O pensamento Tupiniquim a respeito de sua realidade é exposto ao público através da arte e do incentivo à retomada de sua língua materna no projeto “Língua Viva - Imagens em Movimento em Debate”. A iniciativa foi desenvolvida pela doutoranda em Antropologia Social Aline Moschen, com a Bule Criativo, linguistas e artistas indígenas do tronco Tupi. Seu site, www.linguaviva.org, que abrigará um acervo digital permanente contendo textos e fotografias, tem lançamento oficial nesta terça-feira (20), previsto para as 15h.
“O objetivo é colocar artistas, linguistas e pensadores teóricos indígenas em pauta, trazendo a agenda deles também, a agenda política, as causas que eles movimentam, e promover um diálogo sobre os temas”, pontua Moschen.
A proposta selecionada pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult/ES), surgiu a partir da pesquisa de campo com os indígenas de Aracruz que Aline já realizava desde 2015. “Tentando escutar as demandas das pessoas da comunidade, eu entendi que o tema da arte indígena no presente é muito caro à população indígena Tupiniquim como uma forma de diálogo e de estratégia para atualizar as tradições e retomar a língua”, explica a pesquisadora sobre o que motivou a ideia.
O site do “Ligua Viva” contará com artigos de três diferentes pensadores contemporâneos indígenas, sendo eles o artista e escritor Jaider Esbell, do povo Macuxi; o poeta e antropólogo Idjahure Kadiwéu, do povo Kadiwéu; e a fotógrafa e graduanda em Arquitetura e Terapia Ocupacional Beatriz Pêgo, do povo Tupinikim. “Cada um deles está trazendo a sua perspectiva sobre a presença indígena na arte e na era digital, como essas pessoas têm ocupado essas mídias para se fazerem visíveis e trazerem também as questões de seus povos”, adianta Aline.
Já as fotografias que vão compor o acervo virtual foram feitas em maior parte por Pegô, embora outros indígenas tenham cedido fotos de seus acervos pessoais para o projeto. Aline destaca que o trabalho com a fotografia está sendo feito justamente para trazer o visual atrelado aos discursos, às narrativas, sendo que uma das demandas dos povos indígenas hoje é exatamente quebrar esteriótipos étnico-raciais impostos pela sociedade branca. Nos registros, estão presentes retratos da culinária, das danças, dos trabalhos diários e mais.
Beatriz Pêgo conta que participar desse projeto tem sido libertador e cativante: "O projeto está me possibilitando liberdade, autonomia, um lugar de expressão das minhas vivências e principalmente registros do cotidiano dos Tupiniquim. Registros que possam ir além das pessoas/famílias e parentes indígenas que me seguem nas redes sociais e que possa desconstruir o indígena leigo e parado no tempo de 521 anos atrás".
A iniciativa terá uma transmissão de lançamento no dia 30 de abril, que ocorrerá no YouTube, às 19h, com a participação da equipe do projeto e de representantes da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e da Secretaria de Estado da Educação (Sedu). Um perfil do Instagram já está sendo alimentado com conteúdo de informação e difusão sobre a história e a cultura dos povos tupiniquim.
Para além da questão visual e o conteúdo escrito, a iniciativa multimídia ainda traz uma produção em áudio. O debate em podcast reúne Moschen e as lideranças indígenas Jocelino Tupinikim; Urutau Guajajara; e Tiago Matheus Tupinikim. Com lançamento marcado para o dia 27 de abril, no Spotify, o conteúdo em áudio terá como foco principal o processo de desaparecimento da língua Tupiniquim no Espírito Santo e as estratégias de retomada da comunidade linguística.
“A importância de manter uma língua viva se dá porque uma língua é um sistema de pensamento. Tem linguistas indígenas que trazem essa parte conceitual teórica para o projeto falando que uma língua é o todo, né. Uma língua é uma estrutura que está ligada a modos de vida, modos de pensar, narrativas históricas”, comenta Moschen.
Este conteúdo do podcast também será distribuído para as escolas da rede pública estadual de ensino, nos municípios de Aracruz e Colatina, através de uma parceria com a Secretaria de Estado da Educação (Sedu). “Direcionar parte da produção intelectual e artística dessas pessoas ao ensino público é uma forma de reconhecer narrativas teóricas e históricas concretas sobre um território dentro da história e do ensino tradicional”, afirma Aline Moschen.
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