O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, se recusou a participar de uma audiência pública mediada pela deputada Benedita da Silva, do PT do Rio de Janeiro, nesta segunda (7). O tema da discussão era a crise institucional da fundação.
"Não me sento à mesa para dialogar com pretos racistas! Benedita da Silva me chama de 'capitão do mato a mando do Bolsonaro'. Vá procurar sua turma! Não existe crise institucional na Palmares!", escreveu Camargo no Twitter. "Crise institucional = cortei a mamata da negrada vitimista e artistas queridinhos da militância."
Benedita, por sua vez, afirmou que "estamos vivendo uma trágica alteração do papel das instituições públicas e também do papel dos gestores" na abertura da audiência.
"Estamos pedindo que o senhor Sérgio Camargo não destrua aquilo que ele nunca deu uma contribuição para que existisse", disse a deputada. "São inúmeros agravos e denúncias em relação à Fundação Cultural Palmares -da saída de diretores, perda de estrutura e da paralisia em políticas públicas da valorização, da promoção e fomento da cultura afro-brasileira."
Segundo José Hilton Santos Almeida, presidente da Fundação Cultural Palmares durante o governo Dilma Rousseff, a instituição não tinha braços "para atender as demandas artísticas e culturais dos 120 milhões de brasileiros negros" mesmo antes de Camargo na presidência.
"Nós nunca tivemos um orçamento condizente com essa demanda, nunca tivemos um quadro de pessoal, de servidores, que pudesse dar conta. Com o Sérgio [Camargo], essas coisas se agravam."
Na última terça-feira (1º) , Camargo anunciou que todos os arquivos atrelados ao guerrilheiro comunista Carlos Marighella seriam excluídos do acervo da instituição. O anúncio foi feito nas suas redes sociais e ocorre em meio a uma série de atos de censura promovidos pela fundação.
No Twitter, Mario Frias, secretário da Cultura, comemorou o anúncio de Camargo e usou alguns emojis para celebrar.
Funcionários e pesquisadores do órgão acusaram Camargo de negar a importância de personalidades que se projetaram como símbolos da esquerda, caso de Marighella, ícone da luta armada contra a ditadura militar.
Na época, profissionais da instituição disseram à ao jornal Folha de S.Paulo, sob anonimato, que esse tipo de prática tem atingido ainda outros servidores ligados à Secretaria Especial da Cultura no governo Bolsonaro.
Quando foi nomeado, ainda na gestão de Roberto Alvim, militantes do movimento negro fizeram um protesto na Fundação Palmares. Os manifestantes entraram no prédio e subiram até a sede da fundação. Após uma ocupação simbólica na antessala do gabinete da presidência e em outros espaços do órgão, os manifestantes deixaram o local sem serem recebidos pelo presidente.
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