Violência doméstica, maternidade, sobrecarga feminina, estupro, sexualidade, autoimagem e tantos outros assuntos são retratados na obra de Carla Guerson, "O Som do Tapa". Publicado pela editora Patuá, o livro traz em 28 contos os temas fortes que cercam a vivência das mulheres e até mesmo da autora em algumas páginas.
Natural de Vitória, a autora considera sua escrita como sem papas na língua ou censura nas palavras. "Tenho definido a minha literatura como sincera, acho que escrevo sem maquiagem, com muita clareza", comenta Guerson, que já havia feito uma autopublicação de poesia intitulada “Lúcida sem Perder a Loucura” e tem postado textos no Instagram e no Midium, desde 2020.
Para "O Som do Tapa", a capixaba usou de 39 anos de observação de dores próprias e alheias. "A maioria é baseada em algum fato que eu, de alguma forma, vivenciei - seja na condição de personagem ou de espectadora. Um exemplo é o conto ‘Não Mãe’, em que me baseei em uma reportagem sobre uma mulher que abandonava seu filho na lixeira”, conta. A autora comenta ainda que teve o cuidado de alternar os contos entre os de temáticas mais leves e mais pesados.
Os textos são também resultado de um momento de introspecção pandêmica: "Eu me vi muito tempo em casa, vivendo dentro da minha própria cabeça, algo que até gosto de fazer, mas, de repente, isso se tornou insuportável e eu tive que externar, colocar para fora, daí eu comecei a escrever".
Diante deste ímpeto de escrita, Carla começou a investir no sonho de publicar um livro, fez cursos de escrita - foram ao menos seis oficinas - e chegou a se envolver com grupos e coletivos de escritores. Através dessas experiências literárias, ela entrou em contato com Aline Bei, autora de “O Peso do Pássaro Morto” que fez o texto de apresentação de "O Som do Tapa".
A escritora, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, é uma inspiração para Guerson, por sua prosa poética cortante e potente. Outra autora de referência para Carla é a italiana Elena Ferrante, conhecida por retratar as questões de desigualdade de gênero de modo natural e simples.
A respeito da recepção da obra por parte do público, Carla diz que, por ser uma escritora iniciante, foi surpreendente. “Eu fiz um trabalho no Instagram, comecei a publicar vários textos para as pessoas me conhecerem, para saberem que eu sou escritora, se identificarem”, conta, afirmando que essa preparação rendeu novos seguidores.
Entretanto, apesar da boa recepção do público, Guerson destaca que existe um desafio em ser autora no cenário capixaba: "A lista de homens publicados no Espírito Santo é muito maior do que a de mulheres", alerta.
Com seus contos críticos com relação às vivências femininas, a autora deve tocar as mulheres e despertar reflexões também nos homens. Sobre os planos para o futuro ela detalha: "Tenho algumas ideias guardadas... duas histórias iniciadas e que ainda estão fermentando. Mas, por enquanto, nada concreto. Quero viver esse primeiro projeto com toda a intensidade para depois pensar em outros".
Dessa forma, fica o convite para a leitura de “O Som do Tapa”, nome que resume um pouco o livro, de acordo com Carla. O título, que já ganhou lançamento virtual no domingo (19), contará com uma noite de autógrafos nesta segunda-feira (20), a partir das 19h30, na Varanda Gourmet do Shopping Jardins.
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