No próximo domingo, dia 28 de junho, é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, e para homenagear a resistência e lembrar a importância da luta, linguistas internacionais e artistas queer brasileiras comentam a importância do Pajubá, não apenas como manifestação linguística cultural, mas também, como movimento que ajudou a salvar vidas durante o regime militar no Brasil.
Hoje, conhecido como uma linguagem queer, o Pajubá nasceu como forma de subversão ao sistema, ao mesmo tempo funcionava como uma estratégia de sobrevivência das pessoas sexo-gênero dissidentes, explica Carlos Henrique de Lucas, professor e autor do livro "Linguagens Pajubeyras: Re(ex)sistência cultural e subversão da heteronormatividade".
De acordo com o pesquisador, apesar de muitos acreditarem que o Pajubá formou-se em meio a Ditadura Militar, ele defende que as linguagens pajubeyras tenham surgido antes desse período através das relações culturais dos praticantes do Candomblé e Umbanda e as vivências não heterossexuais.
Penso as linguagens pajubeyras como estratégias políticas e culturais de superação de uma realidade que se mostrou tenebrosa para as travestis e as beeshas afeminadas. A importância do Pajubá tem sido constantemente destacada na arte, refletindo a resistência cultural. Recentemente, ganhou projeção internacional com o lançamento do álbum Pajubá, da cantora Linn da Quebrada. Conquistou também outras esferas, como a prova do Enem, por exemplo, mostrando sua importância cultural, histórica, social e política.
A recente repercussão do Pajubá levou 150 linguistas internacionais do aplicativo de idiomas Babbel que é considerada uma das empresas de educação mais inovadoras da Europa a conhecerem os significados das expressões pajubeyras e elegerem as mais brilhantes, segundo tradução literal, contexto e significado.
Para isso, Vitor Shereiber, brasileiro que é Gerente de Projetos Didáticos na sede da Babbel, em Berlim, traduziu e contextualizou dezenas de termos e expressões para que especialistas americanos, britânicos, espanhóis, italianos, franceses, alemães, entre outras nacionalidades pudessem eleger as mais criativas.
Formado em Letras Português/Alemão pela UNESP, Shereiber comenta que algumas línguas, como o turco e o indonésio, por exemplo, também possuem linguagens queer, mas a genialidade e o humor contidos no Pajubá são muito particulares.
As frases eleitas pelos gringos também estão entre as preferidas de artistas brasileiras como Lia Clark e Kika Boom, que apontaram "fazer a louca" e bater cabelo como suas preferidas. "Uso muito 'bafo', 'fazer a louca', 'ta boa?' e entre outros. Acho que termos nossa própria linguagem mostra como somos excluídos da grande sociedade como um todo, sim!", destaca Lia.
O Pajubá nos acolhe, mas também nos solidifica como comunidade, que construiu sua comunicação e o seu contexto. Na ditadura, essa linguagem salvou vidas e continua sempre atualizada. Eu utilizo muito no meu dia-a-dia expressões como mona, bater cabelo, mana, comenta Kika Boom.
Virar o rosto de uma maneira esnobe com o intuito de ignorar alguém.
Arrasar na pista de dança. Nos anos 1990/2000, dançar jogando o cabelo fervorosamente era um dos movimentos preferidos das drag queens nos palcos e nas festas.
Originalmente uma citação da cantora Lana del Rey. No Pajubá, a expressão é usada para descrever uma sensação momentânea de desânimo, cansaço ou tédio.
Ignorar consequências óbvias deliberadamente. Frequentemente usada com o sentido de "não tente me enganar" (não faça a louca). É importante notar que, apesar de ser usado principalmente por homens gays, o adjetivo se mantém no feminino.
Quem mostra coerência/ lucidez em seus argumentos.
Homem extremamente atraente.
Barbie é um homem gay e musculoso. Susy é sua contraparte "mais barata", que precisa malhar mais para chegar ao nível Barbie.
Referência a uma cantora brasileira que ficou famosa nos anos 1980. A expressão significa agir como se não estivesse vendo algo, ignorando alguém ou algum acontecimento como se fosse cego.
Significa pegar um táxi. A expressão é uma referência a uma cantora e apresentadora de TV. Ela ficou famosa nos anos 1980 cantando uma versão brasileira da canção francesa Joe le taxi.
Fazer uma apresentação de tirar o fôlego, seja em um contexto artístico, social ou profissional. A expressão completa "fechar o tempo" significa "uma tempestade que está chegando". Mais tarde, o termo lacrar começou a ser usado no mesmo sentido.
*Andressa Dantas
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