Roberto Carlos faz 80 anos nesta segunda-feira, dia 19 de abril e, querendo ou não, vai ganhar de presente pelo menos três livros sobre a sua vida. Dois deles prometem causar furor, já que são duas biografias detalhadas.
Não custa lembrar que em 2007, o cantor conseguiu com que o livro "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo Cesar de Araújo, fosse recolhido das livrarias. O caso foi o estopim para que, oito anos depois, o Supremo Tribunal Federal liberasse as biografias não autorizadas no país.
Pois Paulo Cesar de Araújo volta à ativa com "Roberto Carlos Outra Vez", da Record, no qual reescreve a história do maior cantor popular da história da música brasileira em dois volumes de mais de 500 páginas cada um. O primeiro volume, que trata de 1941 a 1970, deve entrar em pré-venda ainda neste mês, com exemplares chegando aos compradores entre maio e junho. O segundo volume está previsto para o fim do ano.
A outra biografia inédita é da lavra de Jotabê Medeiros, jornalista cultural que vem lançando com sucesso uma biografia musical a cada dois anos. Após "Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano", de 2017, e "Raul Seixas - Não Diga que a Canção Está Perdida", de 2019, chega a vez de "Roberto Carlos - Por Isso Essa Voz Tamanha", todos pela editora Todavia.
"Eu sou robertomaníaco, mas tinha certo receio de fazer essa biografia. Como a editora bancou o risco, é claro que aceitei", diz Medeiros, lembrando o fato de que, apesar da liberação do Supremo, ainda existe o código penal. Acusações de calúnia, injúria ou difamação já foram usadas pelos advogados de Roberto Carlos em mais de uma ocasião.
"Entretanto, não creio que o livro o vá incomodar assim. Topei fazer sob duas condições. Que não escreveria sob autocensura e que seria uma biografia feita com respeito. Sobre isso, quero dizer que, na condição de repórter há décadas, observei que há um estigma muito grande contra Roberto Carlos. Sempre houve preconceito dentro das Redações e me propus a não levar isso em conta."
Com 512 páginas, "Por Isso Essa Voz Tamanha" traça a história cronológica do artista. "Organizei as histórias de forma que pudesse explicar as razões que levaram Roberto ao trono da música brasileira. Porque Roberto é mal explicado. Parece que aconteceu de repente, que aconteceu uma autogênese, quando na verdade ele ralou muito. Meu livro busca pequenas histórias para entendermos o cerne e que montam um perfil menos maniqueísta do artista."
Medeiros então conta inúmeras passagens em que Roberto demonstra sua fidelidade com amigos e artistas, mas não se furta a revelar histórias tristes, como a do corretor de imóveis capixaba, homônimo ao cantor, que foi processado e obrigado a fechar sua empresa Roberto Carlos Imóveis.
Tudo isso fez com que o livro de Medeiros passasse por leitura jurídica especializada, que, segundo o autor, não sugeriu cortes, mas sim a rechecagem de alguns dados e uma ou outra reformulação de texto para que não houvesse dubiedades.
Ainda em relação à fidelidade, Medeiros também encontrou problemas. "Isso porque, se ele é leal com amigos, ele exige essa lealdade de volta." Assim, ele agradece a cerca de 30 entrevistados no fim do livro, mas não pôde listar mais uma dúzia que deu entrevista sob condição de anonimato.
"Não quero que a vida de uma pessoa se torne pior porque ela deu uma entrevista. Uma nota em um jornal pode fazer com que as portas de acesso ao Roberto se fechem para sempre. Até o Erasmo comentou que, ao lançar sua autobiografia, passou antes para Roberto ler. É muito sério isso para ele."
Essa autobiografia de Erasmo Carlos, "Minha Fama de Mau", da Objetiva, é uma das muitas fontes novas com que Paulo Cesar de Araújo contou para seu retorno à vida de Roberto. Isso, outros livros que saíram nos últimos 15 anos e 30 novas entrevistas, que, somadas às 170 realizadas para o livro de 2006, compõem um impressionante panorama de fontes para "Roberto Carlos Outra Vez".
Seu livro de 2006 não está proibido. O que houve foi um acordo judicial em que a editora Planeta desistiu do negócio. Na Estante Virtual, há cerca de 45 exemplares disponíveis, com preços variando de R$ 180 a R$ 1.300 cada um. "Em Detalhes" vendeu 46 mil cópias e cerca de 11 mil foram entregues a Roberto Carlos como parte do acordo.
Para encerrar o assunto, Araújo resolveu começar do zero. Como já havia escrito a história de forma cronológica, criou agora um formato engenhoso, no qual conta a mesma história por meio das músicas compostas ou cantadas pelo artista.
São cem músicas, 50 em cada volume, e elas seguem uma cronologia diferente. A primeira, por exemplo, é "O Divã", composição de Roberto e Erasmo lançada em 1972. "Relembro a casa com varanda/ muitas flores na janela/ minha mãe lá dentro dela", canta Roberto.
"Ali ele nos apresenta sua casa, e eu entro junto com ele para descrever a vida de seus pais, sua infância", diz Araújo. "Depois temos 'Meu Pequeno Cachoeiro' e 'Lady Laura'. Tudo isso traz descrições de sua vida antes de ele fazer sucesso. Mas conto também a história por trás da composição e gravação dessas músicas. Assim, cada capítulo tem um presente e um passado ao mesmo tempo, não é linear. É um quebra-cabeças", diz o autor.
A ideia de que Roberto Carlos sempre contou sua vida por meio das músicas foi, inclusive, o que atraiu inicialmente Araújo para a obra do artista. "Foi isso que me fez querer escrever a primeira biografia. Ele canta o que vive e sente, tem uma obra nitidamente biográfica."
Cada capítulo escrito por Araújo ocupa cerca de dez páginas e traz uma foto relacionada ao tema. "Se ele ler, ele vai gostar. Não tem como não se emocionar ao ler histórias de tantos amigos, familiares e parceiros. Roberto vai ter um reencontro com a história dele. Creio que aquela fúria inicial de 2007 passou. Essa é a minha expectativa." O livro, de qualquer forma, também vai ser lido por advogados da editora Record.
Às duas grandes biografias, se junta "Querem Acabar Comigo - Da Jovem Guarda ao Trono, a Trajetória de Roberto Carlos na Visão da Crítica Musical", de Tito Guedes. Fruto de um trabalho de conclusão do curso de comunicações, a obra busca traçar as idas e vindas das opiniões dos críticos de jornais, revistas e também livros sobre Roberto.
Dividido por décadas, conta a história do artista ao mesmo tempo que lembra classificações desabonadoras (oportunista, acomodado, comercial, repetitivo, ultrapassado, ruim) e elogiosos (rei, cantor excepcional, mestre, receptor de mensagens ocultas, decifrador do inconsciente coletivo, genial). A vida pessoal de Roberto não tem espaço aqui.
"Analisei cerca de cem críticas, e escolhi as mais representativas para incluir no livro", conta Guedes, que destaca como importante um texto do poeta Augusto de Campos defendendo Roberto Carlos ainda em 1966, quando absolutamente nenhum crítico o levava a sério. "Creio que foi o que fez os tropicalistas se aproximaram dele", diz.
Quanto a Roberto, ele não quis dar entrevista para esta reportagem. Na verdade, há 20 dias, ele recebeu uma lista com perguntas de jornalistas de diversas partes do país e do mundo, que correram atrás devido ao aniversário redondo de 80 anos. Recluso em seu apartamento no bairro carioca da Urca, ele ainda não respondeu nenhuma. Nem disse que irá.
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