"Você tem um nome a zelar? Pois eu tenho um nome a lazer", gostava de repetir o humorista Bussunda, mesmo antes do sucesso nacional que alcançou com o programa "Casseta & Planeta Urgente".
Ele curtia mesmo era não fazer nada, mas seu sucesso o impediu de levar a vida na gaita. Morreu, inclusive, quando estava a trabalho, gravando esquetes na Copa do Mundo da Alemanha. A data, 17 de junho de 2006, faz 15 anos agora, e não passará despercebida.
O Globoplay põe no ar a série inédita "Meu Amigo Bussunda", feita sob medida para homenagear Cláudio Besserman Vianna --seu nome verdadeiro-- e divertir e emocionar seus inúmeros fãs pelo país.
É um documentário em quatro partes, muito fáceis de assistir, pela leveza do assunto, qualidade da edição e duração não maior que 45 minutos por capítulo. A direção geral é de Cláudio Manoel, amigo, colega e parceiro da quadrilha Casseta.
Mas comecemos pelo final, pois o último episódio chama a atenção. Ali, há a filha de Bussunda, Júlia Besserman, nos dois lados da câmera, assinando o roteiro e a direção ao lado de Micael Langer.
É de longe o capítulo mais impactante, já que reconstrói o dia anterior à morte de Bussunda, detalhando, por exemplo, que após gravar alguns esquetes, ele se empanturrou de cerveja com eisben ou salsichas, dependendo do entrevistado.
Ao chegar ao hotel, foi jogar bola com Cláudio Manoel e outros no campinho do hotel. Correu, passou mal e não se recuperou mais. Depois de uma noite sem sossego, morreu na manhã seguinte.
Na segunda parte desse último capítulo, a filha, hoje com 27 anos, vai para a frente das câmeras e começa uma investigação para tentar entender um pouco mais de seu pai. Ela tinha 12 anos em 2006. Assim, entrevista amigos do pai, atores, tios, primos, a própria mãe. E também humoristas da atualidade em busca de um conceito caro para sua geração --o politicamente correto.
Quem se lembra daqueles programas semanais do "Casseta & Planeta" na Globo --ou, se nunca viu, basta assistir aos três outros episódios de "Meu Amigo Bussunda"--, sabe que a absoluta maioria das piadas de Bussunda e sua turma eram sexistas para caceta.
Havia anões fazendo figuração em seus quadros. Montes de modelos de biquíni que não diziam uma sílaba. Muita piada terminava com a ameaça de passar a mão na bunda de alguém. O próprio Hélio de La Peña foi criticado por fazer graça com sua negritude e comenta o assunto na série.
Fábio Porchat traz tranquilidade à filha do artista, e aos fãs, ao sugerir que não há nada mais injusto com o humor do que o analisar descolado de seu tempo. Ele tem razão, e não só a respeito do humor, como sobre qualquer outra coisa também.
Portanto, é possível assistir aos três primeiros episódios e dar gargalhadas com a consciência limpa. E lá vamos nós.
O primeiro capítulo traz a infância, adolescência e o início da carreira de Bussunda. Seu brilho dá mostras desde cedo e ele já se destaca como o cara mais engraçado, inteligente, que tem as melhores tiradas e, mais, um rapaz que encanta a todos, de quem todo mundo quer ficar perto.
Mas ser legal assim não enche barriga e seus pais e irmãos o tentavam pôr nos trilhos. De classe média em Copacabana, ele diria depois que foi "fazer comunicação apenas porque não precisava estudar nada".
Seu status de jornalista, no entanto, foi o que o aproximou de Hélio, Beto Silva, Marcelo Madureira e Cláudio Manoel para compor a Redação do fanzine, e depois revista, Casseta Popular. Na concorrência, havia o jornal Planeta Diário, de Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva.
Em comum, a tiração de sarro geral e irrestrita, politicamente incorreta. As duas gangues foram se encontrar na redação da "TV Pirata", programa que reformulou totalmente o humor televisivo no final dos anos 1980.
E viraram uma quadrilha só ao criarem um show musical humorístico que foi o bafon da noite carioca em 1988. O projeto virou o LP de sucesso "Preto com um Buraco no Meio", que trazia entre seus hits o refrão, escrito por Bussunda para sua futura mulher, "mãe é mãe/ paca é paca/ mulher é tudo vaca".
Em 1992, estrearam o "Casseta & Planeta Urgente" na Globo e estouraram no Brasil inteiro. O programa ficaria no ar por 18 anos consecutivos e a turma ainda faria dois longas-metragens e lançaria 11 livros. Nada mal para quem tinha só um nome a lazer.
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