Pensar em uma palavra que possa definir Jace Theodoro (se ela realmente existe) é tão complexo quanto a personalidade do jornalista. Queimando alguns neurônios, chega-se à conclusão que multifacetado certamente seria a melhor escolha.
Ator (discípulo de Maria Clara Machado), bailarino contemporâneo, assessor de imprensa, carnavalesco e cronista de apurado senso crítico e rara sensibilidade, Jace lança seu quarto livro, Olhar de Aceno para os Lados, nesta quinta-feira (5), às 19h, no Cerimonial Dugê, em Vitória.
Trata-se de uma compilação de 53 textos do autor publicados em mais de 12 anos como cronista de A Gazeta. Um time de bambas (parafraseando o universo do samba, que Jace tanto adora) completa a harmonia de Olhar de Aceno...: Bernadette Lyra escreve a orelha do livro. Amarildo, também do time de A Gazeta, é o responsável pelas ilustrações. O prefácio, por sua vez, ficou a cargo de Francisco Aurélio Ribeiro, presidente da Academia Espírito-Santense de Letras.
Jace Theodoro (que é fã de Rubem Braga e Carlinhos Oliveira) tem uma definição muito pessoal sobre o ofício de cronista.
É importante lançar um olhar humano sobre as tormentas do cotidiano, sempre com bom humor e senso crítico para abordar temas muito duros, como o racismo e a homofobia, por exemplo, exclama, parando para pensar...
Após um longo suspiro, soltou uma afirmação peculiar, à la "Jaceano" (o jornalista acabou de inventar isso!): A crônica é uma espécie de ritual para falar um pouco de mim, da minha vida e de meus dilemas como cidadão do mundo, acrescenta.
Sobre a seleção dos textos contidos na publicação, o escritor confessa que usou seu feeling de jornalista. Escolhi as transcrições que mais ressaltam o olhar em torno do meu dia a dia. Pensei em composições que expressavam alegria, dor e empatia, sensações díspares, mas que complementam a essência da sociedade, filosofa.
Em Olhar de Aceno para os Lados, há duas crônicas muito particulares para o autor, que podemos chamar de preferidas (mesmo ele não gostando desta definição): Ainda e Sempre o Outro e O Outro em Nós.
Agora, conversando com você, me deu um insight. São dois textos que abordam empatia e solidariedade, sentimentos muito em escassez na sociedade ultimamente. Afinal, vivemos em um ambiente de desamor e falta de afeto, alfineta, com tristeza.
Relembrando as crônicas: Ainda e Sempre o Outro mostra um mendigo deitado na porta de um banco e várias pessoas o ignorando, passando por cima de seu corpo; e O Outro em Nós, que relata um grupo distribuindo alimentos para moradores de rua durante a madrugada.
Afirmando que o cronista pode ser visto como "um fiscal sempre pronto para cobrar os abusos das instâncias públicas" (sejam os governantes ou a própria sociedade), Jace Theodoro conta que é difícil ter senso crítico no atual momento político por que passa o país.
Estamos vivendo um estado de censura e de incapacidade (lê-se também liberdade) de nos expressarmos como queremos. É um momento sombrio, pois somos governados por pessoas que não possuem senso ético e estético, ou seja, não sabem o que é arte, ou mesmo a definição de cultura. Essa falta de conhecimento logicamente leva à irracionalidade. Portanto, é muito mais fácil culpar, vilanizar e desprezar o artista, o grande incentivador de senso crítico na população, brada, irritado.
Jace faz questão de contextualizar situações que considera absurdas, afirmando como sendo um dos vários circo dos horrores que permeiam o atual governo federal.
Chegamos ao ponto de um membro do governo (Roberto Alvim, na ocasião diretor da Funarte) chamar Fernanda Montenegro de sórdida e mentirosa. É um desapego total ao nosso patrimônio cultural. Temos exemplos de duas mulheres que sempre lutaram pela arte e que fazem da mesma um ato cada vez mais de resistência: Fernanda Montenegro e Bernadette Lyra. Dedico o lançamento do livro a elas, revela, com a sua conhecida exaltação para falar sobre assuntos que lhe fascinam.
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