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Mateus Carrieri estrela a peça 'O Vendedor de Sonhos' em Vitória

Mateus Carrieri estrela a peça "O Vendedor de Sonhos" em Vitória

A atração, baseada no best-seller de Augusto Cury, entra em cartaz no Teatro da Ufes nesta sexta (8) e sábado (9), a partir das 20h

Publicado em 4 de novembro de 2019 às 18:53

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Cena da peça "O Vendedor de Sonhos". (Divulgação)

Soa até estranheza o livro “O Vendedor de Sonhos” (2008) ter demorado dez anos para ganhar a sua primeira adaptação (oficial) para os palcos. A obra de Augusto Cury, afinal, é totalmente “teatralizável”.

A estrutura dramatúrgica, por exemplo, conta com poucos personagens em histórias que funcionam como esquetes motivacionais. Há, também, uma trama centralizada, com pouquíssimos cenários e que facilmente se encaixa na realidade do tablado.

Lógico que o fato da publicação ser um fenômeno de popularidade, ganhando adaptações para mais de 50 línguas e vendendo, só no Brasil, cerca de seis milhões de exemplares é um chamariz e tanto.

Dito isso, não é de estranhar o estrondoso sucesso que a montagem “O Vendedor de Sonhos” - apresentada nesta sexta (8) e sábado (9), no Teatro da Ufes - vem fazendo desde a sua estreia, no início de 2018.

“A recepção está sendo fantástica! Já nos apresentamos para mais de 70 mil espectadores em um ano e meio. A peça foi montada em 70 cidades, com mais de 100 apresentações, sempre com um retorno muito positivo”, comemora o eterno galã Mateus Carrieri, de 52 anos, em entrevista ao “Divirta-se” para falar do espetáculo.

A trama versa com a autoajuda ao mostrar os dilemas de Júlio César (Carrieri), um sociólogo em depressão que decide se matar, mas é impedido por um mendigo, conhecido como o Mestre (Luiz Amorim). O rapaz oferece a ele uma "vírgula", para que assim possa reescrever sua história e seguir adiante. Outro personagem importante na obra é Bartolomeu, ou Boquinha de Mel (Adriano Merlini), um bêbado que se une aos dois com o objetivo de vender sonhos, fazendo a sociedade despertar de uma existência doente. A revelação de um passado conflituoso do Mestre pode destroçar a grande missão do Vendedor de Sonhos.

Filosofias à parte, durante o bate-papo Mateus despiu-se de qualquer vaidade e, além de abordar o espetáculo, também falou do início da carreira; sua participação na primeira edição da “Casa dos Artistas”; a carreira como dublador e professor de ginástica; além de relembrar o trabalho como astro do cinema adulto. “Foi uma fase da vida que, se soubesse das consequências que estariam por vir,  nunca teria feito”, desabafou. Em tempo: Mateus chegou a posar nu quatro vezes para uma revista masculina, sendo um dos ensaios com o filho, Kaíke Carrieri, e protagonizou um filme erótico para a produtora Brasileirinhas.

Como é interpretar Júlio César, um personagem extremamente popular de Augusto Cury?

  • É uma grande responsabilidade, pois a adaptação para os palcos foi feita pelo próprio Cury (Augusto). O resultado acabou sendo um texto ainda mais humanístico, com um viés dramático e simples, fugindo da autoajuda e dos estereótipos de palestras motivacionais. No teatro, conseguimos uma comunicação ainda mais direta com o público. É impressionante a repercussão da plateia, pois todos que assistem ao espetáculo se reconhecem nos diálogos. Os questionamentos existenciais dos personagens são universais. Isso explica em parte o sucesso do livro.

Como fugir do tom depressivo ao abordar um tema que ainda é tabu, o suicídio?

  • É uma história que também flerta com o humor e o onírico. Optamos por uma forma mais leve para abordar não só o suicídio, como várias outras doenças "consideradas modernas", como depressão, síndrome do pânico, ansiedade e tristeza profunda.  Fizemos um laboratório emocionante, pois entramos em contato com pessoas que tentaram o suicídio, no intuito de entender os motivos que levam a um ato tão extremo. Além disso, me envolvi com o trabalho do Centro de Valorização da Vida de São Paulo e seu contato com famílias que perderam entes queridos. Os índices de suicídios no Brasil são alarmantes, principalmente entre os jovens de 10 e 14 anos. Encaro a obra do Augusto Cury como um forte fator apaziguador, dando dicas para que sigamos em frente na nossa caminhada, vivendo de forma mais positiva.

A peça está fazendo um sucesso estrondoso, tendo levado mais de 70 mil espectadores ao teatro...

  • A repercussão realmente está sendo impressionante! Nos apresentamos em mais de 70 cidades do Brasil e até no exterior, em um festival de teatro na Colômbia.  Além disso, estamos negociando uma temporada em Portugal. Acho que a simplicidade e a abjetividade dos textos de Augusto Cury são os grandes responsáveis por esse fenômeno. São histórias que fazem embarcar em 'questões interiores', como saúde mental e recolocação na sociedade. O Brasil está vivendo uma fase muito complicada para o meio artístico e conseguimos viajar com uma peça que não tem patrocínio e nem lei de incentivo cultural, somente a força da bilheteria. 

Por falar em momento difícil por que passa o meio artístico, como você avalia a complexa relação dos artistas com o Governo Federal?

  • Vejo com muita tristeza. Viramos uma espécie de vilão para boa parcela da sociedade. Criou-se um estigma de que o artista se aproveitou das "tetas do governo" e outras inverdades usadas com fins eleitoreiros. A extrema direita que governa o país não faz concessões, não tendo pudor em deturpar a história. Até Fernanda Montenegro foi chamada de sórdida pelo diretor da Funarte, Roberto Alvim. Um absurdo inominável.  

Mateus Carrieri, ator. (Reprodução/Instagram)
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Criou-se um estigma de que o artista se aproveitou das 'tetas do governo' e outras inverdades usadas com fins eleitoreiros. A extrema direita que governa o país não faz concessões, não tendo pudor em deturpar a história.

Mateus Carrieri, 52 anos
Ator
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Além de ator, você também está se dedicando à dublagem e às aulas de ginástica. Na dublagem, inclusive, já trabalhou em programas importantes, como o reality show "American Beauty Star"...

  • Adoro fazer várias coisas ao mesmo tempo, pois sempre fui muito ativo (risos). A dublagem é uma nova paixão, um novo mercado que está crescendo muito no Brasil. É um trabalho de atuação mesmo, pois, em alguns casos, uma boa dublagem muda todo o conceito de um filme. Isso me coloca em contato com outra realidade da profissão, dando uma sensação de longevidade na carreira de ator. Já as aulas de ginástica é um amor antigo, desde a década de 1980. Fiz Educação Física e sempre conciliei as duas carreiras. Fiz uma especialização em "Bike Indoor" (também conhecido por "Spinning") e estou adorando dar aulas dessa modalidade. Isso acaba tornando a minha vida ainda mais saudável. Já sou cinquentão e não posso me descuidar da forma física (risos) 

Por falar em forma física, você se considera vaidoso?

  • Sabe que não (risos).  Sempre dei aula de ginástica e trabalhando como professor é natural que meu corpo fique sempre em forma. Não ligo para tratamentos estéticos e nem gosto de me arrumar muito, sou até um pouco desleixado com isso (risos).  No mais, cuido da alimentação, sempre comendo coisas saudáveis e em pouca quantidade. Nunca bebi ou fumei, por exemplo. Minha única exceção são do doces. Sou tarado por eles (risos). Quando tinha 20 anos achava que chegaria aos 50 bem "detonado". Tinha até um certo receio. Fico feliz, pois acho que sou um cinquentão de bem com vida, com o corpo e a mente saudáveis. 

Mateus Carrieri, ator. (Reprodução/Instagram)

Você está há um tempo afastado da TV, sendo o último trabalho no humorístico "Uma Escolinha Muito Louca" (2010), na Band. Algum motivo especial?

  • Quis me dedicar ao teatro. Trabalhei um tempo com Antunes Filho e fizemos trabalhos bem interessantes, como "Nossa Cidade". Comecei na TV muito cedo, fazendo comerciais como o bebê Johnson's . Depois, tive várias participações interessantes, como na novela "Amor com Amor se Paga", quando, aos 17 anos, já me rotularam como galã (risos). Vivo dizendo que saí do radar dos novos produtores e diretores de TV. Sou um ator à moda antiga, conhecido por diretores que hoje já estão mortos ou não estão mais em atividade. Jorge Fernando, por exemplo, sempre tive um acesso ilimitado a ele. Acho que não renovei o meu ciclo de contatos e isso dificultou um pouco.  

Fazer a primeira edição de "A Casa dos Artistas" é um fardo para você?

  • Não, não é! Mas não posso mentir, pois também não é motivo de orgulho. Foi um programa complicado, onde tudo era muito novo e que quase me levou à exaustão. Em 2001, estouramos antes do "Big Brother" e o conceito de reality show ainda era desconhecido no Brasil. Na época, tinha muitas incertezas. Visto hoje, mais maduro, acho que trouxe uma visibilidade que não agregou em nada a minha carreira.

E quanto a ter posado nu e ter feito filmes eróticos? É um tabu para você comentar sobre isso?

  • Também não é! Foi um trabalho marcante na época. Praticamente fui o primeiro famoso que topou se desnudar assim. Às vezes, precisamos fazer alguns tipos de trabalho para ganhar dinheiro. Lógico que preferia não ter feito, porque é muita exposição. Mais maduro, vejo que trabalhar com sexo requer muito cuidado. Sexo sempre vai ser tabu, pois as pessoas quase sempre são preconceituosas em relação a isso. Elas gostam de ver e de consumir. Todo mundo faz sexo (risos), mas assumir que é possível ganhar dinheiro com isso ainda é muito complexo. Eu errei em não perceber isso antes de ter feito um filme erótico.

O VENDEDOR DE SONHOS

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