Stel Miranda sentiu na pele as problemáticas sociais de uma pessoa que nasce e é criada na periferia no caso dele, em São Pedro, Vitória. Apesar de ter sido educado em lar cristão, o escritor, há cinco anos, começou a escrever O Evangelho Segundo os Oprimidos, lançado nesta terça (15). Nas 48 páginas da obra de estreia do capixaba, o autor questiona e desconstrói a imagem sagrada de Deus que, segundo ele, reforça mazelas da sociedade atual.
O livro não é para descontruir Deus. É para desconstruir a ideia que se formou em torno dele. Acredito que a sociedade está doente e um dos motivos é o entendimento do sagrado, que é o local que você vê o milagre. Mas esse é um caminho sem opção para quem mora em periferia. Na madrugada, quando a segurança não está presente na periferia, a gente tem certeza que Deus não anda por aqui, explica.
O escritor, que se diz agnóstico (quem acredita ser impossível afirmar ou não a existência de Deus), se inspirou nas próprias vivências para construir a narrativa que se baseia toda na história de quem vive à margem da vulnerabilidade social. Pela criação, admite até ter entrado em embates pessoais enquanto redigia os capítulos da obra, mas com o tempo entendeu que a crítica é em torno da aplicação dessa ideia religiosa toda e não da força superior que a regeria.
O livro tem tudo a ver com minha vivência na periferia. Não sou ateu, sou agnóstico, nasci em berço cristão e ilustro no livro a minha visão de como essa idealidade, dessa imagem sagrada, é apresentada, como se dá... O livro é resultado dessa experiência, das problemáticas sociais na periferia, corrobora.
E continua analisando: Até leituras mais modernas da Bíblia, como o capítulo dois de Romanos, têm interpretações altamente machistas, homofóbicas, racistas... E essa leitura é que fabricou a sociedade em que estamos hoje. A questão é entender que aquela leitura fez isso e absorver que ela não cabe mais hoje em dia. Não cabe mais do jeito que é escrita lá, hoje.
Stel, que já está com o livro à venda, vem colecionando tanto elogios quanto críticas severas sobre o teor do livro, que é um tanto polêmico. Mas diz que já esperava a repercussão polarizada: Estou sendo xingado e amado (risos). Vejo isso com total tranquilidade, porque meu papel não é convencer nem mudar ninguém. (Meu papel) é que esse livro possa estimular pessoas à crítica, estimulá-las a buscar a verdade universal... Ou seja, não precisa ser racista, homofóbica, misógina para ser cristão.
E finaliza: Quando você escreve sobre esse tema, você paga um preço. Talvez as pessoas realmente não aprovem, mas isso nunca foi problema. Eu escrevo para a periferia. Eu passei pelo tráfico, pelo crime, sou ex-morador de rua, ex-dependente químico... Então, se alguém falar mal ou não, não tenho problema com isso. O machismo me ofendeu antes, o racismo, a misoginia... Todos eles me feriram e quase me mataram.
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