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'Momento no ES me deu consciência de estar viva', diz Nathalia Timberg

"Momento no ES me deu consciência de estar viva", diz Nathalia Timberg

Aos 90 anos, a atriz veio ao Palácio Anchieta, em Vitória, ser homenageada com a Comenda Jerônimo Monteiro e anunciar sua peça "Através da Íris" para maio no Espírito Santo

Publicado em 5 de março de 2020 às 19:23

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No Palácio Anchieta, em Vitória, Nathalia Timberg recebe Comenda Jerônimo Monteiro no grau oficial das mãos do governador do Estado, Renato Casagrande. (Camilla Baptistin/Adriana Jenner Assessoria)

Nathalia Timberg conversava com um colega de profissão enquanto o repórter puxava o banco do piano que estava atrás da atriz para se sentar ao lado dela. Posta em uma das poltronas do Palácio Anchieta, em Vitória, ela elogiava Diva Pieranti, famosa cantora lírica brasileira que morreu em 2012, colocando-a como exemplo das artes. "Ela foi a maior soprano que o Brasil já teve", disparou, na noite desta quarta-feira (4), no lançamento do 11º Circuito Banestes de Teatro.

Pouco antes, a estrela de "Através da Íris", espetáculo produzido pela capixaba WB Produções que volta ao Espírito Santo em maio deste ano, foi condecorada pelo governador do Estado, Renato Casagrande, com a Comenda Jerônimo Monteiro no grau oficial, maior honraria que o Executivo pode dar a qualquer personalidade. "Ela (a comenda) é muito mais especial para mim por ser aqui. Vitória é uma cidade que há muito tempo faz parte da minha vida", disse.

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No momento em que estamos vivendo, neste País, em que o reconhecimento da cultura está sendo discutido (risos) e que estarmos vivos aqui (coloca as mãos na cabeça) está quase deixando de ser importante, essa ameaça não pode se concretizar. Enquanto houver gente à frente das forças que podem atuar, reconhecendo a importância da cultura e a importância das artes, do teatro na cultura, tribuna em que sempre se discutiu o homem, talvez por isso incomode tanto. Sou muito grata a esta cidade, deste Estado, deste País, por me oferecer um momento de emoção tão grande e por participar da abertura de algo que é tão importante, que é a abertura de um festival de teatro

Nathalia Timberg
Atriz
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Aos 90 anos de idade, Nathalia posava com a medalha, sorria para uma foto com um fã e outro, e não parava de rasgar elogios para a Capital e o Espírito Santo. Chegou a lembrar de um episódio que viveu em Anchieta, no Sul do Estado, quando avalia que teve a maior conexão de sua vida, que acabou refletindo na arte.

"Estava de passagem com uma companhia de teatro pela cidade quando a escuridão do ambiente e a luz das estrelas que admirava me deram consciência de estar viva. Um momento único na minha vida e que me acompanha, que eu nunca deixarei de lembrar que foi aqui, em Anchieta, que aconteceu", recordou.

Em entrevista exclusiva ao Divirta-se, Nathalia ainda detalhou sobre seus 66 anos de carreira profissional, o contato imediato e energia com o público que frequenta suas peças e como ela lida com a idade.

A vice-governadora do Estado, Jaqueline Moraes, o governador do Estado, Renato Casagrande e a primeira-dama do Estado, Virgínia Casagrande entregam a Comenda Jerônimo Monteiro no grau oficial à atriz Nathalia Timberg: noite de homenagem no Palácio Anchieta, em Vitória. (Camilla Baptistin/Adriana Jenner Assessoria)

Olhando para os 66 anos de carreira, qual foi sua maior conquista?

  • Eu não conto (os anos), é uma vida! São 66 de profissional, mas não sei. A vida da gente é uma soma. Tudo vai tendo importância, como, por exemplo, esse momento que eu relato dessa passagem em Anchieta, aqui no Estado, e dos trabalhos que você faz. Tudo se soma por acertos e, principalmente, por erros.

Teria feito algo diferente?

  • Na vida? Não que eu me lembre. Quando menina queria ser médica, acho que porque o ser humano sempre me interessou. Justamente pela maneira de descobrir o homem, eu acho que eu fui pelo caminho certo. Porque o analista, por exemplo, tenta entender o ser humano e ele busca entender o funcionamento. O ator passa por tudo isso e vai mais longe, porque depois de entender ele tenta assumir para entender por dentro.

Todos os seus acertos e erros, como disse, te levam a ter uma trajetória admirável. Hoje, isso lhe rende frutos, como a mais alta honraria que poderia ter recebido do Espírito Santo das próprias mãos do governador. A que atribui esse sucesso?

  • Sucesso é uma coisa falaz. Nem tudo o que é bom faz sucesso e nem tudo que faz sucesso é bom. Às vezes, estabelece uma relação de comunicação, mas equivocada. O que é importante para mim, que é essa apreciação em relação ao meu trabalho, é saber que, de alguma forma, eu estou conseguindo isso que citei há pouco. Consigo tocar a sensibilidade do outro. E é uma forma desse retorno. Todos nós temos uma série de componentes e a vaidade é um deles. Mas em mim, graças a Deus, essa não é a tônica. A tônica é ter conseguido transmitir uma emoção, seja ela simplesmente nas cordas da imersão ou nas cordas do pensamento.

E tem alguma conquista que você ainda quer ter?

  • De aprender mais, mais e mais. Teu horizonte, isso para todos nós, caminha contigo. Às vezes, me perguntam isso que você está me perguntando no sentido de qual papel quero e não tem isso. Cada papel que faço, eu descubro um universo novo do personagem, do tema e a cada obra é infinito. Acho que você não tem limite. O que eu posso querer é avançar nesse terreno com lucidez.

Aos 90, a aposentadoria não está no seu vocabulário, como você mesma já falou. Mas como consegue manter a energia após mais de oito décadas de vida?

  • Me mantendo ativa (risos). Acho que uma das coisas piores que podem acontecer é aposentadoria no sentido de parar. Você pode até parar em uma atividade, seja porque atingiu seu limite ou fisicamente você não tem as condições para continuar a exercê-la, mas ela já te deu todo um terreno para você continuar a desenvolver o ser humano que você desenvolveu ao longo da vida, só se justifica assim. Não importa seu tempo de duração. Tem coisas que são efêmeras e coisas que não terminam nunca (risos) e poderiam talvez nem ter começado.

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