Paulista de nascença, mas nortista de corpo e alma, Mariana Aydar (39) vive um momento ímpar na carreira. Cada vez mais próxima da cultura de raiz do povo brasileiro, a filha do músico Mario Manga, do grupo Premê, e da produtora Bia Aydar, que foi empresária de Gonzagão, comemora o lançamento de seu quinto álbum, Veia Nordestina. Já disponível nas plataformas digitais, as 12 faixas têm como protagonista o forró em todas as suas vertentes e estilos.
O ritmo que consagrou nomes como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro também é o responsável por trazer Mariana a terras capixabas. A intérprete é uma das atrações do Festival de Verão Forró de Itaúnas, que acontece de 27 de dezembro a 1º de janeiro, em Conceição da Barra.
A cantora é uma das convidadas da apresentação do Trio Dona Zefa, marcada para a festa de Réveillon, no dia 31 de dezembro. O evento traz, entre outras atrações imperdíveis para os fãs do bate-coxa, as presenças de Geraldo Azevedo, Carol Santanna e Mestrinho.
Em bate-papo com o Divirta-se, Mariana Aydar falou sobre a experiência sensorial de se apresentar em Itaúnas. "É um símbolo do forró, um lugar mágico marcado pela paixão pela dança. É uma relação muito forte com a cultura de raiz", responde, em tom de admiração. Ainda durante a conversa, a artista falou sobre o novo disco, avaliou o atual estágio do forró (marcado por um forte teor mercadológico) e revelou sua versão de mulher empoderada.
Por falar em poder do feminino, o disco apresenta músicas que mostram a força e liberdade de escolha das mulheres, quebrando pensamentos machistas e patriarcais e elevando o empoderamento como um dos temas principais. Em "Triste, Louca ou Má", regravação da banda Francisco, El Hombre, Mariana escolheu Maria Gadú para dividir os vocais. Em "Condução", por sua vez, a forrozeira canta sobre a mulher que conduz a "dança da vida". Abaixo, veja o clipe de "Triste, Louca ou Má" e ouça "Condução". A seguir, veja trechos da entrevista.
Sou apaixonada pela cidade de Conceição da Barra. A primeira vez que estive em Itaúnas foi em 1997. Depois, em 2002, participei da segunda edição do Festival de Forró. Fazia parte da banda Caruá e acabamos ganhando a competição na época. Fiquei um tempo afastada da cidade, por uns três anos, mas o amor seguiu. Agora, voltei a investir no forró e me reaproximei mais, pois vou a Itaúnas várias vezes por ano. Sempre fui fascinada pela dança que o forró impõe e isso é como uma isca para mim. Lá é o lugar da dança, onde pessoas do mundo inteiro se encontram para dançar. Gosto de me 'embriagar' nesse ritmo alucinante que só Itaúnas tem. Você não encontra isso em nenhum lugar do mundo.
É uma influência eterna. Sou muito sortuda por ter uns pais do meio artístico. Minha mãe não tinha babá. Então, sempre ia com eles nos shows (risos). Via Luiz Gonzaga com muita curiosidade, desde criança. Foi por causa dele, do seu talento e carisma, que me apaixonei pelo forró. Era um homem muito generoso com todas as pessoas mais próximas. Meu pai também é uma grande referência. Tinha como hábito ser muito profissional e tratava a música como prioridade. Isso foi o norte da minha carreira.
"Veia" é um projeto muito especial. Foi pensando em formato de quatro EPs lançados distintamente que, juntos, formaram um álbum físico. Além disso, lançamos uma série de minidocumenta?rios divididos em quatro episo?dios, sempre abordando temas ligados ao universo forrozeiro - os especiais foram dirigidos por Dellani Lima e Joaquim Castro, parceiro de Mariana na direc?a?o do documenta?rio "Dominguinhos" (2014). Vejo o disco como uma forma de agradecimento a uma cultura que contribuiu muito para a minha formação como pessoa.
Farei uma participação com o Trio Dona Zefa. Durante o show, serão apenas duas músicas de "Veia Nordestina". De resto, vamos abusar do forró pé-de-serra. Vou cantar, também, músicas que marcaram a minha trajetória, como "Te Faço um Cafuné".
É a primeira vez que nos apresentamos juntos. Acho um trio de muita representatividade no universo do forró. É um grupo que representa a força da nova geração do pé-de-serra.
Nunca (risos). O ritmo agoniza, mas não morre. Infelizmente, ainda vejo o forró como um elemento marginal na música brasileira. Nunca fomos os protagonistas, como o samba, por exemplo. Espero que essa realidade mude, até porque o forró está se reinventando e ganhado força por meio da dança.
Acredito que sim. O próprio "Veia Nordestina" foi pensado para colocar a visão da mulher como o epicentro desse estilo musical. Acho que o forró ainda é um meio machista. Nas músicas antigas, por exemplo, a mulher sempre era mal vista, especialmente na companhia dos homens. Por isso, sempre que posso, uso a música para atualizar os temas femininos. A música "Condução" é um manual de libertação da mulher, um tratado de como o homem deve se portar com elas, seja na dança ou na vida. "Chilique" e "Se Pendura" também são faixas que abordam o empoderamento.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta