"Sérgio Blank é uma das bases da literatura do Espírito Santo". A frase é do proprietário da Cousa e amigo do poeta capixaba, Saulo Ribeiro, um dos que se solidarizou e prestou homenagem ao escritor. Sérgio Blank foi encontrado morto no início da tarde desta quinta (23) pela irmã, Nilceia Blank, em sua casa no município de Cariacica.
A editora de que Saulo é proprietário, a Cousa, editou uma das últimas obras do escritor, "Dias Ímpares", que está na quarta edição. "Um livro que foi adotado em vestibular da Ufes, quando tinha a segunda fase. Tínhamos uma relação muito forte com o Sérgio", fala.
Saulo e Sérgio estiveram juntos ainda na última segunda-feira (20), quando o poeta ganhou um exemplar de um livro do empresário. "Conversamos por uns 15 ou 20 minutos, e ele parecia superbem. Disse até que ia a um médico nesta quinta (23), mas para ver uma questão de uma cirurgia de catarata. Parece mentira", lamenta.
Quem também teve contato com Blank recentemente foi Caê Guimarães, por meio da internet. Amigos há mais de 30 anos, Caê conta, em suas redes sociais, que o Brasil perdeu um poeta brilhante e segue dando detalhes do último "encontro".
"Em nossa última conversa via WhatsApp, na véspera da sua partida, Sérgio perguntou sobre as próximas movimentações. Ao me ouvir, ele escreveu: 'Apesar da presença da morte você me traz notícias boas. Acredito que 2021 será um ano de fênix. Seu livro chegará nessa nova forma de respirar. Tenho refletido bastante sobre a vaidade humana. O culto ao umbigo. Meu ofício de ermitão está sobressaindo. Talvez no futuro breve me isole numa cidade pequena à beira-mar. Beijo'", detalha Caê.
Também amigo de Sérgio, com quem teria um encontro para um almoço nesta quinta-feira (23), Fernando Achiamé demonstrava bastante emoção ao deixar suas palavras. "Estou muito triste e abalado. Era um grande amigo", disse o historiador e comentarista da rádio CBN Vitória.
Presidente da Academia Espírito-santense de Letras, Ester Abreu também lamentou a perda precoce de Sérgio Blank. "O conheci na juventude, quando ele trabalhava em uma livraria do Shopping Vitória. Sempre atento a tudo, também atuava como editor literário. Era um escritor que sabia trabalhar com sensibilidade. Considero uma de suas primeiras obras, "Pus", como sendo um marco em sua literatura", aponta.
O amigo e colega de Academia, José Roberto Santos Neves, fez questão de lembrar que sua poesia continuará viva. "Sérgio Blank ocupa lugar de destaque na galeria dos grandes poetas do Espírito Santo. Sua obra visceral deixa o legado de quem viveu para as palavras e encontrou na poesia o porto seguro para expressar a sensibilidade aguçada e o olhar diferenciado sobre a vida. Sentimo-nos tristes com sua partida, mas nos conforta saber que sua poesia permanece viva para todos aqueles que apreciam versos produzidos com amor e devoção".
Quem concorda com o dono da cadeira 26 da Academia Espírito-santense de Letras é o governador do Espírito Santo. Em seu Twitter, Renato Casagrande falou do legado de Blank. "Hoje a cultura capixaba perdeu um dos seus gigantes. Fica o legado de Sérgio Blank, suas palavras e poemas ecoando entre a gente".
José Roberto e Casagrande estão certos na ideia de uma obra viva. Ester até mesmo adianta que a revista "Fernão", publicada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo, da Ufes, publica em 2020 um especial voltado para o trabalho literário de Sérgio Blank.
Manoel Goes, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha, também se manifestou sobre a morte do escritor em suas redes sociais. "Que ano cruel. Insaciável fome de almas talentosas, puras e generosas. O nosso poeta maior Sérgio Blank partiu. Continuará vivo nos seus livros, versos . Vivo nos nossos corações e emoções. A dona morte não é mais forte que a poesia. Sabemos que agora você está em paz. Você será sempre a nossa referência literária. Um generoso amigo. Em meu nome , da minha família e de todos do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha, nossos sentimentos a família enlutada" .
O secretário de Cultura de Vitória, Francisco Grijó, também lamentou a morte pelas redes sociais. "Fico sabendo que meu amigo Sérgio Blank, poeta enormíssimo, e uma pessoa só coração, faleceu. Descanse, querido amigo!", escreveu.
"Definitivamente, não está fácil atravessar 2020. Vá em paz, meu amigo Sérgio Blank", lamentou a escritora e jornalista Ana Laura Nahas. Emocionada, ela encontrou nas palavras uma forma de expressar a perda do amigo e escreveu uma carta aberta ao poeta, respondendo a um questionamento recebido.
"Andei pensando na sua pergunta, e a verdade é que escrevo porque não sei viver de outro modo", inicia a carta, que demonstra sua paixão pela escrita e inspiração no amigo.
Também escritor, Marcos Ramos exaltou a obra deixada por Sérgio. "A obra de Blank é grandiosa, pulsa e se desdobra. Exemplo disso é que os compositores Edivan Freitas, Eugênio Goulart (Big Bar Blues Band) e outros têm trabalhado em um projeto de "musicar" poemas do Blank. Invertendo a ordem natural das coisas, o corpo se esgota para que a poesia persista. Sorte a nossa", responde, emocionado.
Poetisa, escritora e cineasta, Bernadette Lyra usou as redes sociais para falar da morte do escritor. ""As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma/Guarde a lua, desmonte o sol /Despeje o mar e livre-se da floresta /pois nada mais poderá ser bom como antes era"/. (Funeral Blues/W.H.Auden). Tristeza infinita pela perda do poeta Sérgio Blank, hoje...Só resta a lembrança de belos dias, como nesta foto, em que ele está ao meu lado e do escritor Reinaldo Santos Neves. Vá em paz e encontre a delicadeza azul que tanto amava, meu amigo".
Quem também fez questão de lembrar a importância de Sérgio foi o ex-governador do ES, Paulo Hartung. "Hoje o Espírito Santo perde um grande nome da cultura capixaba. É com muita tristeza que recebo a notícia do falecimento do poeta Sérgio Blank, que deixa uma enorme contribuição para o patrimônio histórico e cultural do Estado. Meus sinceros sentimentos e solidariedade à família e aos amigos", disse por meio de nota.
Nascido em 1964, em Cariacica, Sérgio Blank é conhecido por seus poemas, livros e atuação como promotor de lançamentos de obras e coordenador de oficinas e encontros literários. Sua última obra, "Blue Sutil" foi lançada em fevereiro do ano passado encerrando um hiato de 23 anos sem obras inéditas.
O termômetro para a nova obra veio de um universo não tão comum ao escritor: a internet. Os poemas que compõem o livro foram antes publicados nas redes sociais e a repercussão deu a ele o empurrãozinho necessário para encerrar o hiato.
O poeta ocupava a cadeira número 9 da Academia Espírito-santense de Letras há um ano. Sua posse aconteceu no dia 22 de julho de 2019.
Ao todo, Sérgio Blank tem seis obras publicadas antes de Blue Sutil: a infantil Safira (1989) e também Poesia: Estilo de ser assim, tampouco (1984); Pus (1987); Um, (1988); A Tabela Periódica (1993) e Vírgula (1996). Os dias ímpares toda poesia (2011), reúne os cinco títulos anteriores.
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