Com quase 400 anos de história (começou a ser construído em 1652), o Convento da Penha, em Vila Velha, é um dos santuários religiosos mais antigos do Brasil e "casa" da devoção capixaba por Nossa Senhora da Penha. Dono de um rico acervo histórico, entre imagens sacras, textos e objetos religiosos, muitos deles ainda sem catalogação, o santuário canela-verde está passando por um inventário fotográfico e textual.
Comandado pela arquivista - e especialista em Acervo Fotográfico e Patrimônio - Leila Valle e com recursos da Secretaria Estadual de Cultura (Secult), o processo pretende descrever - e catalogar - cerca de cinco mil documentos históricos da construção. O material foi encontrado em um depósito, chamado de reserva técnica, próximo à sala de exposições do convento. Por lá, a arquivista se deparou com imagens, fotos e textos que datam do século XIX ou até mais antigos. Muitas relíquias "esquecidas" em uma sala fechada.
"Em 1997, o Convento da Penha contratou uma museóloga, que fez um levantamento de todo o acervo histórico. Ao todo, são mais de mil fichas descrevendo peças, classes e localização desses objetos. Parte do meu trabalho é fazer um inventário desse material, guardando e conservando esses estudos, imprimindo a eles um formato técnico", adiantou Leila.
Ente as maravilhas encontradas pela estudiosa, estão registros - em textos - dos escravos que vieram para o Espírito Santo, além de relatos de uma viagem de Dom Pedro II ao nosso Estado. "Ainda estou fazendo um mapeamento preciso das datas desses materiais, mas são objetos muito antigos, em ainda bom estado de conservação", adianta.
Leila faz questão de descrever algumas imagens sacras encontradas em suas pesquisas. "Há verdadeiras relíquias, como as esculturas em barro de São Manoel da Paciência e de Santa Barbara, preciosidades vindas de Portugal", aponta.
"Ela (Santa Bárbara) e Nossa Senhora das Alegrias estão entre os objetos mais importantes do acervo. É um material com grande valor histórico, mas, muitos deles, por exemplo, não têm uma ficha de registro indicando o autor das imagens ou mesmo quando a obra chegou ao Convento. Muito material foi perdido, infelizmente", enfatiza a pesquisadora.
Ainda no centro da pesquisa desenvolvida pela arquivista, encontram-se vestimentas religiosas utilizadas em cerimônias especiais. "É um material bordado com fios de ouro, que não são usados desde os anos 1950. A partir de agora, servirão apenas como objetos de exposição".
Além da catalogação do material, Leila Valle também criou um processo de entrevistas com pessoas que tiveram participação fundamental da trajetória do Convento da Penha.
"Estou promovendo encontros com funcionários antigos do santuário, com um de seus restauradores (Ailton Tadeu Costa) e com ex-presidentes da Associação dos Amigos Convento da Penha (Ligia Paolielo, Tereza Brunelli e Arlete Uliana)", adianta, complementando que o bate-papo virtual é essencial para que consiga entender o processo histórico de cada obra a ser listada.
Além disso, será catalogado o material deixado pelos devotos em agradecimento a Nossa Senhora da Penha por alguma graça alcançada. Eles serão divididos nas seguintes tipologias: Escultórico, Pictórico, Fotográfico, Epigráfico, Instrumentos Musicais, Ourivesaria, Relacionados à Medicina, Relacionados aos Meios de Comunicação, Relacionados à Indumentária, Relacionados à Algum Tipo de Vício, Relacionados ao Uso Pessoal e Orgânico.
Leila adianta que todo o material passará por higienização e digitalização, que, futuramente, devem ser expostos em um site que terá um link presente no portal do Convento da Penha.
"Por conta da pandemia do novo coronavírus, estou fazendo o trabalho em home office. Preciso recolher parte do material e levá-lo até o meu escritório. A pandemia também atrasou o estudo. O projeto deveria ser entregue em outubro, mas vou pedir um tempo maior a Secult/ES", informa Leila, afirmando que todo o material catalogado será transformado em um livro físico, que contará com 10% dos exemplares impressos distribuídos de forma gratuita, preferencialmente aos visitantes do convento.
"Futuramente, pretendo fazer outro projeto relacionado ao espaço religioso. Quero resgatar boa parte da história do Convento da Penha, tendo como base um material que consegui junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Trata-se de um documento da década de 1940, mas especificamente quando o monumento foi tombado", complementa.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta