Os números em torno de Projota realmente impressionam. Com mais de 1,5 bilhão de visualizações no VEVO, o rapper é um dos um dos dez artistas mais assistidos do canal na última década. No Spotify, não é diferente. São mais de 4,5 milhões de seguidores. Os índices desse fenômeno pop devem aumentar com o lançamento de Nossa Lei, música que conta com a participação de Xamã, revelação do hip hop nacional. A faixa está disponível nas plataformas digitais desde sexta-feira (11).
Em entrevista coletiva para divulgar o quinto single de Tempestade Numa Gota DÁgua, álbum que vem sendo liberado aos poucos, desde abril deste ano, Projota foi logo falando sobre a ansiedade de gravar ao lado do amigo.
"Já vinha ensaiando essa parceria há um tempão. Era WhatsApp o tempo inteiro (risos)", suspira, para, minutos depois, encher Xamã - que também participou da entrevista virtual - de elogios.
"É um dos nomes que mais tenho ouvido nessa quarentena. Ele tem um talento impressionante, especialmente para produzir flows (termo que serve para designar a maneira como o cantor "encaixa" as palavras na batida instrumental) potentes. Participamos de uma live em Goiânia e, finalmente, conseguimos conversar para fazer essa parceria firmeza", explica.
"'Nossa Lei' é muito especial para mim, pois retrata um pouco da história com a minha esposa. Queria dar um tom bem Xamã para a música, com batidas mais rápidas, repletas de metáforas e ideias populares."
Mesmo com a quarentena, a dupla - respeitando as normas de distanciamento social - conseguiu gravar um clipe para a faixa, em uma locação que fica distante apenas 10 minutos da casa de Projota. O vídeo, dirigido pelo trio Aisha Mbikila, Herder Fruteira e Hudson Rodrigues, esbanja cores vibrantes e referências à cultura pop.
"A canção (e o vídeo) mostra um casal que não se importa com as convenções e regras impostas pela sociedade sobre como eles devem ser ou agir. Tem muitas doideiras criativas (risos). Em uma cena, um computador vira uma torradeira (mais risos). Também fazemos altas referências a outros nomes da música, como (a banda) Incubus e (o cantor) Iggy Pop, ícones do rock. O hip hop e o rock tem muita coisa em comum. Ambos são transgressores e chegam em todas as classes sociais. Os jovens se sentem ouvidos", filosofa.
Tempestade Numa Gota DÁgua é um projeto que vem rendendo muitas parcerias ao rapper paulistano. Além de Xamã, o EP também conta com a presença de Cynthia Luz, em Sai de Rolê. Outras "feats" estão por vir.
"Em breve, teremos 'Vale das Sombras', com a participação de Maria Rita. É uma música de batida mais social, em tons de reflexão", adianta, confessando um grande objetivo. "Sonho alto (risos). Desejo gravar ao lado de Djavan um dia", suspira.
Por falar em participações, Xamã, que, por conta de problemas com o celular, teve sua participação reduzida na coletiva, ressaltou a importância de gravar ao lado do ídolo.
"Só estou na música há cinco anos. Antes, era apenas um vendedor de lojas (risos)", desconversa, com humildade, o MC responsável por um dos shows mais bombados do Rock in Rio 2019 e que, rapidamente, somou 2,5 milhões de ouvintes no Spotify, colecionando hits como Flow de Vendedor de Amendoim e A Bela e a Fera.
"Projota sempre foi uma das minhas referências, especialmente na época em que participava dos duelos de hip hop. Conseguimos fazer um clipe que inova no visual, com elementos que dialogam com o público jovem. A música também tem a mesma vibe. É bem antenada com o que está acontecendo nos dias atuais, por conta da pandemia", reflete.
Projota, por sua vez, diz que está usando a quarentena e o isolamento social para ampliar seu relacionamento com os fãs. "Estou muito próximo deles, respondendo mensagens com mais frequência. Fiz até um canal de games (risos)", responde, espantando, revelando que gostou da experiência de se apresentar em drive-ins, em shows recentes realizados em Curitiba e no Rio de Janeiro.
"É um calor diferente. Precisei de um tempo para entender como é a forma de comunicação com o público. Vejo o formato como uma saída, enquanto as apresentações não podem voltar ao normal. Pena que é um pouco inacessível, né? Drive-in é caro, só dá para ir quem tem carro", lamenta.
É impossível conversar com José Tiago Sabino Pereira (seu nome de batismo), um artista conhecido pelo engajamento social, sem perguntar sobre a onda de repressão contra a população negra, especialmente no Brasil e nos Estados Unidos.
"O racismo está cada vez mais forte. Tenho 34 anos e cresci na periferia de São Paulo. Nunca usei drogas ou cometi algo ilícito. A polícia me parava para dar batida, apenas por ser negro. Um dia, um militar encostou um revólver na minha nuca e disse: 'se eu quisesse 'fazer isso com você' agora, acabou. Ninguém sentiria a sua falta'. Nunca aceitei esse tipo de abordagem", relembra, com angústia.
"Acho que precisamos de diálogo para deter o racismo. A polícia é necessária, mas é preciso corrigir falhas para haver menos morte e dor. Meu irmão, por exemplo, é branco, cresceu no mesmo bairro e foi parado pouquíssimas vezes em batidas. Por que comigo foi diferente? Alguma coisa está errada e precisa mudar", alerta.
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