Assunto de incontáveis polêmicas pela internet, a meia-entrada pode estar com os dias contados se depender do Ministério da Economia. A pasta de Jair Bolsonaro (sem partido) já manifestou que é a favor da extinção das três leis federais que preveem o benefício, atualmente concedido a estudantes, idosos e jovens de baixa renda pela Constituição Federal.
Só para se ter uma ideia do que representa, dados da Ancine revelam que no Espírito Santo cerca de 81,6% dos ingressos vendidos pelas redes de cinema são na categoria meia-entrada (por lei, promoção ou cortesia). Índice que é ainda maior em alguns cinemas, como no Cine Jardins, em Jardim da Penha, na Capital. Por lá, a média de venda de meias-entradas por sessão é de 95%, segundo o gerente do espaço, Talmon Fonseca Junior.
"Nós usamos a meia-entrada como chamariz para o público. Temos meia para quem é de determinados planos de saúde, advogados, jornalistas, estudantes, músicos, professores... Vários grupos. E o cinema, para se custear, não é só bilheteria. Então não é o preço do ingresso que vai mudar isso", avalia.
O volume total da pesquisa da Ancine leva em consideração, também, os decretos municipais e estaduais de cada localidade. Em Vitória, por exemplo, além de estudantes, idosos e jovens de baixa renda, professores e jornalistas também têm acesso à meia-entrada por lei em salas de exibição e demais eventos do setor cultural. O que para Bruna Dornellas, produtora e sócia da WB Produções - empresa que produz e traz espetáculos nacionais ao Espírito Santo -, acaba se tornando custo adicional para o empresário.
"É um assunto delicado, porque é claro que a meia-entrada é um benefício para as pessoas como um facilitador ao acesso à cultura. Mas para nós, produtores, arcar com essa diferença é muito grande. Um estudante ou idoso não paga 'meia-consulta' no médico. E se não há leitos suficientes na rede pública, o Estado compra vagas na rede particular. Mas no nosso caso ninguém paga a diferença do valor da meia-entrada para a inteira", esclarece Dornellas.
Felipe Fioroti, sócio do Embrazado e produtor de outras casas de show espalhadas pelo Espírito Santo, concorda. "O preço médio do ingresso, sobretudo, fica mais alto. E o que acontece muito é que as pessoas buscam formas de burlar a entrada inteira, como falsificar documentos, por exemplo", opina.
De acordo com ele, o fim da meia-entrada vai significar um preço mais justo das atrações culturais. Fioroti explica que, com o valor ajustado, vai ser possível dividir o custo igualmente entre os visitantes das festas. "O preço tem que aumentar para subsidiar a meia-entrada. Com o fim, o preço vai se estabilizar para todos e acho que haverá benefício para o público, em respeito aos valores iguais, e para os empresários, que são prejudicados com o benefício", enxerga.
Talmon ainda alerta que a extinção da meia-entrada pode acarretar uma diminuição considerável do fluxo de espectadores. Em outras palavras, o cinema teria que diminuir o valor da "nova inteira" para continuar fidelizando clientes - mas, nesse caso, a troca seria de seis por meia dúzia. "Vai mexer em algo que não tem necessidade de mexer. Se o preço da 'inteira' estabilizar, não vai mudar em nada, só burocraticamente", afirma.
Procurada pela reportagem de O Estado de S. Paulo, a União Nacional dos Estudantes manifestou que defende limites em relação à meia-entrada em cinemas. Presidente da entidade, Iago Montalvão disse que considera a análise da Ancine "tendenciosa", mas ressalta que a legislação não tem sido devidamente cumprida, o que abre espaço para fraudes.
A solução para qualquer problema que impacte nas receitas dos cinemas não deve ser atacar um direito conquistado e histórico da classe estudantil, mas justamente o de criar formas de garantir a verificação da validade das carteiras conforme padrão certificado pelo ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação). Infelizmente, na maioria das salas de cinema do Brasil, essa verificação ainda não é feita, disse Montalvão ao Estado de S. Paulo.
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