Ocupar os espaços públicos com arte é um movimento que vem crescendo e modificando diversos locais, muitas vezes marginalizados, no país. Em Vitória, a história não é diferente. A retomada do carnaval no Centro e o Viradão são provas deste raciocínio. Eles enchem as ruas do Centro Histórico da Capital de vida com a movimentação de pessoas e mudam o cenário de ruas desertas e sensação de insegurança vividos diariamente no bairro ao anoitecer.
Além dos exemplos citados, uma outra ação está modificando a visão de outro ponto de Vitória, o arredor da Ponte da Passagem. No espaço anexo à construção, em Pontal de Camburi, quase embaixo dela mesmo, acontece há cerca de um ano uma festa que está dando uma nova cara ao local. Conhecido por ser um local onde há moradores de rua e entulhos, o espaço público ganha movimentação com a realização da Pindorama, uma festa que reúne diferentes frentes culturais e vários artistas capixabas.
O evento ganhou tanta projeção que até a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) quer oficializar o encontro para que ele entre definitivamente no calendário de eventos do Estado. Gustavo Dias Ortega é a cabeça por trás da organização da festa, que começou, em 2012, sendo realizada em casas noturnas e espaços de festa.
Ortega explica que a ideia nasceu a partir de uma necessidade de promover a música brasileira. Aos poucos, ele avalia que a adesão crescente do público é que fez possível agregar novas qualidades de manifestações artísticas.
"Desde o início, a festa teve grande reconhecimento e adesão dos capixabas em algumas casas noturnas de Vitória, mas houve a necessidade de ocupar as ruas para se afirmar como iniciativa independente", diz, em entrevista à Gazeta.
Para o produtor cultural, que também é DJ e geógrafo, além de entusiasta da música popular brasileira, firmar o evento na Ponte da Passagem foi uma forma que ele viu de ocupar o espaço de uma forma positiva. No entanto, o desafio é manter toda a estrutura.
Quem chega ao local da festa nem imagina como um evento desses pode acontecer lá. Mas depois de toda a produção feita por Ortega, até espaços para sentar são instalados de forma itinerante.
Aberta ao público, a Pindorama não tem periodicidade, mas Gustavo luta para manter mensalmente uma data para a festa no local. No entanto, tudo isso ainda depende de parcerias e de amigos, que se doam para o voluntariado, já que - apesar de ser licenciada pela Prefeitura de Vitória (PMV) - a festa não tem apoio financeiro.
"Trouxemos o projeto Pindorama para Ponte da Passagem justamente porque a sua localização não permite que a projeção do som e do público incomode os moradores locais. Em outras áreas da cidade, são recorrentes conflitos envolvendo as respectivas vizinhanças e as propostas culturais. Nesse sentido, a área da Ponte da Passagem é uma alternativa para esses problemas", explica.
Nas cinco edições realizadas no local, desde 2018, nenhuma ocorrência policial ou denúncia de morador foi registrada. Segundo Gustavo, o local também permaneceu limpo mesmo após o encontro.
"Inclusive, o nosso público é familiar, com jovens de todas as idades, que trazem seus filhos pequenos e humanizam a vizinhança. Contamos com um público ordeiro e consciente da causa que motiva essa intervenção cultural, mostrando que a nossa juventude é engajada em ações que visam melhorias para a cidade".
Vendo as modificações que o evento traz para o local, o Núcleo de Arquitetura da Ufes (NAU), a Secretaria de Cultura da Ufes e a Secretaria de Estado de Cultura (Secult), além da Guarda Civil de Vitória e da Polícia Militar, ajudam na organização. E o sucesso é tanto que a festa pode integrar o calendário de eventos do Estado.
O projeto de Gustavo já está rodando as sessões da Ales. Mas não é para menos, afinal o agitador cultural admite que um dos objetivos do projeto realmente é chamar a atenção do poderio público. "Também temos o objetivo de convidar os cidadãos a tomar conhecimento dessa realidade, a conviver com as diferenças e despertar a responsabilidade de cuidar da cidade. Mas, mais do que isso, queremos transformar aquela realidade", reitera.
Presidente da Comissão de Cultura e Comunicação Social da Ales, o deputado Torino Marques é quem está responsável por conduzir os debates no Plenário. "Apresentei a proposta de um novo espaço público de cultura e lazer na Ponte da Passagem como cidadão capixaba. A proposição foi recebida pelo Torino, que abriu o espaço para debater essa ideia, de interesse público. É mais uma oportunidade de apresentar e discutir a proposta democraticamente", finaliza.
Procurado pela reportagem, o deputado confirmou que recebeu o histórico do projeto e confidencia que compilou um "dossiê" do caso para fazer proposições nas sessões da Comissão. Segundo ele, o projeto vem dando utilidade cultural na região da Ponte da Passagem, o que "ajuda muito a comunidade do entorno", em suas próprias palavras.
"A festa vem dando utilidade cultural naquela região, ajudando muito a comunidade do entorno e revitalizando o espaço que hoje tem servido de ponto de uso de drogas. Trabalharemos junto ao Governo do Estado e Prefeitura de Vitória para urbanizar aquele espaço e abrir para diversos modais de cultura", finaliza o deputado.
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