Depois de um mês de férias coletivas, alguns dos funcionários do Centro Cultural Sesc Glória, no Centro de Vitória, acabaram sendo demitidos em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. O Regional ES do Serviço Social do Comércio (Sesc) confirmou o desligamento de alguns colaboradores e conselheiros sem especificar quantos e quais cargos , em nota enviada à reportagem, e justifica a atitude expondo queda na receita.
"Passamos por um momento muito delicado de queda de receita e o Centro Cultural Sesc Glória, como as demais unidades do Sesc ES, está revendo os custos para se adequar à nova realidade", diz, trecho da resposta enviada ao Divirta-se.
"Apesar de nossos esforços, sentimos o impacto da crise e tornou-se inviável a conservação do quadro completo de colaboradores neste período", continua.
As demissões não foram bem vistas nas redes sociais. "Se a cultura é o que tem salvado a galera na quarentena, por que demitir? Será que não sabem usar o espaço de forma interativa? Será que o gestor é tão analógico que não consegue vislumbrar um forma de utilização do espaço? Por favor, mais respeito aos envolvidos no fazer cultural", publicou Daniela Torres da Silva.
Junto com a notícia das demissões, circula nas redes sociais a informação de que o Sesc Glória pode não retomar suas atividades em 2021. "Estão destruindo a nossa combalida cultura. Irresponsáveis", comentou o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Vila Velha-IHGVV, Manoel Góes, ao republicar a carta do Conselho Municipal de Política Cultural de Vitória, que toca no assunto.
O documento foi publicado pelo presidente do conselho, Sebastião Ribeiro Filho. Nele, o órgão fala do receio da suspensão das atividades no ano que vem, seguido do pedido para que o Sesc Glória se mantenha ativo.
"Em nome do Conselho Municipal de Política Cultural de Vitória, pedimos à direção do SESC-ES que sejam retomadas as atividades culturais do CENTRO CULTURAL SESC GLÓRIA, nos colocando à disposição para mobilizar governantes, parlamentares e a sociedade civil para a permanência das atividades naquele Espaço Cultural, que é essencial para a Cultura de nosso Estado", escreveu.
Segundo a coordenadora Cultural do Sesc Glória, Rita Sarmento, "de forma nenhuma foi pensado em parar as atividades do Sesc em 2021". "Estamos afastados por conta do centro cultural não poder estar funcionando, devido à pandemia do coronavírus. Em nenhum momento existiu algum comunicado de que não vamos mais funcionar. É um momento difícil - este da pandemia - e trabalhamos com a certeza de que voltaremos com as atividades assim que for permitido reabrir. Vamos nos reorganizar para o ano de 2021, inclusive para este ano ainda", explicou.
Questionada sobre o Sesc Glória não promover atividades online enquanto está fechado, como acontece com o Sesc SP, Rita explicou que seria necessária a presença de funcionários no local para o fechamento de contratos e prover estrutura para as transmissões. "Estamos afastados, impossibilitados de trabalhar. Este é um equipamento que depende de contratação dos artistas. Neste momento em que estamos afastados, não temos como arcar com este trabalho, pois ele precisa de gente lá no Sesc", conta.
Rita contou que a ideia é que realização destas transmissões aconteça quando os funcionários puderem voltar ao espaço. "Não digo oferecermos apenas lives, mas cursos pela internet. Vamos ter que nos estruturar. Mas, para voltarmos às atividades com o conteúdo online, a gente tem que estar lá".
Ela finaliza falando do trabalho que os espera quando a pandemia acabar. "Agora ficamos com uma equipe menor e vamos nos desdobrar para manter aquilo. Queremos voltar com mais força, mostrando que a cultura é necessária".
Outras unidades da entidade pelo Brasil já tiveram que demitir e até tomar medidas mais drásticas, como dispensar em sua totalidade os funcionários e terceirizados. Um dos casos é o do Sesc Mineiro de Grussaí, no Rio. Lá, 700 empregados foram demitidos, segundo informações de O Milênio.
No Distrito Federal, cinco unidades do Sesc também correm risco de terem que ser fechadas. Se o cenário se concretizar, 800 postos de trabalho podem ter que ser congelados, segundo informações publicadas pelo portal Brasília Capital.
O Sesc é mantido com recursos repassados por empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Em contrapartida, beneficia os trabalhadores desses setores, suas famílias e sociedade civil promovendo ações educacionais, de saúde, cultura, lazer e assistência, como acontece com os eventos e espetáculos sediados pelo Sesc Glória.
Estes recursos tiveram uma redução após a publicação da Medida Provisória 932/20, em março deste ano, que foi suspensa na última sexta-feira (8) pela desembargadora Ângela Maria Catão Alves, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Ela reduz pela metade, de 1º de abril a 30 de junho, as contribuições que são recolhidas pelas empresas para financiar o Sistema S - Sescoop (setor de cooperativas), Sesi e Senai (indústria), Sesc e Senac (comércio), Sest e Senat (transporte) e Senar (rural).
O corte nas contribuições ao Sistema S faz parte de um conjunto de medidas anunciadas pelo governo federal para atenuar os impactos da pandemia de Covid-19 na economia do País. O Sesc ES não repassou a reportagem o montante em dinheiro cortado pelo governo federal.
Na época do anúncio da MP, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que a queda na arrecadação provocaria o fechamento de 265 unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
O comércio está sendo afetado duramente e sente os impactos da redução nas contribuições compulsórias para o Sistema S, medidas adotadas pelo Poder Público que impactam diretamente na atuação do Sesc, corrobora, outro trecho da nota à que A GAZETA teve acesso.
No Distrito Federal, cinco unidades do Sesc também correm risco de terem que ser fechadas em decorrência de uma Medida Provisória já revogada que autorizada corte de 50% no valor dos repasses por parte dos financiadores da entidade. Se o cenário se concretizar, 800 postos de trabalho podem ter que ser congelados, segundo informações publicadas pelo portal Brasília Capital.
Leia a nota na íntegra enviada pelo Regional ES do Sesc à reportagem:
"O Regional ES do Serviço Social do Comércio (Sesc) tem vivenciado os desafios impostos pela crise gerada devido à pandemia provocada pelo COVID-19, assim como os demais setores da economia no país.
O comércio está sendo afetado duramente e sente os impactos da redução nas contribuições compulsórias para o Sistema S, medidas adotadas pelo Poder Público que impactam diretamente na atuação do Sesc.
Passamos por um momento muito delicado de queda de receita e o Centro Cultural Sesc Glória, como as demais unidades do Sesc ES, está revendo os custos para se adequar à nova realidade.
Nossa expectativa, primeiramente, é manter este equipamento cultural tão importante para a cultura e para a cidade de Vitória.
Apesar de nossos esforços, sentimos o impacto da crise e tornou-se inviável a conservação do quadro completo de colaboradores neste período.
Apesar das circunstâncias, aguardamos dias melhores."
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta