Depois da passagem pela política, dos anos comandando a Rede Gazeta e da sua história com a música, Cariê Lindenberg (1935-2021) investiu em outra paixão: a partir de 2001, a escrita ganhou um capítulo a parte na sua vida e, em 18 anos, oito livros foram publicados - o último deles em 2019.
No lançamento de sua primeira obra, “Eu e a Sorte”, Cariê contou que entrou “nesse negócio de literatura - se é que se pode chamar assim - por acaso, no dia em que recebi um ofício da Prefeitura de Vitória convidando a participar do projeto Escritos de Vitória. Vi que não ia mal, pois as pessoas elogiavam”. Além disso, a vida de aposentado contribuiu para que ocupasse o tempo escrevendo.
No livro de estreia, Cariê reuniu 51 crônicas com casos da sua vida pessoal e profissional, com bastidores da política, do jornalismo e do comportamento humano, incluindo o acidente que sofreu ainda jovem e que atribui sua sobrevivência à sorte. E, ainda que algumas histórias tenham sido um pouco “enfeitadas” - segundo suas próprias palavras -, não há mentira em nenhuma delas.
Dois anos depois, em 2003, Cariê lançou seu segundo livro, "O Galinha e Elas", que ele mesmo classificou como um “ensaio não-acadêmico, digamos que é pseudo-científico". Em seu ingresso na literatura ficcional, o empresário e presidente do Conselho de Administração da Rede Gazeta escreveu sobre os homens: "A gente conhece muita literatura sobre relacionamento humano, sobre casamento, essas coisas, mas ninguém nunca se preocupou com a maioria dos homens que são galinhas", explicou à época, com seu habitual bom humor.
Em 2005, com "Pingos e Respingos", ele retorna aos assuntos de sua própria trajetória e conta, narrando em terceira pessoa, a enchente de 1979 que assolou o Espírito Santo, especialmente o Norte, causando enormes prejuízos e deixando milhares de pessoas desabrigadas. Relatando os episódios da época, o livro traz um pouco mais da figura de Cariê como um homem da fazenda, que foi voluntário, dentre muitos outros, para ajudar depois do desastre natural. No fim, a obra mostra que a solidariedade venceu.
Ainda em 2005, em mais um estudo: Cariê lançou "GLS: Entenda as Entendidas", depois de uma pesquisa de dois anos com várias pessoas, homo e heterossexuais, e entrevistas com dez lésbicas. Como bom defensor da liberdade de expressão, Cariê pensou no livro como uma forma de contribuir para uma maior compreensão do universo LGBT+ na época.
Seguindo sua alternância entre pesquisas e assuntos pessoais, Cariê chegou ao quinto livro em 2009, "Bis + Cinco", reunindo 30 artigos publicados originalmente em A Gazeta, entre 2001 e 2008, um texto longo sobre Vitória e mais cinco crônicas inéditas. Dentre os temas de sua trajetória, a política é o mais frequente. "Tudo fazia crer que eu seguiria também uma carreira política. Mas, desde que cheguei ao jornal, percebi que talvez pudesse ser mais útil com minha atividade empresarial, em vez de ser deputado ou senador", contou ele no lançamento da obra.
Em 2016, Cariê resolveu visitar suas memórias do período vivido no Rio de Janeiro. Em "Memórias Cariocas e Outras Memórias", Lindenberg reúne crônicas que revisitam os anos de 1957 e 1963, época em viveu no Rio de Janeiro, estudou Direito e iniciou a vida profissional. Neste período, vivendo na Zona Sul e amante de música e boemia, reencontrou Roberto Menescal, fez amizade com Miele e viveu "muitas travessuras" como conta na obra.
Mas o livro não para por aí. Na segunda parte de "Memórias Cariocas...", ele fala de personagens únicos na história como Newton Mendonça e Nelson Bonfante, cuja importância nas telecomunicações é contada em detalhes. Um livro carregado de memórias, que mostram o espírito alegre, generoso, inteligente e musical de Cariê, e seria o embrião de sua última obra: "Vou Te Contar" (2019).
Mas junto com "Memórias Cariocas..", Cariê também lançou “Muito Longe do Fim", que traz um retorno às origens da sua família: política. Reunindo uma coletânea de artigos sobre o tema publicados por Lindenberg em A Gazeta, a obra já previa alguns dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Segundo ele explicou, na época, o título se refere às consequências da corrupção na sociedade brasileira.
"A crise pode, supostamente, terminar rapidamente. Pode terminar hoje no Congresso Nacional. Mas jamais você vai conseguir suturar a circunstância brasileira de hoje, com problemas de segurança, saúde e de educação".
O livro que encerra a trajetória de Cariê na literatura, traz em suas 350 páginas as memórias desde sua infância, passando pela adolescência, vida de adulto e a carreira na Rede Gazeta, chegando em sua aposentadoria. "Eu encontrei a vida na Gazeta e larguei todo o resto que eu fazia. Talvez, um terço ou mais das histórias do livro sejam vinculadas à Gazeta porque foi a coisa mais importante da minha vida, além da agricultura, que é uma outra história", contou na época.
Uma dessas histórias, por exemplo, conta todo o perrengue que foi conseguir fundar a TV Gazeta no Espírito Santo como afiliada da Globo, bem como as difíceis reuniões com os Marinho.
Como homenagem à empresa, antes do lançamento oficial do livro, Cariê distribuiu exemplares autografados para os funcionários em sessões privadas na sede da empresa, em Vitória, e nas regionais em Linhares, Colatina e Cachoeiro de Itapemirim. Um gesto de consideração tão característico da personalidade de Cariê.
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