Quando um artista só vê as possibilidades de exposição diminuírem, ele começa a buscar outras formas de mostrar seu trabalho para a sociedade. No Espírito Santo, por exemplo, a nova onda é levar a arte "até a mesa" do espectador. Atualmente, diversos restaurantes, bistrôs e bares cedem parte de seus espaços para artistas sediarem exposições e mostras.
Esse movimento acontece porque, cada vez mais, montar uma exposição em uma galeria pode ser trabalhoso. Além disso, não é todo novo artista que consegue conquistar um espaço desses - de galeria - sem trilhar uma carreira antes, para fazer nome.
No fim das contas, todos saem ganhando, uma vez que o cliente pode saborear uma boa comida apreciando belas obras e o artista ganha visibilidade. A artista plástica Tânia Calazans é uma que se beneficiou desta jogada, ao expor suas obras no Trapiche, bistrô do Centro de Vitória, há cerca de dois meses.
"Sabe uma pessoa realizada, feliz? (Risos). Era eu durante e depois da exposição. Muitas peças foram vendidas, recebi muitas mensagens e comentários elogiando e foi uma mostra que reuniu peças de várias fases da minha carreira", conta ela, que começou a expor em 1988, em um salão.
A artista colocou no espaço do Centro desde esculturas até pinturas e produtos que ela faz com base em suas próprias criações. "Comecei a desenvolver produtos mesmo, como mochilas e bolsas, com estamparias criadas por mim para quem não quer ou não tem estrutura de adquirir uma coisa maior. Mas são itens colecionáveis da mesma forma", fala.
Segundo Tânia, que pelos anos de carreira já expôs em diversas galerias e espaços dedicados à arte, a experiência de ter as obras colocadas em um ambiente alternativo como o bistrô foi positivamente única. "Ficou uma exposição encantadora e muito alegre, colorida. Todo mundo falou bem e não teve preço ouvir tantos elogios como desse evento. Nossa, foi um supercrescimento", conclui.
O Trapiche, onde expôs Tânia, é um braço cultural que tem parceria com a editora Cousa, coordenado por Saulo Ribeiro. Para ele, o fato de ser abrigo para uma exposição só fortalece a união de mais de uma forma de arte, que ainda se une a uma terceira atração como chamariz de público novo, que é a gastronomia. "O espaço une literatura, café e arte. Nossos espaços sempre foram muito bem recebidos e, pelo que estamos vendo, esse movimento de valorização vem sendo crescente na Grande Vitória", avalia.
De acordo com o coordenador, para expôr lá, só é preciso conversar com os administradores. Cada mostra pode ficar por até dois meses em cartaz, com as obras à venda, podendo também o tempo ser negociado caso a caso. "Temos uma resposta boa dos artistas, que também sempre acabam criando um vínculo conosco", fala.
O mesmo acontece no Grappino, onde Carlos Roberto Venturim, o Batata, é gerente. "Fazemos exposições de um mês de duração com intervalos de uma semana", fala.
Segundo Carlos, as mostras são realizadas desde a abertura do restaurante, em 2014. "Na maioria das vezes, as obras são reservadas durante a exposição e, no fim, são vendidas. "O bom dessa ação, que partiu da mãe do proprietário, Tânia Crivilin, sempre dá uma cara nova para a decoração do nosso ambiente e acaba atraindo pessoas que conhecem nosso espaço", conclui.
O chef Federico Ciampichini, junto dos sócios Andrés Uauy e Omar Sierra, tomou a mesma iniciativa, no próprio restaurante, o El Libertador, na Mata da Praia, na Capital. Eles, que têm o restô há pouco mais de um ano, começaram a ceder local para exposições logo no início da operação.
"Percebemos que os clientes gostam muito das exposições. Já abrigamos cerca de seis exposições e estamos muito contentes com o resultado", diz Federico, completando: "Já vendemos algumas obras nesse modelo de negócio".
Federico lembra que tudo começou quando ele, que sempre foi apaixonado por arte, começou a colocar quadros de acervo pessoal no restaurante. Em seguida, foi procurado por uma artista plástica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) para iniciarem uma parceria com novos talentos e outros artistas que precisam dessa primeira oportunidade. "E é ótimo, porque sempre ficamos com o ambiente preenchido e sempre tem novidade. As exposições têm uma média de tempo, que é de dois meses, mas nada que não possa ser negociado, também", reitera.
Recentemente inaugurada, a Oca, no Centro de Vitória, já nasceu de uma proposta inovadora, que é praticamente inédita no Estado. Lá, há bistrô, cafeteria com restaurante, ateliê de arte, hostel e ainda espaços para eventos pequenos, que comportam até 100 pessoas. Comandado pelo casal Caio Cruz, que é artista plástico, e o chef Fabrício Costa, conhecido por Fab's Costa, às quintas-feiras há até pintura ao vivo durante o almoço.
"Começamos a desenvolver a ideia e as pessoas que iam almoçar adoraram, por ser diferente mesmo. O público é quem escolhe o que eu vou pintar e eu faço a tela em 30 minutos. Tudo a gente também anuncia via redes sociais para chamar gente nova para conhecer o espaço. É uma ação que serve para isso, também", confidencia Caio.
O espaço tem programação cultural também publicada na web e é aberta a parcerias com artistas que estão conquistando fama na cena capixaba.
A Gazeta separou alguns espaços da Grande Vitória que estão com exposição em cartaz ou têm espaços destinados para esse tipo de atividade (veja lista abaixo). Para os interessados, na maioria dos casos é só entrar em contato com o estabelecimento, mostrar um portfólio e ceder as peças pelo período combinado, quando a curadoria do local aprovar a coleção.
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