Não é preciso ir até a Broadway para assistir a musicais de tirar o chapéu. Em Vitória, a atriz, bailarina, cantora, produtora e diretora Elaine Rowena vem fazendo história com seus espetáculos. Em novembro de 2017, a montagem capixaba de Hair foi apresentada pela primeira vez no Sesc Glória, no centro de Vitória, um musical produzido, dirigido e encenado por 68 artistas locais. O espetáculo idealizado por Elaine teve sessões lotadas, surpreendeu os críticos e foi indicado ao prêmio de Melhor Musical do Sudeste no Prêmio Brasil Mundial.
Os musicais estão em alta no Brasil. Em 2014 uma nova montagem da Ópera do Malandro escrita por Chico Buarque de Holanda em 1978, retornou aos palcos do Rio de Janeiro como um grande sucesso de bilheteria. Sassaricando, de Rosa Maria Araújo e do jornalista e crítico Sérgio Cabral, explodiu em 2007, e Tim Maia Vale Tudo, o musical confirmou o interesse do público em 2012. De lá pra cá, o caminho se abriu e vieram outras grandes produções 100% brasileiras e montagens de clássicos da Broadway.
Hair estreou em Nova York em 29 de abril de 1968 e ficou eternizado pela exaltação do movimento hippie. A montagem capixaba nasceu justamente para celebrar os 50 anos desse fenômeno artístico. Encerrada a última temporada do musical, Elaine Rowena prepara um novo espetáculo, que também promete impressionar Webber: Os Grandes Musicais da Broadway celebra os 70 anos de Andrew Lloyd Webber, o maior criador de musicais do mundo. No espetáculo, ainda em processo de produção, Elaine fará um compilado com grandes obras do homenageado: Jesus Cristo Superstar, O Fantasma da Ópera e Sunset Boulevard.
Elaine entrou cedo no mundo das artes. Aos cinco anos começou suas aulas de piano no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. A dança surgiu na sua vida aos oito anos, com as aulas de balé. A artista se formou em Canto Lírico na Faculdade de Música do Espírito Santo, instituição na qual também ingressou no teatro.
Uma artista completa que canta, dança e representa, e faz muito mais. Além de produzir e dirigir espetáculos, é graduada em Psicologia, Artes, Serviço Social e mestre em Educação. Muitas pessoas me perguntam o motivo de ter feito vários cursos na área acadêmica. Cada ser humano é um ser rico e diferente e queria muito entender o lado humano de cada aluno, cada artista. Com isso desenvolvi minha metodologia de trabalho, conta.
Elaine, que nos anos 1990 escreveu, ao lado de Beto Costa, O Guaranizinho, opereta ganhadora do Prêmio Nacional da Petrobrás, conta mais sobre sua carreira, a realidade dos artistas no Espírito Santo, suas produções de espetáculos e a indicação ao prêmio cujo resultado será divulgado no próximo dia 31 de janeiro. Confira.
Como aconteceu seu despertar para a arte?
Meu início foi como pianista. Sou capixaba, mas fui para o Rio de Janeiro com dois anos devido a uma transferência do meu pai. Lá fiz piano no Conservatório Brasileiro de Música e aos sete anos comecei como concertista mirim. Me apresentei em vários locais, inclusive em um programa chamado Concertos Para a Juventude, na Globo. De volta a Vitória, fiz graduação em Canto Lírico e já dançava, fui solista de corpo de balé. Na Fames conheci o maestro e cantor lírico Cláudio Modesto, e foi ele que me levou para o coral. Cláudio continua trabalhando comigo até hoje e é uma pessoa que respeito muitíssimo. Mas não me imaginava cantora, me imaginava bailarina.
E quando passou a se interessar por musicais?
Quando eu tinha 21 anos escrevi uma opereta (uma pequena ópera), O Guaranizinho. Juntei meus amigos, fiz um texto com Beto Costa, hoje doutor em teatro e morando fora do Brasil. Compus 24 músicas para essa peça e ganhei um festival nacional e um prêmio. Essa opereta marcou história e lotou diversas casas nos anos 1990, ficamos em temporada por quatro anos. Era algo muito leve. A minha paixão por musicais é devida a possibilidade de dançar, cantar e teatralizar.
É importante saber fazer tudo isso para um artista participar de um musical?
Mesmo que a pessoa não faça opção por ser profissional de musical ela deve passar por essa escola. Trabalha o corpo, a mente, e vai trabalhar sua disciplina. O artista precisa ter domínio do corpo e da mente para cantar e dançar ao mesmo tempo, por exemplo. É uma escola completa e fantástica.
Como foi a produção de Hair?
Foi um parto que durou nove meses. Queria pessoas diferentes, não queria rostinhos conhecidos. Então fui pra noite de Vitória, lugares que ninguém conhecia, como karaokês. Ocultamos o trabalho durante cinco meses. Quando estreamos foi impactante porque muitos não imaginavam quantos grandes artistas tínhamos em Vitória. Foi um intenso e árduo trabalho. Ensaiávamos cinco vezes por semana e, na reta final, sete dias da semana. Queríamos algo nos moldes de grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo.
O espetáculo mostra os grandes talentos que temos no Estado. Como é ser artista no Espírito Santo hoje?
Mudou muito. A minha geração tinha que sair para fazer cursos. Hoje existe a possibilidade de trazer pessoas para dar cursos aqui. Anos atrás você só conseguia alguma coisa se saísse de Vitória. Mas hoje, com a internet, a facilidade de viajar, tudo isso transformou a vida do artista daqui. Hoje é possível trabalhar em um lugar, fazer temporadas ou trabalhar no final de semana e voltar para Vitória. Nossos talentos estão ficando mais por aqui. O Silva (cantor) é um exemplo, ele continua morando em Vitória e fazendo o trabalho dele fora do Estado. Eu mesma tenho convite para morar em Manaus porque faço a produção vocal do Festival de Parintins, mas acho que Vitória é um lugar aprazível, aqui estão minhas raízes e é a oportunidade de mostrarmos o que tem de bom no Estado.
Como foi ver essa recepção positiva? Você esperava por isso?
Pela qualidade do trabalho, sim. Sou confiante nas pessoas que escolho para o trabalho, mas não esperava essa repercussão com filas e ingressos esgotados em pouco tempo. Foi uma loucura. Até o último dia a casa estava lotada e as pessoas estavam tristes porque iríamos parar.
Qual a importância dessa indicação ao prêmio como Melhor Musical do Sudeste?
A indicação à premiação já é um prêmio para o Espírito Santo. Eu fiquei muito feliz e temos esperança de vencer. Acho que é uma visibilidade importante também para a cultura do Estado.
Por que demorou tanto para os musicais fazerem sucesso no Brasil?
As pessoas estão entendendo que é um teatro cantado e estão adorando. Recentemente muitos musicais que contam histórias de pessoas famosas adentraram a casa das pessoas através da grande mídia. Nossa responsabilidade de artista é trazer a arte para as pessoas e não elitizar. Ao fim do musical fizemos rodas de debates para conversar com o público, é importante que as pessoas entenderem esse universo e chegarem mais perto dele.
Por que decidiu homenagear Andrew Lloyd Webber no próximo espetáculo?
Eu adoro o Webber. Particularmente adoro os musicais Jesus Cristo Superstar, O Fantasma da Ópera e Sunset Boulevard. São 70 anos do maior compositor de musicais de todos os tempos. A vida dele e a alegria dele de viver me fascinam. Ele é um artista grandioso e generoso que fez muitos outros artistas brilharem, como Sarah Brightman.
E como será o musical?
Webber é megalômano, suas peças exigem estruturas grandiosas. Vai ser um compilado de suas obras. Ainda estamos selecionando os artistas porque precisamos analisar quem tem o perfil dos personagem. Precisamos sentir cada artista, analisar por quais transformações eles podem passar. Eu, por exemplo, vou ficar ruiva; a Fernanda Santana, que será Evita, já emagreceu 14kg para a personagem, o artista que vai interpretar Jesus Cristo vai engordar 9kg.
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