Autor do projeto do Cais das Artes, o arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha está em Vitória para participar do evento A Partir do Centro, que acontece nesta quinta-feira (12), no Teatro Sônia Cabral, no Centro, a partir das 19h.
Em palestra de abertura, Paulo apresentará sua extensa obra arquitetônica estabelecida em vários pontos do planeta. Seu trabalho tem contribuído para a requalificação de áreas centrais das cidades e será um dos pontos de debate do evento capixaba, que se estende até o final de março.
Em conversa com o Divirta-se, Paulo Mendes afirmou que vê os atrasos nas obras no Cais das Artes - que já duram cerca de dez anos - como normais. Seu otimismo contrasta com a frase dita por ele mesmo no lançamento do projeto, em 2008: "Eu só espero que se construa", disse na época ao jornal A Gazeta.
O projeto começou a ser tocado em 2010, ainda sob o gerenciamento do governador Paulo Hartung. Orçado inicialmente em R$ 115 milhões, especula-se que os gastos - entre paralisações e disputas judiciais - devam passar os R$ 230 milhões.
Há toda uma estrutura diferente em cada gestão governamental. As grandes obras públicas sempre passam por esses entraves e têm os seus prazos ampliados, afirma, dizendo que projetos ambiciosos como o Cais das Artes quase sempre dependem de um tempo de trabalho maior do que a prazo de uma administração pública, que, normalmente, é de quatro a oito anos.
Há toda uma questão burocrática que demanda tempo, como licitações de empreiteiras e de material. O que importa é que vejo na atual gestão (sob o comando de Renato Casagrande) uma força de vontade para seguir com o projeto, o que é louvável."
Paulo Mendes da Rocha tem uma reunião marcada com Casagrande para a tarde desta quinta-feira (12). Em pauta, os rumos da empreitada e as adequações do projeto para a sua nova realidade. É importante continuar com a construção e tirar dela o incômodo rótulo de inacabada, defende o arquiteto, de 91 anos.
Nascido no Centro de Vitória, em 1928, Paulo Mendes da Rocha recebeu prêmios como o Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura; o Leão de Ouro, em Veneza; e o Imperiale, no Japão. Ele assina obras emblemáticas, como o Museu dos Coches, em Portugal; a Pinacoteca de São Paulo; o Museu da Língua Portuguesa, também na capital paulistana; e o estádio do Serra Dourada, em Goiânia (GO), inaugurado em 1975 e considerado por muitos anos o mais moderno do país.
Paulo fala com muito carinho do Cais das Artes que, segundo ele, veio para atender as necessidades da classe artística capixaba.
Foi uma iniciativa encampada pelo ex-governador Paulo Hartung. Tínhamos a ideia de investir em um teatro capaz de receber espetáculos de grande porte, como óperas, com todos os quesitos técnicos e físicos exigidos, como um fosso de orquestra, por exemplo. Se for feito de acordo com a ideia inicial, teremos uma estrutura capaz de acolher montagens sofisticadas, explica. O teatro deve contar com cerca de 1,3 mil lugares.
O local também abrigará um moderno museu de arte. Meu objetivo é pensar sempre no estímulo à educação. Não é necessário inaugurá-lo para abrigar acervos especiais ou grandes exposições. Temos o exemplo do MOMA, de Nova York, que está sendo reestruturado e investindo-se cada vez mais em projetos educativos, exemplifica.
De acordo com o arquiteto, os benefícios culturais que o Cais das Artes vai trazer à população dependem exclusivamente da gestão pública. É um trabalho que vai além da arquitetura. São necessários bons gestores culturais e administrativos, criando uma programação voltada para educar a sociedade de maneira mais ampla.
Durante a passagem pelo Estado, Paulo Mendes da Rocha também foi homenageado pela Universidade Federal do Espírito Santo, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa, na última quarta (11).
Foi comovente estar e ser reconhecido em uma escola onde a arquitetura é forte, um lugar de aprendizado. Vejo isso como um estímulo para continuar trabalhando. Passar por isso em minha terra natal é sempre uma emoção a mais, avalia.
Desconversando, Paulo prefere não falar sobre projetos futuros. A minha rotina é não saber o que vou fazer amanhã. É preciso ter coragem para enfrentar a vida, que é sempre uma surpresa", brinca, garantindo que não pensa em aposentadoria.
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