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Rock in Rio ganha filme e pode não ter edição no Chile em 2021

Rock in Rio ganha filme e pode não ter edição no Chile em 2021

Incerteza gira em torno do cenário político, com a crise social no país. Evento, que completa 35 anos, ainda quer fazer escola e criar uma rede de empreendedorismo com jovens

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 20:49

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O empresário Roberto Medina, presidente do Rock in Rio. (Reprodução/Instagram @carnavalinterativo)

Há 35 anos, o Brasil viu nascer - e ajudou a criar - o filho que hoje Roberto Medina tem o maior orgulho de dizer que é seu. Fundador e presidente do Rock in Rio, o empresário divide escritório com os outros dois herdeiros e ao longo das décadas teve um cuidado especial com a educação que deu a todos eles.

"Tive a sorte de ter um filho, que é o Rodolfo, que é vice-presidente comercial do Rock in Rio, e a Roberta, minha filha, que trata da parte social e comunicação", fala, em entrevista exclusiva ao DIVIRTA-SE.

Para o Rock in Rio, ele mesmo diz que sempre deu o melhor desde a primeira edição. Quem não se lembra da mega estrutura da edição de 1985, que veio toda dos Estados Unidos, bem como a maior parte dos técnicos que trabalhou no empreendimento revolucionário do entretenimento? Agora, Medina colhe os louros de ter sido criador do case e pretende crescer: 

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Vamos fazer um documentário contando a história do Rock in Rio, um filme daqui uns três anos e a ideia é sempre superar a edição anterior.

Roberto Medina
Fundador do Rock in Rio
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Por falar em novas edições, os planos do Rock in Rio 2021 podem ser diferentes. Segundo Medina, a intenção era realizar uma edição dupla, sendo no Rio de Janeiro e no Chile ao mesmo tempo. Porém, apenas a edição brasileira está confirmada. 

"A gente ia fazer no Chile, mas com essa confusão política, essa coisa social, preferimos não fazer. Ia ter Chile e Rio juntos. Foi incrível o negócio do Chile, escolhi porque era estável e, de repente, uma confusão lá. Não dá para saber", disse Medina, deixando o clima de incerteza no ar.

Procuramos a assessoria do evento, para confirmar se o evento no Chile estaria cancelado e obtivemos a seguinte resposta: "a gente não tem essa confirmação, se vai acontecer ou não. O que foi feito aqui no Brasil foi um acordo de intenção".

Mas a ambição do presidente de um dos maiores festivais de música do mundo vai além da realização do festival em si. Ele quer ensinar outros jovens visionários a fórmula que ele mesmo aplicou no próprio evento. "Quero construir um espaço onde as pessoas vão ter experiências reais com o que a gente faz. Olhar uma operação dessas para criar profissionais para o futuro. Futuro é turismo, turismo e turismo. Isso é entretenimento, cultura", exemplifica.

próxima edição do festival no Brasil acontece em 2021 com show de Alok já confirmado, mas ainda sem mais detalhes confirmados. Para 2020, apenas a edição de Lisboa, em Portugal, está confirmada. 

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Primeiro, qual é o saldo que você faz desses 35 anos de Rock in Rio?

  • Valeu cada momento. Eu tinha um sonho complicado em um momento de muita esperança. Saímos da ditadura para a democracia e eu quis provocar a juventude e foi uma grande aventura, porque foi uma terra desconhecida para os brasileiros até então. Eu não sabia disso, minha trajetória era de comunicador, tinha agência de publicidade. Ali era uma operação que eu não conhecia exatamente.

Se fala muito da participação de Frank Sinatra no RiR. Qual foi a importância dele, de fato, e qual era sua relação com ele?

  • Total importância. Quando fui para os Estados Unidos, eu não conhecia a história dos empresários daqui. Só escutava histórias complicadas, e eu estava propondo um evento "mundo". Então, faltou credibilidade para mim. Depois de receber todos os "nãos" do mundo, eu saí de Nova Iorque e fui para Los Angeles e pedi ajuda a Sinatra. Tínhamos uma relação. Eu tinha feito o show dele no Maracanã para 174 mil pessoas e ele fez uma coletiva para 100 jornalistas me ouvirem. Aí tinha fila no hotel Beverly Hilton de pessoas para ouvirem o que eu propusera por 60 dias e não conseguia. Ele disse que eu era um cara em quem confiar.

E a que você atribui o sucesso que é o RiR hoje em dia?

  • Eu acho que a gente começou pela porta da frente. Apesar de, naquela época, o Brasil não ter aparelhagem de som de qualidade, estrutura, nem nada, eu procurei trazer tudo do melhor que tinha nos Estados Unidos, até os técnicos. Única coisa que o Brasil me impunha dificuldade é o patrocínio. O mercado de patrocínio dos EUA, por exemplo, é mil vezes maior que o do Brasil, e o RiR é o quatro vezes maior que o maior evento americano. Quando eu coloquei no papel o meu sonho, era impossível realizar. Logo, eu tinha que buscar alternativas e consegui.

E qual foi a alternativa que você encontrou?

  • Tornei daquilo um projeto de comunicação que acabasse em música. Eu precisei convencer as empresas a comprar o negócio. Aí, aquilo que era impedimento, virou alavanca. Eu tinha que criar uma experiência de vida, eu tinha que criar um movimento e isso aconteceu. Começamos muito sofisticados, até com transporte de bebida por baixo da terra. Não tinha como abastecer o festival de cerveja, então construí um duto para fazer isso, imagina. Por uma questão de sobrevivência, a gente começou por cima.

Como você faz para lidar com os conflitos, como o cancelamento de Lady Gaga, em 2017, que rende meme na internet até hoje?

  • É sempre muito chato, mas faz parte do show. A gente tenta sempre é ter uma substituição. A pessoa recebe o dinheiro de volta, se quiser... Mas para você ver como o Rock in Rio é uma experiência: da Lady Gaga, só 5 mil pessoas pediram dinheiro de volta. O restante todo foi. Enfim, já contratei mais de duas mil bandas e tive umas 3 ou 4 desistências por doença, mas com antecedência suficiente para anunciar o cancelamento. Normalmente as pessoas não desistem de ir. Hoje são 60 horas de música. É um parque temático com a música como centro de atração. A gente está muito mais para um parque da Disney do que para um festival (risos).

Você trabalha com grande parte da família nos negócios. A gestão de conflitos é feita da mesma forma (risos)?

  • Não é uma empresa familiar porque é um grupo muito grande. Tenho CEO e, quando chega ao fim do RiR, temos 28 mil pessoas trabalhando com a gente. Tive a sorte de ter um filho, que é o Rodolfo, que é vice-presidente comercial do Rock in Rio, e a Roberta, minha filha, que trata da parte social e comunicação. A relação é amorosa e profissional, e eles são pessoas especiais.

Existe a ideia de fazer mais edições fora do país, depois de Portugal, Espanha, Estados Unidos...?

  • A gente ia fazer no Chile, mas com essa confusão política, essa coisa social, preferimos não fazer. Ia ter Chile e Rio juntos. Foi incrível o negócio do Chile, escolhi porque era estável e, de repente, uma confusão lá. Não dá para saber.

Das histórias de bastidores, alguma até hoje te impressiona ou te faz ter alguma lembrança curiosa?

  • Eu já contei algumas histórias nesse processo todo. É claro que tem, principalmente no início. Me assustava porque era algo estranho para mim. As coisas eram muito informais. Lembrei que cheguei à casa do Iron Maiden para contratá-los, todo de terno. Entrei na casa do empresário e ele estava de cueca comendo macarrão. Levei um susto e ele também, porque se assustou da forma como eu estava (risos). Aí, sentamos na cozinha e assinamos o contrato daquele jeito. Até hoje, este cara é empresário deles e lembra da nossa história. Hoje tem menos porque a coisa é mais profissional, mas têm as exigências do cantor. Elton John com as rosas com caule de 12 centímetros, por exemplo...

O RiR já tem ótimos números, já tem uma marca forte, já ganhou reconhecimento de evento sustentável... O que é uma grande conquista agora?

  • Durante o RiR, há um curso entre um fim de semana e outro para mil pessoas. Isso está crescendo, e agora quero fazer uma plataforma de entretenimento e empreendedorismo com o RiR. Quero construir um espaço onde as pessoas vão ter experiências reais com o que a gente faz. Olhar uma operação dessas para criar profissionais para o futuro. Futuro é turismo, turismo e turismo. Isso é entretenimento, cultura. Tenho um documentário também que conta a história do Rock in Rio e, mais para o futuro, daqui uns dois ou três anos, um longa de ficção.

Os palcos alternativos do festival dão voz, cada vez mais, a minorias. A comunidade LGBT está em evidência, luta contra gordofobia... Esses movimentos interferem na construção desses espaços do RiR?

  • Isso é muito importante. O Palco Favela foi o maior sucesso e eu vou ampliar essa questão. Você tem bandas novas que precisam do espaço, e sempre tem uma coisa interessante que a espontaneidade dessas atrações traz. Fora que as atrações das arenas se entrelaçam. Estamos sempre estimulando essa parte do entorno do palco principal. São 9 palcos com temas diferentes que fazem você realmente não conseguir, nem em dois dias, ver todas as atrações.

Como será a próxima edição aqui no Brasil?

  • Estou tentando empregar a mesma coisa, mas melhor. Minha luta é aperfeiçoar o que eu entrego. Eu cobro na pesquisa de grau de satisfação das pessoas e a última pesquisa teve 95% de aprovação. O que eu tento é isso: entregar experiência única. Mas operacional é tudo igual, com outras bandas, mas da mesma forma.

Previsão de ingressos para a próxima edição? Atrações?

  • Ainda sem previsão e nada confirmado. As bandas começam a tomar decisões quando faltam 6, 7 meses, mais ou menos. Só Alok que o show dele, sim, está confirmado. Eu não o conhecia, só ouvia falar. No dia que fui ao show, adorei. No dia seguinte, falei com ele para a gente fazer algo.

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