A perda de Luiz Paixão, morto nesta terça-feira (1), aos 96 anos, por conta de uma broncopneumonia aspirativa, deixou órfãos personalidades, artistas e fãs do "jazzófilo", conhecido por sua simplicidade, delicadeza no trato com as pessoas, e por deter um grande conhecimento de música, especialmente os estilos jazz e Bossa Nova.
O violonista Victor Biasutti, que o tinha como mestre e é um dos moderadores do grupo do Facebook "Luiz Paixão - Eterno Professor", fez questão de revelar os bons momentos passados em companhia de Paixão. "Minha ligação com ele veio do amor em comum que temos pela música", relembra, com emoção.
"Toco na noite e, há mais de 20 anos, nos conhecemos. Ele sempre acompanhava as apresentações, com o seu sapato multicolorido, no estilo norte-americano. O Luiz cantava ao meu lado, especialmente as faixas de jazz e bossa. Era mestre em entreter, fazendo esquetes vocais e contando um pouco de sua história e da relação que tinha com nomes consagrados, como David Brubeck e Billie Holiday", aponta.
"Ele detinha uma informação muito grande e era generoso, pois gostava de compartilhar com todos seus conhecimentos. Era muito conhecido por presentear os amigos com cópias de CDs raros e fazia isso com muito carinho", destaca Biasutti, confessando ser fã da tradução para o inglês de "Marina", de Dorival Caymmi, feita por Luiz, que era professor da língua. Abaixo, veja a versão da música em vídeo com Luiz Paixão e Victor Biasutti.
Biasutti revela que Paixão recebeu várias homenagens de cantores e amantes do jazz. "Fazíamos apresentações dedicadas a ele no extinto Wunderbar (em Vitória). O 'Clube da Música', no Spirito Jazz (também na capital capixaba), costumava fazer, às segundas-feiras, noites temáticas. Luiz também ganhou várias homenagens", rememora.
Por falar em homenagens, o músico capixaba vai manter o Facebook para manter a memória viva de Luiz Paixão. "Vamos usar esse espaço para fãs, alunos e admiradores de seu trabalho expressarem esse carinho", ressalta.
Outro destaque do Luiz Paixão compositor, de acordo com Victor, era "Minha Bossa". "O vídeo da música tem a letra da canção escrita por Paixão, de seu próprio punho. Está logo no início, com a assinatura dele", ressalta. Abaixo, veja o clipe.
Jornalista, escritor e crítico musical, José Roberto Santos Neves relembra bons momentos passados em companhia do estudioso da música. "Conversar com Luiz Paixão sobre jazz era o mesmo que fazer uma viagem à Era de Ouro de Hollywood, dos grandes musicais, do swing, do apogeu de uma cultura musical sofisticada e que teve sua extensão no Brasil por meio da Bossa Nova – outra de suas paixões declaradas", enfatiza.
José Roberto, além de escrever um artigo em A Gazeta para falar sobre a perda de Paixão, prestou uma homenagem nas redes sociais. "A nós, restam a saudade e as lembranças do nosso maior 'jazzófilo', que viveu o jazz e a música com a intensidade e a honestidade de que só os profundamente bons são capazes. Gratidão, mestre!", escreveu.
A vida, o pensamento e as histórias de Luiz Paixão também chegaram ao cinema, no documentário em curta-metragem "Luiz, Paixão pelo Jazz", de Eurico Scaramussa, em 2018.
Montador e roteirista da película - que rodou vários festivais no Estado e fora dele - o cineclubista e diretor Marcos Valério Guimarães ressaltou o trabalho de Luiz Paixão pela música capixaba.
"Eurico (Scaramussa), assim como Luiz, é um colecionador, essa figura que transforma sua paixão em memória, o que acaba sendo fonte de pesquisas e referências para o processo da Cultura e da arte", define o realizador.
"Não conhecia Paixão em toda a sua dimensão, e o filme foi a oportunidade de mergulhar em um universo musical excepcional, nas vertentes do jazz e da Bossa Nova, embalado em ótimas aventuras e eventos em torno de grandes estrelas, como Sarah Vaughan, Dave Brubeck, Norman Granz, Jo Jones, Dizzy Gillespie, Billie Holiday, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, entre muitas outras figuras, além de entender a paixão (sem trocadilho) do Luiz pela música e a sua apaixonada relação com esses astros, materializada nos incontáveis autógrafos que repousavam em sua coleção", relembra.
"Chamo a atenção para a sequência final do filme, onde Luiz faz um encontro magnífico com as nossas maravilhosas Andreia Ramos e Márcia Chagas. Um mergulho na paixão pelo jazz, numa bossa incrível."
Sobrinha de Luiz Paixão, Leila Barros ressaltou sua importância para a música capixaba e nacional. "Sem dúvidas, foi uma das pessoas que mais entendia de música no Estado. Luiz Paixão respirava isso, pois viveu a melhor época da cultura nacional. Nos anos 1950, por exemplo, viu a Bossa Nova nascer de perto", complementa.
Leila afirma que, com o passar do luto, a família vai decidir o destino do imenso acervo de CDs, DVDs, fitas K7, VHS, cartazes e um vasto material sobre música que o estudioso guardava em sua casa, em Vitória, o que ele carinhosamente chamava de "templo sagrado".
"Vou sugerir que se faça um acervo público, porque as obras da coleção dele são um patrimônio cultural que deveria ser disponibilizado para sociedade capixaba", complementa.
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