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Novo disco de Pabllo Vittar mostra como a drag se tornou diva do pop

Novo disco de Pabllo Vittar mostra como a drag se tornou diva do pop

Sem medo de parecer cafona, cantora reinventa as estratégias dos hits globais à luz do pagodão

Publicado em 31 de outubro de 2019 às 15:41

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Pabllo Vittar é primeira artista brasileira a se apresentar no MTV EMA 2019. (Ernna Cost/Divulgação)

No clipe de "Parabéns", Pabllo Vittar aparece com adereços brilhantes, acompanhada por dançarinos e rebolando em frente a um bolo de aniversário gigantesco. Márcio Victor, líder do Psirico, surge de boné e correntes de ouro, dividindo um verso com a cantora.

Com danças coreografadas e cenário extravagante, as cenas embaladas pelas batidas contagiantes da canção poderiam estar em qualquer clipe do alto escalão da música pop. Mas Pabllo Vittar é uma diva pop como nenhuma outra.

A maranhense é uma drag queen que não abre mão da abordagem burlesca das boates. Em vez de dividir os microfones com o rapper da moda, ela chama um ícone de um gênero tido como brega no Brasil, o pagode baiano.

"Quando ouvi a música só com a minha voz, pensamos em outras pessoas, mas na hora já falei que não. Ia soar fake, e isso é fácil de perceber", comenta. "Por isso, mandei logo para o Márcio Victor."

A faixa é o principal single de "111", terceiro álbum de Pabllo Vittar em seu quinto ano de carreira. Nesta quinta, o disco sai pela metade, com apenas quatro músicas, enquanto o resto --outras seis faixas-- chega só no ano que vem. O título é uma referência ao aniversário da cantora, que faz 25 anos nesta sexta.

"Quando fui conceber o disco, que leva a data do meu aniversário, falei que tinha que ser uma playlist de festa de aniversário", explica. "Então, as músicas têm que ser animadas."

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Músicas de comemoração nessa linha são quase tradição entre cantoras pop. "Todas elas têm uma música assim. Pensei que tinha chegado a minha hora", diz Pabllo, citando as músicas de aniversário de Rihanna, Madonna, Lady Gaga e Katy Perry.

Em "Parabéns", Pabllo serve bem à celebração, mas de um jeito brasileiro. "Gosto do Psirico desde que eu morava no Maranhão", conta a drag. "Tinha uma música, 'Sabonete', que eu cantava demais. Além disso, para um especial de aniversário, precisa ter alguém presenteando uma outra pessoa."

O clipe, diz Pabllo, é também uma referência à sua infância. "Trouxemos desde Kylie Minogue até 'Glamorous', da Fergie, e 'I'm A Slave 4 U', da Britney Spears. É monocromático, bem hip-hop dos anos 2000."

Em muitos sentidos, "Parabéns" --que já acumula quase 9 milhões de views no YouTube em duas semanas-- é só mais um single de Pabllo. Mas a faixa é também uma síntese das intenções da cantora desde o começo da carreira.

CARREIRA

Há quatro anos, Pabllo apareceu no cenário nacional com um hit de internet, "Open Bar". A versão "abrasileirada" e em português de "Lean On", do Major Lazer, chamou a atenção do próprio duo americano, que depois gravou "Sua Cara", hit com Pabllo e Anitta.

Desde 2017, com seu disco de estreia, "Vai Passar Mal", Pabllo está em ascensão. Ela teve "K.O." e "Corpo Sensual" rodando as rádios do Brasil, cantou com Fergie no Rock in Rio, saiu no Guardian e no New York Times, virou a drag queen mais seguida do mundo no Instagram. Não faltam conquistas.

No ano passado, com o álbum "Não Para Não", ela surgiu mais madura, com um olhar abrangente que resultou em sofrências como "Disk Me".

Toda a sonoridade da carreira da artista tem um ponto em comum. É a ideia de criar uma música bem-humorada, dançante e brasileira, mas que não fica devendo para o pop eletrônico dominante no mundo.

"É juntar o que estou ouvindo lá fora, do electropop à PC music, e trazer para meu estilo regional. Por exemplo, sai um bregafunk, mas ele também funciona para as pessoas que consomem música pop", diz. "É claro, posso chegar e cantar um Calcinha Preta rasgado, mas é melhor ir pondo elementos com que mais pessoas estejam familiarizadas."

Mesmo tendo atingido sucesso estrondoso, Pabllo ainda colabora com o mesmo time de produtores e compositores do começo de sua carreira. São o Brabo Music Team, formado por Rodrigo Gorky, Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo e Zebu.

Em "Amor de Que", outra faixa de "111", ela fica entre o forró eletrônico e o bregafunk. A música também reflete uma participação maior de Pabllo nas composições, especialmente com histórias da vida pessoal.

"Quase engatei um relacionamento, só que acordei para a vida", diz rindo e comemorando cinco anos solteira. "Tem tanto homem bonito, e estou tão nova, conhecendo outros países e culturas. Se for namorar, não vai ser agora."

Se em "Não Para Não" Pabllo fazia os primeiros acenos à música latina --com "No Hablo Español"--, "111" ensaia uma entrada definitiva no mercado estrangeiro. No novo disco, ela canta em inglês no pop-house "Flash Pose", parceria inusitada com a americana Charli XCX, e em espanhol, em "Ponte Perra".

Mas o sucesso internacional de Pabllo tem menos a ver com cantar em outras línguas, como acontece com Anitta. Só neste ano, a drag já fez turnê por México, Argentina e Chile, além de Europa. Foi capa da Gay Times e citada pela Time como uma das líderes da próxima geração, a "drag queen brasileira que tomou o mundo pop".

Pabllo também cantou em algumas das maiores paradas gays dos Estados Unidos, incluindo as de Los Angeles, Nova York e San Francisco.

"Aqui no Brasil é mais diversão, todo mundo vai para a Paulista tomar seu Corote e se divertir. Tá errado? Não. Mas lá fora eles pautam muito a militância, levam faixas. E nas ruas fica igual Natal, todo mundo deseja 'happy pride'. Temos que aprender a militar mais. E eles têm que aprender com os brasileiros a beijar na boca."

Quando subir ao palco do EMA, premiação da MTV europeia, neste domingo, Pabllo será a primeira brasileira a alcançar o feito. Não por soar alinhada à música pop europeia ou americana, mas levando seu pop "brega" e brasileiro --o que ela tem de exclusivo-- ao hemisfério norte.

"Me divirto com minhas músicas porque são coisas que eu fiquei a fim de fazer, histórias que eu vivi, que eu quero falar", ela afirma. "Não quero ter que cantar alguma coisa nada a ver em alguma batida nada a ver. Que graça tem?"

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