Apelidado pelos fãs de "poeta do samba", Jorge Aragão completou 70 anos em 2019. Antes da pandemia da Covid-19, o intérprete lançou-se em turnê para comemorar a data. O resultado pode ser conferido no projeto Jorge 70: Ao Vivo em São Paulo, uma série de EPs que traz Aragão soltando o gogó em um show gravado na capital paulista, em fevereiro daquele ano. A primeira parte do álbum já está disponível nas plataformas digitais.
É um EP com quatro faixas, trazendo algumas das composições que se tornaram símbolo da carreira do artista: o mix "Papel de Pão/Loucuras de uma Paixão", "Eu e Você, Sempre", "Lucidez" e "Identidade", o destaque do álbum. Afinal, quem nunca se emocionou com o refrão "Quem cede a vez não quer vitória/ Somos herança da memória/ Temos a cor da noite/ Filhos de todo açoite/ Fato real de nossa história"? Pura poesia que reflete a discriminação ainda sofrida pelos afrodescendentes.
"É um projeto muito pessoal, que ressalta o legado autoral que conquistei em quase 45 anos de carreira", respondeu um emocionado Jorge Aragão, em coletiva virtual, que contou com a participação do "Divirta-se", para o lançamento do projeto.
"Escolher o repertório dos EPs foi um momento muito especial. São mais de 70 músicas gravadas, com vários convidados", explica, dizendo que a iniciativa foi se ajustando com o passar dos dias.
"Inicialmente, tinha a ideia de fazer uma releitura em estúdio. Porém, constatamos que nada substitui a força da voz gravada ao vivo. Nesse trabalho, temos 90% das músicas autorais. Esses dados deram um norte para o andamento do projeto."
As datas com os próximos lançamentos de Jorge 70: Ao Vivo em São Paulo ainda não foram divulgadas, mas os seguidores de Aragão esperam "hinos" como Enredo do Meu Samba, Falsa Consideração, Coisa de Pele, Do Fundo do Nosso Quintal e Vou Festejar, esse, sucesso na voz da inesquecível Beth Carvalho.
Com 20 álbuns lançados, Jorge Aragão começou na música em meados dos anos 1970, como integrante do grupo Fundo de Quintal um dos mais emblemáticos do mundo do samba. O artista também é um dos compositores preferidos de cantores como Elza Soares, Alcione, Leci Brandão e Ney Matogrosso.
"Não posso negar que chegar aos 70 anos e ainda atuante no mercado fonográfico é emblemático. Sei do meu lugar no mundo da música e me sinto um artista 'consumível'. É isso que sempre me faz ter vontade de seguir", brinca, mantendo a reflexão sobre sua trajetória.
"Como falei anteriormente, tenho o meu legado autoral, o que me deixa bem resguardado em relação ao futuro", completa, dizendo que não pensa em se aposentar tão cedo.
"Ainda tenho que trabalhar para viver dignamente (risos). A vontade de escrever continua intacta. Às vezes, me vejo no início de carreira, tocando violão no bloco Cacique de Ramos (um dos mais tradicionais do carnaval carioca). Naquela época, expressávamos o nosso estado de espírito dessa forma. Me sinto essencialmente compositor, gosto de criar."
Filosofias à parte, Jorge Aragão apoia a decisão das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo de adiarem os desfiles de 2021. "Precisamos entender o que é a pandemia. É preciso pensar primeiro na saúde das pessoas. Prefiro esperar uma vacina e que as condições sanitárias melhorem", complementa.
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