A última segunda-feira, dia 12 de abril, foi para o escritor Romulo Felippe um dos momentos mais importantes de sua carreira. Em suas palavras, neste dia viveu um momento de êxtase e jubilo ao receber a notícia de que conquistou a cadeira número 9 da Academia Espírito-santense de Letras (AEL).
"O dia já estava pleno, com o início da realização de um sonho, no litoral de Anchieta, e por ser o Dia da Padroeira do Espírito Santo. E foi fechado na estrada, na companhia da minha esposa, nas palavras do confrade Anaximandro Amorim, que anunciou a minha vitória”, relembra o momento. Felippe concorreu com mais seis autores pela honra de fazer parte da instituição, tendo sido eleito em uma assembleia virtual.
Cachoeirense, o também jornalista ocupará o posto outrora pertencente ao grande expoente da literatura capixaba, Sérgio Blank, que faleceu em 2020. Felippe afirma que a contribuição poética do antecessor é perpétua e demonstra sua admiração: “Tinha uma visão translúcida do cotidiano, enxergava o invisível para todos nós e o transformava em poesia plena, da alma. Uma lacuna se abriu diante sua partida, infelizmente, mas seu escrito está eternizado”.
Vale destacar que a posse do escritor deve ocorrer dentro de 180 dias a partir de sua eleição, de acordo com o estatuto da AEL. Felippe detalha que a ideia é que aconteça em outubro, devido ao momento marcado pela pandemia, para que, talvez, com a devida vacinação, possa ocorrer de forma presencial. “Caso contrário, será virtual, assim como o foi na Assembleia da minha eleição”, declara.
O escritor conta que concorrer à cadeira teve duas motivações: um sonho de infância e adolescência; e a vontade de ser um colaborador no difícil processo de não apenas difundir a paixão literária, mas também ajudar na construção de uma nova geração de leitores. Romulo acredita que as academias literárias são essenciais para esta formação.
Como novo membro, entre os 40 totais da AEL, que completa 100 anos em setembro de 2021, Romulo enxerga que o seu papel é o de preservar a riqueza de nossa língua mãe e, mais ainda, expandir conhecimento para a população, principalmente para aqueles que necessitam de referências literárias. “Cerca de 30% da população brasileira jamais leu um livro por inteiro. Segundo a pesquisa, isso se deu por falta de quem os incentivasse a ler. Então, eis uma das missões da AEL: instigar, incentivar e estimular a leitura”, reflete.
A respeito dos projetos em que deseja atuar na academia, adianta: "A AEL possui projetos incríveis, como o 1º Concurso Literário Sérgio Blank, voltado para os apenados do sistema carcerário capixaba. Muitos dos confrades e confreiras, antes da pandemia, visitavam escolas para levar aos jovens o amor pelos livros, seja na leitura ou na escrita. Gostaria de atuar dentro desse contexto".
Com paixão declarada pela leitura e escrita, Romulo conta que o gosto vem desde a infância, quando já visitava a Casa dos Braga, morada de Rubem Braga em vida, local em que "devorava" centenas de obras. "Absorvia tudo o que podia: de Guimarães Rosa a Umberto Eco. Mas era o Sabiá da Crônica Brasileira, Rubem Braga, quem mais me cativava. Nascia ali meus primeiros versos e crônicas publicados nos jornais semanais: O Brado, Correio do Sul e O Arauto", rememora.
Foi aos treze anos que adentrou em seu primeiro emprego de meio expediente em uma redação. A partir do jornalismo, ele afirma ter sido um pulo para a literatura. Hoje, Felippe tem tês livros publicados: “Monge Guerreiro”; “O Farol e a Tempestade”; e “Reino dos Morcegos”. Além disso, o escritor tem participação no Volume I de “Entre Monstros e Dragões”, coletânea portuguesa, organizada por R.C. Vicente (confira mais detalhes sobre os livros ao final da matéria).
"Frases curtas, parágrafos pequenos, farta pesquisa e um texto de imersão. Anseio que o leitor viaje pelo enredo, que sinta na pele as dores e amores das minhas obras", assim Romulo define o seu modo de escrita.
E vem muito mais por aí, neste pouco mais de um ano de pandemia, infectado e reinfectado pela Covid-19, o autor produziu quatro originais inéditos, que serão lançados no decorrer de 2021. Os títulos são o drama de guerra “Pássaros Negros na Neve”, com lançamento em junho, pela Novo Conceito; a jornada pela Terra Santa “Quando Entrevistei Jesus”, que apresenta uma pegada jornalística; o infantil “Universos Incríveis Além do Nosso”; e a fantasia medieval “O Fogo Eterno do Dragão”.
“Atualmente estou finalizando as pesquisas do romance histórico “O Lanceiro Romano”, encomendado pela minha editora italiana, a Newton Compton Editori. Esta é a árdua e prazerosa missão para 2021. Que venha muito mais!”, antecipa, para a alegria dos fãs.
Para Romulo, o Espírito Santo é um celeiro de talentos, destacando o célebre Rubem Braga e os que julga fenomenais: Francismo Aurélio, Bernadette Lyra, João Gualberto, Neida Lúcia e Anaximandro Amorim. Embora não consiga nominar todos os autores que admira no Estado, enfatiza: “Defendo a tese de que um escritor não possui pátria ou fronteiras que o cerquem, seja capixaba, brasileiro no contexto geral ou inglês, por exemplo. O escritor é uma peça universal. O mundo deveria aprender a ler mais nossos autores, e aos poucos isso está acontecendo”.
Felippe pensa ser preciso difundir melhor as obras locais através de feiras, encontros, palestras e afins. Em entrevista ao Papo de Colunista, na quarta-feira (14), com Beatriz Seixas, Rafael Braz e Leonel Ximenes, o escritor contou mais sobre a sua visão a respeito do mercado de livros no ES e chegou a comentar questões como a taxação de obras e o incentivo à leitura. Confira na íntegra:
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