No clipe de "Parabéns", Pabllo Vittar aparece com adereços brilhantes, acompanhada por dançarinos e rebolando em frente a um bolo de aniversário gigantesco. Márcio Victor, líder do Psirico, surge de boné e correntes de ouro, dividindo um verso com a cantora.
Com danças coreografadas e cenário extravagante, as cenas embaladas pelas batidas contagiantes da canção poderiam estar em qualquer clipe do alto escalão da música pop. Mas Pabllo Vittar é uma diva pop como nenhuma outra.
A maranhense é uma drag queen que não abre mão da abordagem burlesca das boates. Em vez de dividir os microfones com o rapper da moda, ela chama um ícone de um gênero tido como brega no Brasil, o pagode baiano.
"Quando ouvi a música só com a minha voz, pensamos em outras pessoas, mas na hora já falei que não. Ia soar fake, e isso é fácil de perceber", comenta. "Por isso, mandei logo para o Márcio Victor."
A faixa é o principal single de "111", terceiro álbum de Pabllo Vittar em seu quinto ano de carreira. Nesta quinta, o disco sai pela metade, com apenas quatro músicas, enquanto o resto --outras seis faixas-- chega só no ano que vem. O título é uma referência ao aniversário da cantora, que faz 25 anos nesta sexta.
"Quando fui conceber o disco, que leva a data do meu aniversário, falei que tinha que ser uma playlist de festa de aniversário", explica. "Então, as músicas têm que ser animadas."
Músicas de comemoração nessa linha são quase tradição entre cantoras pop. "Todas elas têm uma música assim. Pensei que tinha chegado a minha hora", diz Pabllo, citando as músicas de aniversário de Rihanna, Madonna, Lady Gaga e Katy Perry.
Em "Parabéns", Pabllo serve bem à celebração, mas de um jeito brasileiro. "Gosto do Psirico desde que eu morava no Maranhão", conta a drag. "Tinha uma música, 'Sabonete', que eu cantava demais. Além disso, para um especial de aniversário, precisa ter alguém presenteando uma outra pessoa."
O clipe, diz Pabllo, é também uma referência à sua infância. "Trouxemos desde Kylie Minogue até 'Glamorous', da Fergie, e 'I'm A Slave 4 U', da Britney Spears. É monocromático, bem hip-hop dos anos 2000."
Em muitos sentidos, "Parabéns" --que já acumula quase 9 milhões de views no YouTube em duas semanas-- é só mais um single de Pabllo. Mas a faixa é também uma síntese das intenções da cantora desde o começo da carreira.
Há quatro anos, Pabllo apareceu no cenário nacional com um hit de internet, "Open Bar". A versão "abrasileirada" e em português de "Lean On", do Major Lazer, chamou a atenção do próprio duo americano, que depois gravou "Sua Cara", hit com Pabllo e Anitta.
Desde 2017, com seu disco de estreia, "Vai Passar Mal", Pabllo está em ascensão. Ela teve "K.O." e "Corpo Sensual" rodando as rádios do Brasil, cantou com Fergie no Rock in Rio, saiu no Guardian e no New York Times, virou a drag queen mais seguida do mundo no Instagram. Não faltam conquistas.
No ano passado, com o álbum "Não Para Não", ela surgiu mais madura, com um olhar abrangente que resultou em sofrências como "Disk Me".
Toda a sonoridade da carreira da artista tem um ponto em comum. É a ideia de criar uma música bem-humorada, dançante e brasileira, mas que não fica devendo para o pop eletrônico dominante no mundo.
"É juntar o que estou ouvindo lá fora, do electropop à PC music, e trazer para meu estilo regional. Por exemplo, sai um bregafunk, mas ele também funciona para as pessoas que consomem música pop", diz. "É claro, posso chegar e cantar um Calcinha Preta rasgado, mas é melhor ir pondo elementos com que mais pessoas estejam familiarizadas."
Mesmo tendo atingido sucesso estrondoso, Pabllo ainda colabora com o mesmo time de produtores e compositores do começo de sua carreira. São o Brabo Music Team, formado por Rodrigo Gorky, Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo e Zebu.
Em "Amor de Que", outra faixa de "111", ela fica entre o forró eletrônico e o bregafunk. A música também reflete uma participação maior de Pabllo nas composições, especialmente com histórias da vida pessoal.
"Quase engatei um relacionamento, só que acordei para a vida", diz rindo e comemorando cinco anos solteira. "Tem tanto homem bonito, e estou tão nova, conhecendo outros países e culturas. Se for namorar, não vai ser agora."
Se em "Não Para Não" Pabllo fazia os primeiros acenos à música latina --com "No Hablo Español"--, "111" ensaia uma entrada definitiva no mercado estrangeiro. No novo disco, ela canta em inglês no pop-house "Flash Pose", parceria inusitada com a americana Charli XCX, e em espanhol, em "Ponte Perra".
Mas o sucesso internacional de Pabllo tem menos a ver com cantar em outras línguas, como acontece com Anitta. Só neste ano, a drag já fez turnê por México, Argentina e Chile, além de Europa. Foi capa da Gay Times e citada pela Time como uma das líderes da próxima geração, a "drag queen brasileira que tomou o mundo pop".
Pabllo também cantou em algumas das maiores paradas gays dos Estados Unidos, incluindo as de Los Angeles, Nova York e San Francisco.
"Aqui no Brasil é mais diversão, todo mundo vai para a Paulista tomar seu Corote e se divertir. Tá errado? Não. Mas lá fora eles pautam muito a militância, levam faixas. E nas ruas fica igual Natal, todo mundo deseja 'happy pride'. Temos que aprender a militar mais. E eles têm que aprender com os brasileiros a beijar na boca."
Quando subir ao palco do EMA, premiação da MTV europeia, neste domingo, Pabllo será a primeira brasileira a alcançar o feito. Não por soar alinhada à música pop europeia ou americana, mas levando seu pop "brega" e brasileiro --o que ela tem de exclusivo-- ao hemisfério norte.
"Me divirto com minhas músicas porque são coisas que eu fiquei a fim de fazer, histórias que eu vivi, que eu quero falar", ela afirma. "Não quero ter que cantar alguma coisa nada a ver em alguma batida nada a ver. Que graça tem?"
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