Nathalia Timberg conversava com um colega de profissão enquanto o repórter puxava o banco do piano que estava atrás da atriz para se sentar ao lado dela. Posta em uma das poltronas do Palácio Anchieta, em Vitória, ela elogiava Diva Pieranti, famosa cantora lírica brasileira que morreu em 2012, colocando-a como exemplo das artes. "Ela foi a maior soprano que o Brasil já teve", disparou, na noite desta quarta-feira (4), no lançamento do 11º Circuito Banestes de Teatro.
Pouco antes, a estrela de "Através da Íris", espetáculo produzido pela capixaba WB Produções que volta ao Espírito Santo em maio deste ano, foi condecorada pelo governador do Estado, Renato Casagrande, com a Comenda Jerônimo Monteiro no grau oficial, maior honraria que o Executivo pode dar a qualquer personalidade. "Ela (a comenda) é muito mais especial para mim por ser aqui. Vitória é uma cidade que há muito tempo faz parte da minha vida", disse.
Aos 90 anos de idade, Nathalia posava com a medalha, sorria para uma foto com um fã e outro, e não parava de rasgar elogios para a Capital e o Espírito Santo. Chegou a lembrar de um episódio que viveu em Anchieta, no Sul do Estado, quando avalia que teve a maior conexão de sua vida, que acabou refletindo na arte.
"Estava de passagem com uma companhia de teatro pela cidade quando a escuridão do ambiente e a luz das estrelas que admirava me deram consciência de estar viva. Um momento único na minha vida e que me acompanha, que eu nunca deixarei de lembrar que foi aqui, em Anchieta, que aconteceu", recordou.
Em entrevista exclusiva ao Divirta-se, Nathalia ainda detalhou sobre seus 66 anos de carreira profissional, o contato imediato e energia com o público que frequenta suas peças e como ela lida com a idade.
Eu não conto (os anos), é uma vida! São 66 de profissional, mas não sei. A vida da gente é uma soma. Tudo vai tendo importância, como, por exemplo, esse momento que eu relato dessa passagem em Anchieta, aqui no Estado, e dos trabalhos que você faz. Tudo se soma por acertos e, principalmente, por erros.
Na vida? Não que eu me lembre. Quando menina queria ser médica, acho que porque o ser humano sempre me interessou. Justamente pela maneira de descobrir o homem, eu acho que eu fui pelo caminho certo. Porque o analista, por exemplo, tenta entender o ser humano e ele busca entender o funcionamento. O ator passa por tudo isso e vai mais longe, porque depois de entender ele tenta assumir para entender por dentro.
Sucesso é uma coisa falaz. Nem tudo o que é bom faz sucesso e nem tudo que faz sucesso é bom. Às vezes, estabelece uma relação de comunicação, mas equivocada. O que é importante para mim, que é essa apreciação em relação ao meu trabalho, é saber que, de alguma forma, eu estou conseguindo isso que citei há pouco. Consigo tocar a sensibilidade do outro. E é uma forma desse retorno. Todos nós temos uma série de componentes e a vaidade é um deles. Mas em mim, graças a Deus, essa não é a tônica. A tônica é ter conseguido transmitir uma emoção, seja ela simplesmente nas cordas da imersão ou nas cordas do pensamento.
De aprender mais, mais e mais. Teu horizonte, isso para todos nós, caminha contigo. Às vezes, me perguntam isso que você está me perguntando no sentido de qual papel quero e não tem isso. Cada papel que faço, eu descubro um universo novo do personagem, do tema e a cada obra é infinito. Acho que você não tem limite. O que eu posso querer é avançar nesse terreno com lucidez.
Me mantendo ativa (risos). Acho que uma das coisas piores que podem acontecer é aposentadoria no sentido de parar. Você pode até parar em uma atividade, seja porque atingiu seu limite ou fisicamente você não tem as condições para continuar a exercê-la, mas ela já te deu todo um terreno para você continuar a desenvolver o ser humano que você desenvolveu ao longo da vida, só se justifica assim. Não importa seu tempo de duração. Tem coisas que são efêmeras e coisas que não terminam nunca (risos) e poderiam talvez nem ter começado.
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