domingos era um filósofo, com textos que não traziam nenhum clichê. Não tem nenhuma frase feita ou obviedade em seus trabalhos. É surpreendente como sempre conseguiu ser original, construindo uma obra única. O maior desafio de escrever uma série que o homenageia foi criar um material igualmente original", adianta o realizador, conhecido nos cinemas por obras-primas, como o curta "Ilha das Flores", vencedor do Festival de Berlim em 1989.
Muitos personagens da série, especialmente os que não fizeram parte do filme laçado na década de 1960, são baseados em textos originais de Oliveira. "Tivemos que ampliar a trama, criando novas cenas e fazendo com que elas se encaixassem no espírito do Domingos. Aos poucos, fomos pegando o estilo dos personagens e a lógica dele de escrever diálogos, de pensar o mundo de outro jeito", relembra.
Até o fim da vida, Oliveira continuou escrevendo poemas, reflexões e livros, muito desse material ainda está inédito. "A Priscilla (Rozenbaum) nos passou muita coisa nova. Nessa série não tem bandidos, ninguém ruim ou do mal. Todo mundo é bacana de algum jeito. É gente tentando viver, se apaixonar e ser feliz", complementa Furtado.
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