Paralisado há cerca de 17 meses, por conta da pandemia da Covid-19, o setor de eventos no Espírito Santo busca alternativas para continuar trabalhando. Exemplos como o de Colatina, que realizou um evento teste no último domingo (13), com direito a "cercadinho" separado por grades e 250 convidados, são vistos como um reinício para um ramo que, de acordo com dados da Abrape-ES (braço capixaba da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos), fechou cerca de dez mil postos de emprego, deixou 4,5 mil empresas totalmente sem renda e mil delas, as mais afetadas, de portas fechadas definitivamente.
Paira sobre o setor, porém, a esperança de dias melhores, especialmente por conta do avanço da vacinação no Estado, essencial para a diminuição dos índices da crise sanitária e a flexibilização das atividades econômicas. Considerado modelo para o resto do país, o ES - de acordo com dados do Governo Federal - conta com 32,95% da população imunizada com a primeira dose da vacina e cerca de 11,67% com as duas doses necessárias.
E as notícias são ainda mais animadoras. Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que a expectativa é vacinar com primeiras doses toda população capixaba acima dos 18 anos até outubro, ou seja, mira o público jovem, que costuma estar entre os maiores frequentadores de festas e shows.
Tendo os dados positivos em mãos, conversamos com pesquisadores, Governo Estadual e a Abrape/ES, buscando respostas para perguntas como, "Quando atividades como shows, por exemplo, poderão ser realizados normalmente, sem restrições ou rígidas normas de segurança sanitária?" ou mesmo "Quando eventos com mais pessoas poderão acontecer no Espírito Santo?".
Como exemplos, temos um evento teste na França - onde cinco mil pessoas não precisaram respeitar o distanciamento social, mas usaram máscaras de proteção - realizado no final de maio; ou mesmo uma apresentação musical com 50 mil expectadores na Nova Zelândia em abril, sem necessidade de máscaras ou distanciamento social.
Lógico que os números favorecem os dois países. Na França, 44% da população já recebeu pelo menos a primeira dose da vacina contra a Covid-19, e a Nova Zelândia é conhecida por ser referência no controle da pandemia, com fechamentos de fronteiras e lockdown, praticamente eliminando o contágio do vírus. No Brasil, a realidade é outra, com a vacinação caminhando lentamente, com apenas 28% das pessoas imunizadas com a primeira dose.
"Em relação ao Espírito Santo, ainda é prematuro dizer quando poderemos flexibilizar as atividades do setor de eventos, especialmente porque dependemos de uma série de índices favoráveis em relação à pandemia", adiantou Pablo Lira, membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE) e diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
"É uma situação matemática. A nossa taxa de transmissão da Covid-19 precisa cair mais, chegando a índices de 0,5 ou 0,6 (significa que a cada 2 pessoas infectadas com a Covid-19, há transmissão da doença para uma outra pessoa). Hoje, os números estão em níveis altos, cerca de 1,15 (mostrando que uma pessoa infectada com a Covid-19 tende a transmitir a doença para outra). Por outro lado, a vacinação também precisa avançar mais, para que a população atinja uma imunização maior, chegando, no mínimo, a 75% dos capixabas vacinados com as duas doses do imunizante. Estamos com uma média móvel de casos e óbitos ainda muito altos. Nos últimos 14 dias, registramos média de 20 óbitos e 998 casos", explica, fazendo uma previsão para a possibilidade de retorno gradual dos eventos.
"Precisamos construir uma proposta prudente, seguindo os exemplos dos eventos corporativos, que já estão podendo acontecer no Estado. Acredito que no quarto trimestre deste ano - se a vacinação ocorrer no ritmo atual - poderemos fazer pequenos shows, com um público reduzido, cerca de 400 pessoas, por exemplo, respeitando todas as medidas de segurança sanitária, testando e monitorando a saúde dos participantes."
Pós-doutora em Epidemiologia e pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel compartilha do raciocínio de Lira, em relação à reabertura de eventos.
"O momento propício para a realização de eventos será quando nós tivermos o controle da pandemia, com uma taxa de reprodução do vírus próximo de 0,5 ou quando tivermos menos de um caso da doença por 100 mil habitantes por dia, ou seja, de 42 novos casos diários e ainda estamos longe disso. Festas clandestinas e aglomerações, por exemplo, certamente atrapalham esse controle", enfatiza.
"Dependendo da possibilidade de surgimento das novas variantes, quando cerca de 50% da população estiver vacinada com as duas doses, podemos pensar em um início do controle da pandemia."
Esperançoso com os rumos que a vacinação está tomando no Estado, Pablo Pacheco, diretor da Abrape-ES, protocolou, junto a Sesa/ES e a Secretaria de Saúde de Vitória, uma proposta para a realização de dois eventos testes. As apresentações aconteceriam em uma casa noturna da Capital capixaba. De acordo com Pacheco, a proposta propõe o primeiro evento entre a segunda quinzena de junho e a primeira de agosto. O segundo aconteceria no final de agosto.
"Vitória está avançando com a vacinação, o que, certamente, pode trazer uma diminuição nos números relacionados a Covid-19. Queremos realizar os eventos testes em parceria com uma universidade e a Secretaria Estadual de Saúde. Pensamos nos mesmos moldes do que está sendo realizado na Europa e nos Estados Unidos, apostando em um formato de bolha", detalha, dizendo que, inicialmente, pretende fazer as duas apresentações com cerca de mil e dois mil participantes, respectivamente.
"Todos os envolvidos seriam submetidos a testes antes dos shows e, depois, acompanhados por um determinado tempo, sendo retestados, fazendo um rastreamento para saber o estado de saúde de cada um. Os protocolos de segurança seriam determinados pelo Governo Estadual. Aproximadamente 28 dias depois, o segundo evento poderia ser realizado", explica, afirmando que a flexibilização do setor poderia ser vista até como uma ferramenta de combate a festas clandestinas, que não respeitam protocolos sanitários e atrapalham o combate à doença.
"Recentemente, entregamos uma proposta de flexibilização ao Governo do Estado, sugerindo que, assim que a população com comorbidade for totalmente vacinada, sejam retomados eventos para até 700 pessoas nas cidades em risco baixo (de acordo com o Mapa de Risco para a Covid-19). Em municípios de risco moderado, o limite seria de 400, seguindo os mesmos moldes. Até agora, não obtivemos a resposta. Precisamos que o setor se recomponha e volte a gerar empregos e renda. Com a situação mais definida, queremos nos programar para as festas de réveillon, carnaval e verão."
Procurada pela reportagem, a secretária de Estado do Turismo, Lenise Loureiro, informou que está avaliando a primeira proposta do setor e que pode ter uma definição até a próxima semana.
"Estamos estudando cada proposta de flexibilização à medida que os números da Covid-19 no Estado vão apresentando melhora. Estamos em constante contato com a Secretaria de Saúde e o Governo do Estado. Sobre a análise em relação à ampliação do número de pessoas nos eventos, também dependemos dos números de vacinados, dado importante para tomar esse passo", explica Lenise.
Em relação aos dois eventos testes, também pretendido pela Abrape/ES, Lenise Loureiro informou que ainda não há previsão. "Vamos apostar no planejamento da vacinação e no painel de classificação de risco, anunciado semanalmente pelo Governo Estadual. Precisamos de cautela, até porque o público jovem (que costuma frequentar mais atrações do gênero), em sua maioria, ainda não foi vacinado. Nosso olhar agora está sobre ações que visam o controle da pandemia", complementa.
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